A análise é feita com base na última pesquisa Datafolha pelo próprio Diretor do instituto, Mauro Paulino:
"... havia eleitores com vontade de votar em Lula ou tendendo a votar em Lula, mas que já não votavam porque achavam que ele não poderia concorrer. A partir do registro, da concretização do registro da candidatura, esses eleitores voltaram pro Lula e atingem agora um patamar próximo ao que ele tinha no passado, de 37 pontos percentuais." A entrevista foi concedida ao jornalista Kennedy Alencar, em seu programa, "A política como ela é". O trecho transcrito abaixo está disponível na entrevista a partir dos 27 minutos e 27 segundos:
Kennedy Alencar: eu tinha perguntado sobre o que, na tua opinião, explica essa força do Lula. Ele está numa cela, em Curitiba, ele está condenado, ele enfrentou a Lava Jato. Por que, mesmo assim, depois desse Calvário todo, ele atingiu essa marca de 39% no DataFolha? Mauro Paulino: é interessante ver na pesquisa espontânea, que é comparável com anterior, que essa taxa do Lula, saiu dos brancos e nulos. Então havia eleitores com vontade de votar em Lula ou tendendo a votar em Lula, mas que já não votavam porque achavam que ele não poderia concorrer. A partir do registro, da concretização do registro da candidatura, esses eleitores voltaram pro Lula e atingem agora um patamar próximo ao que ele tinha no passado, de 37 pontos percentuais. Kennedy Alencar: Por quê? Mauro Paulino: Houve um momento importante na política brasileira que foi o momento em que Aécio sofreu as acusações. Nesse momento, grande parte dos eleitores, da população percebeu aquelas acusações muito centradas no PT não eram apenas responsabilidade do PT, eram responsabilidade também de todos os partidos. Kennedy Alencar: que é a delação da JBS em Maio de 2017. Mauro Paulino: Isso. Foi muito emblemático isso e a partir do momento em que todos estão envolvidos, aqueles que passaram pelo governo Lula e identificam melhoras na vida naquele período e relacionam isso diretamente à atuação do Lula passam a ter esperança de que e ele possa repetir aquilo.
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Você já viu aqueles memes que terminam com a frase: "se não estiver interessado, não atrapalhe o negócio dos outros"? Pois é. Está na hora de alguém que estiver próximo a Jaques Wagner, neste momento, fazer a ele esse encarecido pedido.
Ele se empenhou com tanto afinco para que o PT apoiasse Ciro Gomes, desistindo da candidatura de Lula, que logo veio a dúvida se o nome de Wagner também estaria no SPC.
Só isso explica ver sua defesa insistente de Ciro como a salvação da lavoura. Talvez seja o caso de alguém também avisar a Wagner, que é candidato ao Senado pela Bahia, que nome no SPC não impede diplomação de eleito. Ele pode ficar tranquilo.
Malgrado sua inadimplência política, Wagner segue disparando sua metralhadora de tiros pela culatra. Em matéria no jornal Valor (20/8), intitulada "Wagner questiona 'substituto' de Lula", diz o ex-ministro:
"A mim me incomoda ser o substituto imposto por uma farsa. Por isso, defendi que a gente não deveria ter substituto, pra mim a gente levava a candidatura dele com outro partido".
E segue o raciocínio do Serviço de Proteção ao Ciro:
"A gente diz o tempo todo que [a prisão de Lula] é uma farsa, aí vai botar alguém pra fazer o jogo?... "se o Lula fosse interditado, a gente apoiaria alguém mais próximo do nosso campo de ideias. Hoje seria o Ciro Gomes, por isso saiu aquela história de que eu seria vice do Ciro."
Ou seja, se é para ser uma farsa, nada melhor do que o PT apoiar Ciro Gomes. Se é pra fingir, é bom fingir pra valer, com gosto.
Tricotando para Caras
Wagner não é um oportunista. Nunca foi. Seu papel na campanha está mais para algo que não está dicionarizado, mas que poderíamos chamar de "inoportunista".
O oportunista é aquele que diz: "se não pode vencê-los, una-se a eles". O inoportunista é uma inovação. Seu lema: "se não pode vencê-los, atrapalhe-os".
Talvez o problema de Wagner ser favoritíssimo em sua campanha ao Senado é que, ao invés de estar preocupado em consolidar seus votos, ele prefere tricotar sobre uma campanha nacional já devidamente registrada, a de Lula, sobre a qual demonstra que não tem mais nada a dizer.
Pior: o faz com a desenvoltura de quem parece estar falando para a revista Caras. A frase mais constrangedora da entrevista de Wagner ao Valor é a de que Haddad e Manuela "formam disparado a chapa mais glamour".
Que coisa mais fofa! Para bom entendedor, a alfinetada pode ser traduzida assim: Haddad e Manuela precisam mostrar que não são apenas dois rostinhos bonitos. Nada como alguém com toda essa experiência política para politizar a campanha em alto nível.
Se eleição sem Lula é fraude, deve-se participar dela?
Justiça seja feita, apesar das plumas, paetês e alfinetes, Wagner coloca uma questão de fundo. Se o PT diz que eleição sem Lula é fraude, por que participar dela? Excelente pergunta. Pena que o próprio Wagner tenha dado uma resposta das mais vexatórias. Uma resposta avestruzada, aquela que só esconde a cabeça de chapa.
De fato, o PT diz que "eleição sem Lula é fraude" em manifesto com milhares de assinaturas. Mas, afinal, o que se faz no boxe quando se recebe um golpe abaixo da linha de cintura, mas o juiz ignora o agressor? O PT quer levantar e continuar a luta. Wagner quer jogar a toalha. O que se faz quando, em uma partida, o juiz expulsa injustamente seu principal jogador? Para o PT, segue o jogo, com mais garra do que nunca. Wagner quer tirar o time de campo e apoiar outra equipe.
Em 1930, em meio a campanhas que eram reconhecidas pela fraude, o Partido Comunista do Brasil lançou Minervino de Oliveira, operário marmorista, não para legitimar o pleito, mas porque os brasileiros precisavam ver algo diferente, popular e de esquerda em uma eleição que parecia, mais uma vez, ser apenas a repetição de outras tantas - parecia, mas não foi. Eleições nunca são favas contadas.
Na ditadura, mesmo sob eleições tuteladas, houve quem achasse que ainda valia a pena votar na oposição, mesmo sendo uma oposição meia boca - o MDB "autêntico". As eleições de 1974 abalaram a ditadura. Mostraram que os ventos estavam virando. A oposição elegeu 16 senadores em 22 dos estados que existiam naquela época.
Anos antes, alguns parlamentares e dirigentes do MDB, desencantados com o massacre eleitoral que a Arena impôs nas primeiras eleições debaixo de ditadura, cogitaram até dissolver o partido, pois se sentiam apenas legitimando o regime. Mas o partido persistiu.
Quando 1974 chegou, um grupo de "autênticos" lançou Ulysses Guimarães como anticandidato. Barbosa Lima Sobrinho era seu vice. Pois é, faltou um rostinho bonito. Mas a ideia era que eles fossem inscritos, criticassem abertamente a ditadura, clamassem pelo fim dos atos institucionais, propusessem anistia, exigissem liberdades democráticas e a garantia dos direitos humanos, o voto direto para presidente etc e, ao final, renunciassem.
Ulysses só não cumpriu o último ponto do roteiro combinado. Foi até o fim e não retirou sua candidatura, recebendo apenas 76 votos e sendo derrotado por Ernesto Geisel, eleito ainda com uma esmagadora maioria de 400 votos da Arena, herança da eleição anterior. Vinte e um deputados do MDB se recusaram a votar e protestaram contra a farsa das eleições indiretas em um colégio eleitoral manietado pela ditadura.
Nenhuma das duas posições assumidas pela oposição legitimou Geisel. Há mais de uma forma de se combater eleições tuteladas e fraudadas, repletas de casuísmos. Pode-se parar no meio do caminho ou ir até o fim. As duas formas são válidas, legítimas.
Existe uma diferença óbvia entre quem entra em campo, joga o jogo e denuncia farsas e, de outro, quem faz da farsa seu principal jogo. Participar de um processo denunciando fraudes não significa, de forma alguma, legitimar essas mesmas fraudes.
A pergunta que se deve fazer é qual a melhor maneira de obrigar o arbítrio a se desnudar e, assim, conscientizar o maior número de pessoas possível sobre o que está acontecendo.
Neste momento, a melhor forma de o PT desnudar o arbítrio é usar todos os espaços e mecanismos democráticos à disposição, é botar a boca no trombone, é escalar seus melhores nomes para a campanha - Lula, enquanto for possível, Haddad e Manuela, como seus vices e porta-vozes.
Colocar a viola no saco e dar de ombros, fazer beicinho, fingir que não se está nem aí, entre outras veleidades, é tudo o que os outros querem - os outros incluindo Ciro. Jaques Wagner sabe muito bem disso. Se ele de fato não gosta de farsas, é bom que não participe de uma delas.
(*) Antonio Lassance é cientista político.
O Brasil precisa de uma opinião pública melhor informada, atenta e democrática.
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A desigualdade extrema criou uma aristocracia encastelada e armada, que vive de forma cada vez menos produtiva e mais fisiológica. O capital tem se tornado, cada vez mais, "capital fisiológico".
Imersa em uma ilha de sonhos, essa elite vive um conto de fadas rotineiramente assombrado pelas monstruosidades de um mundo de pobreza e degradação humana e ambiental.
Matthew Stewart fala como o apartheid que se tornou a marca de vários países lança a expectativa de um futuro sombrio sobre todos nós.
O vídeo mostra a importância de se desconcentrar a riqueza, desarmar as pessoas e garantir igualdade de condições para que ninguém, rico ou pobre, seja movido pelo desespero.
"Ao contrário do mito popular, a mobilidade econômica na terra das oportunidades não é alta e está declinando."
É um caminho de estratificação de classes, crescente desigualdade.
E as conseqüências disso são mais potencialmente prejudiciais do que eu acho que a maioria das pessoas aprecia.
PAUL SOLMAN:
Em uma provocativa matéria de capa da revista "Atlantic", "O nascimento de uma nova aristocracia", o autor e filósofo Matthew Stewart argumenta que a crescente divisão de classes é desestabilizadora para a nossa sociedade.
MATEUS STEWART:
Então, acontece que a concentração de riqueza nos Estados Unidos realmente incide sobre os primeiros 0,1%, e não nos primeiros 1%.
Mas isso não significa que todos abaixo deles tenham perdido dinheiro.
Na verdade, apenas os 90% inferiores perderam.
Então há esse grupo no meio, os 9,9%, que conseguiu manter seu padrão.
Eles desempenham um papel muito importante, por um lado, na direção da economia,
Por outro lado, basicamente, na criação de barreiras que impedem as pessoas de baixo de viver o sonho americano.
PAUL SOLMAN: Então, quanto de riqueza as pessoas dos 9,9% têm?
MATTHEW STEWART: Agora, você precisa de no mínimo uns US$ 1,2 milhão para chegar aos 9,9%.
E a mediana está em torno de US$ 2,4 milhões.
PAUL SOLMAN: Valor líquido, isso?
MATTHEW STEWART: Sim, melhor dizendo.
Isso tudo é patrimônio líquido.
E inclui todas as formas de ativos.
Então isso incluiria casas.
Nos números que vi, também inclui coisas como carros.
É muito importante entender que nossa riqueza não é apenas financeira.
Nós, os 9,9%, todos desfrutamos de uma saúde melhor.
Nós tendemos a viver em melhores bairros, o que significa que temos menos crimes para lidar.
Nós temos uma educação melhor.
Então, todas essas formas não financeiras de riqueza acabam se tornando cruciais.
Elas não apenas nos tornam capazes de gerar mais riqueza econômica, mas também de consolidar nossa posição.
Podemos então transferir isso para nossos filhos.
PAUL SOLMAN: Obviamente não é bom para as pessoas que estão presas embaixo, mas seu argumento é: também não é bom para pessoas que têm a sorte de estar acima.
MATTHEW STEWART: Sim, isso mesmo, porque, quando as classes se separam muito, as pessoas dos estratos superiores precisam trabalhar sempre mais para manter sua posição.
E eles têm mais chance de cair se cometerem um erro.
Então eles investem mais em preservar sua posição.
E eu não acho que tenhamos notado como isso se ramifica em toda a sociedade
Isso nos encaixa em um lugar, desenha linhas de batalha, cria desconfiança.
PAUL SOLMAN: E o que está levando a isso?
MATTHEW STEWART: A causa fundamental é algo que todos nós conhecemos.
Todos nós conhecemos a história da crescente desigualdade.
Isso cria um tipo de rigidez, uma instabilidade.
Também obscurece nossa visão, tira nossa razão, ficamos sem uma base comum para nossas discussões
A desigualdade se retroalimenta em algum grau.
Então, quanto maior a concentração de riqueza, mais as pessoas com essa riqueza podem usá-la para consolidar sua posição, investindo em formas não financeiras de riqueza.
PAUL SOLMAN: Eu ouvi isso aqui como "capital transacional".
MATEUS STEWART: Também pode ser apenas "capital fisiológico" em certo sentido.
Então, verifica-se que não só os mais ricos estão ficando mais saudáveis, mas as pessoas na parte inferior os últimos decís estão realmente ficando menos saudáveis em muitos aspectos.
Assim, por exemplo, brancos de meia-idade com até o ensino médio tiveram sua expectativa de vida diminuída.
PAUL SOLMAN: Parte do que está conduzindo a isso é algo que você e outros chamam de acasalamento seletivo.
MATTHEW STEWART: Então, o acasalamento seletivo é justamente quando se casa com alguém assemelhado.
Nos últimos 50 anos, temos visto um aumento significativo nesse tipo de padrão de casamento.
Existem alguns estudos que sugerem que cerca de um terço do crescimento da concentração de riqueza é devido a decisões relacionadas com casamentos seletivos, essencialmente.
PAUL SOLMAN: Assim como nos velhos tempos, famílias nobres, reis, rainhas eles se casavam entre si para consolidar seu poder e sua riqueza.
MATEUS STEWART: Bem, isso me lembra Jane Austen, para ser honesta, porque estamos voltando para um mundo em que os indivíduos procuram parceiros de forma obsessiva.
Eles não conseguem encontrar o amor verdadeiro em alguém que tenha o status social adequado.
O benefício que você obtém do status social correspondente é tremendo, e o preço que você paga por não conseguir fazer isso, por não conseguir encontrar um companheiro de alto status subiu.
Subiu drasticamente.
Se você é de baixo status e se casa com um parceiro de baixo status, o casamento é realmente mais difícil.
É mais difícil porque você está trabalhando mais, provavelmente, ou você tem riscos maiores, maior estresse.
Você tem pior saúde.
E, consequentemente, você, estatisticamente, tem muito menos probabilidade de ter um lar estável.
PAUL SOLMAN: Então, o que você quer que os 9,9% façam?
MATTHEW STEWART: Temos que começar a pensar em como podemos viver em comunidades integradas que estão abertas a todos, onde a geografia não é uma barreira econômica e de classe.
Nossa geografia está nos matando.
Estamos montando um sistema onde concentramos recursos educacionais, as escolas em um particular área.
Nós concentramos poder econômico.
PAUL SOLMAN: É por isso que as pessoas se mudam para áreas como o local onde você mora, Brookline, Massachusetts, que tem esse ótimo sistema educacional, certo?
MATTHEW STEWART: Sim.
É ótimo.
Temos um sistema quase privado de educação que chamamos público.
Certo?
Eu me mudo para Brookline, mando meus filhos para escolas públicas, são ótimas escolas.
É por isso que você se muda para lá.
E você também pode.
Você apenas tem que comprar uma casa que vale US $ 2 milhões.
Agora, isso é um erro colossal, colossal.
Na história dos Estados Unidos, a educação pública era absolutamente essencial na construção da classe média.
Foi assim que conseguimos a economia produtiva em que todos participam e tivemos um grau razoável de estabilidade.
Estamos agora montando um sistema onde nós recebemos a educação pela qual você paga.
E isso significa que você recebe um monte de cidadãos sem instrução.
E isso é uma receita para o desastre.
PAUL SOLMAN: Eu acho que é o mais difícil para alguém como eu ou pessoas que nos assistem.
O que estamos fazendo é o que é absolutamente natural para nós, isto é, investir em nossas crianças, mudando-se para um bairro com uma boa escola para nossos filhos ou netos.
Você não quer que eu pare de fazer isso, certo?
MATEUS STEWART: Só porque nossas ações individuais são inocentes quando olhamos para elas muito estreitamente, isso não significa que tudo vai dar certo para o melhor.
Eu morava no México, morei no Reino Unido por vários anos.
Eu vi versões deste processo acontecendo.
Todo mundo envolvido é legal.
Mas, no final do dia, eles participam dessa coisa que leva você a um ponto onde você tem uma classe distinta de pessoas maravilhosas rodeadas por muitas outras pessoas muito infelizes com isso.
Paul Solman: E as pessoas nessa classe distinta, pelo menos em lugares como o México, eles têm pistoleiros reais em suas casas grandes e extravagantes.
Certo?
MATEUS STEWART: Certo.
E há uma progressão natural de comunidades fechadas para comunidades armadas e fechadas.
E estamos meio que entrando nisso agora.
E se continuarmos seguindo esse caminho, sim, teremos as comunidades armadas e fechadas.
E nenhum de nós terá feito nada de errado.
Mas é onde nós estaremos.
O artigo completo de Stewart está publicado na revista Atlantic.