28 abril 2015

O primeiro condenado à morte no Brasil republicano



Com o pulso direito algemado ao de outro militante dentro de um jipe não identificado, o jovem potiguar Theodomiro Romeiro dos Santos sacou o revólver calibre 38 que estava escondido em sua pasta preta e, com a mão esquerda livre, disparou contra os agentes [...] 

A última execução do tipo havia sido registrada em 1876. Atualmente, a pena capital ainda é prevista na Constituição brasileira, mas somente para crimes militares cometidos em tempos de guerra.

Leia a matéria do jornalista Luís Guilherme Barrucho @luisbarrucho para a BBC Brasil.



 
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25 abril 2015

Cocktails for two

Coleman Hawkins #Jazz



Recorded at New York, December 1946.

Coleman Randolph Hawkins (November 21, 1904 - May 19, 1969), nicknamed Hawk and "Bean", was a jazz musician and one of the great saxophonists of all times


Listen to the music (on another window).



 
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23 abril 2015

A vida e o Direito: breve manual de instruções

Um guia breve com ideias essenciais ligadas à vida e ao Direito, conforme Luís Roberto Barroso,  ministro do STF (*).


I. Introdução

Eu poderia gastar um longo tempo descrevendo todos os sentimentos bons que vieram ao meu espírito ao ser escolhido patrono de uma turma extraordinária como a de vocês. Mas nós somos – vocês e eu – militantes da revolução da brevidade. Acreditamos na utopia de que em algum lugar do futuro juristas falarão menos, escreverão menos e não serão tão apaixonados pela própria voz.

Por isso, em lugar de muitas palavras, basta que vejam o brilho dos meus olhos e sintam a emoção genuína da minha voz. E ninguém terá dúvida da felicidade imensa que me proporcionaram. Celebramos esta noite, nessa despedida provisória, o pacto que unirá nossas vidas para sempre, selado pelos valores que compartilhamos.

É lugar comum dizer-se que a vida vem sem manual de instruções. Porém, não resisti à tentação – mais que isso, à ilimitada pretensão – de sanar essa omissão. Relevem a insensatez. Ela é fruto do meu afeto. Por certo, ninguém vive a vida dos outros. Cada um descobre, ao longo do caminho, as suas próprias verdades. Vai aqui, ainda assim, no curto espaço de tempo que me impus, um guia breve com ideias essenciais ligadas à vida e ao Direito.


II. A regra nº 1

No nosso primeiro dia de aula eu lhes narrei o multicitado "caso do arremesso de anão". Como se lembrarão, em uma localidade próxima a Paris, uma casa noturna realizava um evento, um torneio no qual os participantes procuravam atirar um anão, um deficiente físico de baixa altura, à maior distância possível. O vencedor levava o grande prêmio da noite. Compreensivelmente horrorizado com a prática, o Prefeito Municipal interditou a atividade.

Após recursos, idas e vindas, o Conselho de Estado francês confirmou a proibição. Na ocasião, dizia-lhes eu, o Conselho afirmou que se aquele pobre homem abria mão de sua dignidade humana, deixando-se arremessar como se fora um objeto e não um sujeito de direitos, cabia ao Estado intervir para restabelecer a sua dignidade perdida. Em meio ao assentimento geral, eu observava que a história não havia terminado ainda.

E em seguida, contava que o anão recorrera em todas as instâncias possíveis, chegando até mesmo à Comissão de Direitos Humanos da ONU, procurando reverter a proibição. Sustentava ele que não se sentia – o trocadilho é inevitável – diminuído com aquela prática. Pelo contrário.

Pela primeira vez em toda a sua vida ele se sentia realizado. Tinha um emprego, amigos, ganhava salário e gorjetas, e nunca fora tão feliz. A decisão do Conselho o obrigava a voltar para o mundo onde vivia esquecido e invisível.

Após eu narrar a segunda parte da história, todos nos sentíamos divididos em relação a qual seria a solução correta. E ali, naquele primeiro encontro, nós estabelecemos que para quem escolhia viver no mundo do Direito esta era a regra nº 1: nunca forme uma opinião sem antes ouvir os dois lados.

III. A regra nº 2

Nós vivemos em um mundo complexo e plural. Como bem ilustra o nosso exemplo anterior, cada um é feliz à sua maneira. A vida pode ser vista de múltiplos pontos de observação. Narro-lhes uma história que li recentemente e que considero uma boa alegoria. Dois amigos estão sentados em um bar no Alaska, tomando uma cerveja. Começam, como previsível, conversando sobre mulheres. Depois falam de esportes diversos. E na medida em que a cerveja acumulava, passam a falar sobre religião. Um deles é ateu. O outro é um homem religioso. Passam a discutir sobre a existência de Deus. O ateu fala: "Não é que eu nunca tenha tentado acreditar, não. Eu tentei. Ainda recentemente. Eu havia me perdido em uma tempestade de neve em um lugar ermo, comecei a congelar, percebi que ia morrer ali. Aí, me ajoelhei no chão e disse, bem alto: Deus, se você existe, me tire dessa situação, salve a minha vida". Diante de tal depoimento, o religioso disse: “Bom, mas você foi salvo, você está aqui, deveria ter passado a acreditar". E o ateu responde: "Nada disso! Deus não deu nem sinal. A sorte que eu tive é que vinha passando um casal de esquimós. Eles me resgataram, me aqueceram e me mostraram o caminho de volta. É a eles que eu devo a minha vida". Note-se que não há aqui qualquer dúvida quanto aos fatos, apenas sobre como interpretá-los.

Quem está certo? Onde está a verdade? Na frase feliz da escritora Anais Nin, “nós não vemos as coisas como elas são, nós as vemos como nós somos”. Para viver uma vida boa, uma vida completa, cada um deve procurar o bem, o correto e o justo. Mas sem presunção ou arrogância. Sem desconsiderar o outro. 

Aqui a nossa regra nº 2: a verdade não tem dono.

IV. A regra nº 3

Uma vez, um sultão poderoso sonhou que havia perdido todos os dentes. Intrigado, mandou chamar um sábio que o ajudasse a interpretar o sonho. O sábio fez um ar sombrio e exclamou: "Uma desgraça, Majestade. Os dentes perdidos significam que Vossa Alteza irá assistir a morte de todos os seus parentes". Extremamente contrariado, o Sultão mandou aplicar cem chibatadas no sábio agourento. Em seguida, mandou chamar outro sábio. Este, ao ouvir o sonho, falou com voz excitada: "Vejo uma grande felicidade, Majestade. Vossa Alteza irá viver mais do que todos os seus parentes". Exultante com a revelação, o Sultão mandou pagar ao sábio cem moedas de ouro. Um cortesão que assistira a ambas as cenas vira-se para o segundo sábio e lhe diz: "Não consigo entender. Sua resposta foi exatamente igual à do primeiro sábio. O outro foi castigado e você foi premiado". Ao que o segundo sábio respondeu: "a diferença não está no que eu falei, mas em como falei".

Pois assim é. Na vida, não basta ter razão: é preciso saber levar. É possível embrulhar os nossos pontos de vista em papel áspero e com espinhos, revelando indiferença aos sentimentos alheios. Mas, sem qualquer sacrifício do seu conteúdo, é possível, também, embalá-los em papel suave, que revele consideração pelo outro. 

Esta a nossa regra nº 3: o modo como se fala faz toda a diferença.

V. A regra nº 4

Nós vivemos tempos difíceis. É impossível esconder a sensação de que há espaços na vida brasileira em que o mal venceu. Domínios em que não parecem fazer sentido noções como patriotismo, idealismo ou respeito ao próximo. Mas a história da humanidade demonstra o contrário. O processo civilizatório segue o seu curso como um rio subterrâneo, impulsionado pela energia positiva que vem desde o início dos tempos. Uma história que nos trouxe de um mundo primitivo de aspereza e brutalidade à era dos direitos humanos. É o bem que vence no final. Se não acabou bem, é porque não chegou ao fim. O fato de acontecerem tantas coisas tristes e erradas não nos dispensa de procurarmos agir com integridade e correção. Estes não são valores instrumentais, mas fins em si mesmos. São requisitos para uma vida boa. Portanto, independentemente do que estiver acontecendo à sua volta, faça o melhor papel que puder. A virtude não precisa de plateia, de aplauso ou de reconhecimento. A virtude é a sua própria recompensa. 

Eis a nossa regra nº 4: seja bom e correto mesmo quando ninguém estiver olhando.

VI. A regra nº 5

Em uma de suas fábulas, Esopo conta a história de um galo que após intensa disputa derrotou o oponente, tornando-se o rei do galinheiro. O galo vencido, dignamente, preparou-se para deixar o terreiro. O vencedor, vaidoso, subiu ao ponto mais alto do telhado e pôs-se a cantar aos ventos a sua vitória. Chamou a atenção de uma águia, que arrebatou-o em vôo rasante, pondo fim ao seu triunfo e à sua vida. E, assim, o galo aparentemente vencido reinou discretamente, por muito tempo. A moral dessa história, como próprio das fábulas, é bem simples: devemos ser altivos na derrota e humildes na vitória. Humildade não significa pedir licença para viver a própria vida, mas tão-somente abster-se de se exibir e de ostentar. Ao lado da humildade, há outra virtude que eleva o espírito e traz felicidade: é a gratidão. Mas atenção, a gratidão é presa fácil do tempo: tem memória curta (Benjamin Constant) e envelhece depressa (Aristóteles). Portanto, nessa matéria, sejam rápidos no gatilho. Agradecer, de coração, enriquece quem oferece e quem recebe.

Em quase todos os meus discursos de formatura, desde que a vida começou a me oferecer este presente, eu incluo a passagem que se segue, e que é pertinente aqui. "As coisas não caem do céu. É preciso ir buscá-las. Correr atrás, mergulhar fundo, voar alto. Muitas vezes, será necessário voltar ao ponto de partida e começar tudo de novo. As coisas, eu repito, não caem do céu. Mas quando, após haverem empenhado cérebro, nervos e coração, chegarem à vitória final, saboreiem o sucesso gota a gota. Sem medo, sem culpa e em paz. É uma delícia. Sem esquecer, no entanto, que ninguém é bom demais. Que ninguém é bom sozinho. E que, no fundo no fundo, por paradoxal que pareça, as coisas caem mesmo é do céu, e é preciso agradecer".

Esta a nossa regra nº 5: ninguém é bom demais, ninguém é bom sozinho e é preciso agradecer.

VII. Conclusão

Eis então as cláusulas do nosso pacto, nosso pequeno manual de instruções:

1. Nunca forme uma opinião sem ouvir os dois lados;

2. A verdade não tem dono;

3. O modo como se fala faz toda a diferença;

4. Seja bom e correto mesmo quando ninguém estiver olhando;

5. Ninguém é bom demais, ninguém é bom sozinho e é preciso agradecer.

Aqui nos despedimos. Quando meu filho caçula tinha 15 anos e foi passar um semestre em um colégio interno fora, como parte do seu aprendizado de vida, eu dei a ele alguns conselhos. Pai gosta de dar conselho. E como vocês são meus filhos espirituais, peço licença aos pais de vocês para repassá-los textualmente, a cada um, com toda a energia positiva do meu afeto:

(i) Fique vivo;

(ii) Fique inteiro;

(iii) Seja bom-caráter;

(iv) Seja educado; e

(v) Aproveite a vida, com alegria e leveza.

Vão em paz. Sejam abençoados. Façam o mundo melhor. E lembrem-se da advertência inspirada de Disraeli: "A vida é muito curta para ser pequena".


(*) Discurso do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, patrono da turma de 2014 da faculdade de Direito da UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 

Fonte: http://www.migalhas.com.br





 
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21 abril 2015

O presente de grego do governador no aniversário de Brasília





Governador desconhece questões institucionais elementares sobre Brasília e o DF

Pode parecer uma bobagem e é mesmo. O governador do DF, Rodrigo Rollemberg, determinou a adoção de uma nova marca de governo: Governo de Brasília

O que salta aos olhos na nova marca e no discurso do governador é que ele não sabe a diferença entre Distrito Federal, Brasília e plano piloto. Ou, se sabe, não dá a isso a mínima importância.

Disse Rollemberg (em cerimônia no dia 17 deste mês):

“Ao adotar todo o Distrito Federal como Brasília e Brasília como todo o Distrito Federal, estamos resgatando um conceito original e dando um recado muito claro: que queremos, nos próximos anos, fazer com que a população de Ceilândia, de Planaltina, de Brazlândia, de Taguatinga, cada vez mais, tenha acesso às mesmas oportunidades e aos mesmos equipamentos públicos que têm no Plano Piloto”. (fonte: EBC).

Embora dita impessoal, a marca expressa uma ideia pessoal, um conceito do governador. Uma ideia do que "queremos, nos próximos anos, fazer". 

A pretensão logo contradiz o próprio discurso em que Rollemberg diz estar "resgatando um conceito original". Que conceito original? Ceilândia, Planaltina, Brazlândia, Taguatinga e tantas outras que o governador não citou não estavam no plano original da Capital. 

Planaltina (antiga Vila Mestre D'Armas), que era parte da localização inicialmente estabelecida (o 'Quadrilátero Cruls') já pela primeira comissão de demarcação da futura capital, foi deliberadamente deixada bem distante da cidade inaugurada em 1960. 

Alguma razão prática, lógica e de bom senso deve existir para o fato de que coisas diferentes sejam chamadas de Distrito Federal, Brasília e plano piloto. E há mesmo, não importa que até o governador do DF a desconheça ou desmereça.

O plano piloto era, segundo o próprio Lúcio Costa, uma ideia. Uma "simples ideia na minha cabeça" (dizia Lúcio Costa em 1974). O 'plano-piloto' (era assim mesmo, com minúsculas e hífen, que Lúcio Costa escreveu, em 1957, porque plano piloto nunca foi topônimo, i.é., nome de lugar) era e ainda é o projeto de Lúcio Costa vencedor do concurso público aberto para escolher a melhor proposta urbanística para a Capital. Depois, o projeto foi executado e virou  Brasília.

Um plano piloto é aquilo que hoje em dia normalmente se chama pelo apelido de 'plano diretor'. Quando alguém fala que 'mora no plano piloto', embora seja improvável alguém morar em um plano diretor, se entende que a pessoa na verdade abrevia a informação de que mora na região definida pelo Plano Piloto de Brasília, feito pelo arquiteto Lúcio Costa. Entende-se e perdoa-se com justificada razão o dito popular.

Mas quando o governador diz que quer, nas demais cidades, o mesmo que há "no Plano Piloto", mais uma vez, mostra que não está resgatando uma ideia original. Seria melhor Rollemberg inventar outra história - ele que é formado em História pela mesma UnB que eu; fomos veterano e calouro, respectivamente.

Quem olha o croqui de Lúcio Costa, feito às pressas para o concurso de 1957, ou pelo menos a legenda do croqui, vai entender que o plano piloto é a região que vai da Asa Norte e cercanias ao aeroporto; do Setor de Clubes e Eixo Monumental à Rodoferroviária, englobando também a região militar ('dos quartéis', dizia o urbanista), ou seja, o Cruzeiro, e a área que passa pelo  Setor de Indústria e Abastecimento.

A legenda do projeto é elucidativa do que se pode chamar de 'região do plano piloto':



De forma mais ampla, o decreto do GDF (Decreto 10.829, de 1987), que regulamentou a proteção à área tombada, repete o que deveria ser, mas não é, o mantra do governador e seus secretários: o plano piloto é 'a concepção urbana da cidade, conforme definida na planta em escala 1/20.000 e no Memorial Descritivo e respectivas ilustrações que constituem o projeto de autoria do Arquiteto Lúcio Costa, escolhido como vencedor pelo júri internacional do concurso para a construção da nova Capital do Brasil.' (Art. 1°).

O espaço definido pelo plano piloto corresponde 'à área delimitada a Leste pela orla do Lago Paranoá, a Oeste pela Estrada Parque Industrial e Abastecimento - EPIA; ao Sul pelo Córrego Vicente Pires e ao Norte pelo Córrego Bananal, considerada entorno direito dos dois eixos que estruturam o Plano Piloto.' (Art. 1°, § 2°).  


Brasília, marca de fantasia

O que são Brasília e o Distrito Federal? Brasília é a Capital da República. O Distrito Federal é o ente federativo autônomo que abriga a Capital Federal - que se chama Brasília, é bom enfatizar, tal o grau de confusão que o governador 'do Distrito Federal' resolveu fazer de agora em diante, assim que se autoproclamou 'governador de Brasília'.

Quem diz o que é Brasília e o que é o Distrito Federal? O governador do DF acha que é ele, mas eu ainda tenho a impressão de que é, em primeiro lugar, a Constituição da República. Em segundo lugar, é a Lei Orgânica do DF. Mas isso é para quem quer ser mesmo impessoal.

Rollemberg resolveu transformar Brasília em uma marca de fantasia. Da mesma maneira como tem gente que diz, sem qualquer problema, 'vamos ali tomar um guaraná'. No fundo, a gente entende que a pessoa te chama para tomar um refrigerante. Brasília, para Rollemberg e sua equipe, é o 'vamos ali tomar um guaraná'. Virou uma marca de fantasia no meio da Babel.


Tanto faz como tanto fez?

A partir de agora, segundo o governador, tudo é Brasília. Que bacana! Voltamos ao ano de 1967, quando a Constituição da ditadura dizia que 'O Distrito Federal é a Capital da União' (art. 2º). Brasília ali virou mesmo o Distrito Federal.

Rollemberg promete dotar todas as localidades do DF de 'acesso às mesmas oportunidades e aos mesmos equipamentos públicos que têm no Plano Piloto'. Desse jeito, Rollemberg vai superar JK fazendo 55 anos em 4. Se a promessa merece mesmo ser levada a sério, haja dinheiro para se gastar o que se gastou em Brasília durante 55 anos. 

O atual governo do DF e sua equipe talvez não saibam que as pessoas não têm vergonha de dizer que moram no Guará, em Samambaia, Águas Claras, Brazlândia, e que normalmente preferem dizer, de forma ainda mais específica, que moram no Vale do Amanhecer ou no Arapoanga (regiões de Planaltina), no Grande Colorado (em Sobradinho), no Setor O (Ceilândia), no Jardim Mangueiral (S. Sebastião).
   
Lembro-me de dois suíços que vieram em 2014 para a Copa do Mundo e se hospedaram em um hotel no Núcleo Bandeirante. Quando perguntaram por e-mail, lá da Suíça, antes de fazerem a reserva: 'aí é Brasília?' - a resposta foi 'sim, aqui é Brasília'.  Depois, claro, ficaram muito irritados. Eles queriam ter ficado era em Brasília mesmo. 

Certo dia, uma repórter dizia, do alto de um helicóptero, passando informações sobre o trânsito, que estava indo "da Asa Norte em direção ao Plano Piloto". Aí já é demais. Onde vamos parar? No plano piloto é que não é, com certeza.

Se cada um resolver ter uma ideia própria do que é Brasília, o DF e o plano piloto, a confusão tende a ser grande. Com a ajuda do governador, a quizumba tem tudo para ser um pouco maior.


Antonio Lassance,
Doutor em Ciência Política, bacharel e licenciado em História pela Universidade de Brasília, mora no Distrito Federal desde 1969. Morou em Planaltina, Guará, no Setor O da Ceilândia e até em Brasília. Hoje é morador da região do Jardim Botânico. 
















 
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20 abril 2015

Quincy Jones

Big Band Bossa Nova (1962) 




#Jazz #BigBands





Genre: Jazz, Latin
Style: Bossa Nova, Big Band
Year: 1962

Tracklist

# Title                          Writers                           Length
1 "Soul Bossa Nova" Quincy Jones                 2:44
2 "Boogie Stop Shuffle" Charles Mingus                 2:41
3 "Desafinado"         Antônio Carlos Jobim, Newton Mendonça 2:53
4 "Manhã De Carnaval 
       (Morning Of The Carnival)"Luiz Bonfá, Antonio Maria                                                                                                             2:55
5 "Se É Tarde Me Perdoa (Forgive Me If I'm Late)" Ronaldo Boscoli, Carlos Lyra                                                                          4:21
6 "On the Street Where You Live" Frederick Loewe, Alan Jay Lerner 2:32


7 "One Note Samba (Samba De Uma Nota So)" Antônio Carlos Jobim, Newton Mendonça                                                 2:00
8 "Lalo Bossa Nova" Lalo Schifrin                 3:12
9 "Serenata" Leroy Anderson, Mitchell Parish         3:18
10 "Chega de Saudade (No More Blues)" Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes                                                                 5:30

11 "A Taste of Honey" Bobby Scott, Ric Marlow 2:56

Source: Wikipedia.


Performers

  • Alan Raph - Bass trombone
  • Lalo Schifrin - Piano ("He is best known for his film and TV scores, such as the 'Theme from Mission: Impossible' and the Dirty Harry films - Wikipedia)
  • Jim Hall - Guitar
  • Chris White - Bass
  • Rudy Collins - Drums
  • Jack Del Rio - Percussion
  • Carlos Gomez - Percussion
  • Jose Paula - Percussion
  • Recording engineer - Phil Ramone

Soul Bossa Nova is very well know because of Austin Powers' theme song.









 
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"You deserve" (1958)





#Jazz 
Peggy Lee (vocal).
Written By – K. Jackson, R. Roberts
Orchestra Conducted By Jack Marshall

Label: Capitol Records ‎– 15103
Peggy Lee ‎– Things Are Swingin / You Deserve
Tracking side B
Released: 1958
Format: Vinyl, 7", 45 RPM 
Country: US
Genre: Pop
Style: Vocal
Source: Discogs.


Listen (open another window).




 



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19 abril 2015

Voto distrital

Vantagens, desvantagens e a nova bolinha de papel de José Serra 

Sistema político brasileiro é ainda muito fechado, avesso à participação popular, desconectado de um conjunto de responsabilidades e de controles sobre o eleito, com meios de comunicação que são o grande cartel da manipulação e da intolerância, sem falar no financiamento de campanha e na necessidade de democratização interna dos partidos - muitos dos quais são meramente cartoriais e comandados por chefões.


Leia o artigo completo.



 
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Julie London, "About the blues" (1957)





1. Basin Street Blues  03:05
2. I Gotta Right To Sing The Blues  02:58
3. A Nightingale Can Sing The Blues  03:11
4. Get Set For The Blues  02:43
5. Invitation To The Blues  02:51
6. Bye Bye Blues  01:41
7. The Meaning Of The Blues  02:58
8. About The Blues  03:08
9. Sunday Blues  02:56
10. The Blues Is All I Ever Had  02:52
11. Blues In The Night  03:41
12. Bouquet Of Blues  02:58
13. Baby, Baby All The Time  02:25
14. Shadow Woman  02:39
15. The Meaning Of The Blues 02:58
16. Dark  02:38


Ouça as músicas e aprecie.

Listen to the musics and enjoy.


Julie London (1926-2000)

"Julie London [...] was an actress and sultry singer who starred in a number of movies in the 1940s and 1950s before beginning a popular singing career [...]. Known for her wonderful sex appeal throughout her career, even well up into her late 1940s, she had a career most people can only dream of". (IMDB).

About the album (Wikipedia)

 
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Bob Crosby - Last call for you

#Jazz #BigBands




Bob Crosby Orchestra, Last Call for You.  
Recorded in March 3rd, 1942.

Bob Crosby (band leader) and (probably) Max Herman (trumpet), Yank Lawson, Lyman Vunk (tp), Jess Stacy (p), Floyd O'Brien (trombonist), Buddy Morrow (trombonist), Elmer Smithers (trombone); Matty Matlock  (clarinettist, saxophonist, arranger), Doc Rando, Art Mendelsohn (cl,as) Eddie Miller (cl,ts,vcl) Gil Rodin (ts,bar) Nappy Lamare (g,vcl) Bob Haggart (b,arr) Ray Bauduc (d) Phil Moore (arr).
Bob Crosby was Bing Crosby's younger brother. His band continues to perform today.

George Robert "Bob" Crosby (August 23, 1913 – March 9, 1993).



With Judy Garland in the movie Presenting Lily Mars





 
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18 abril 2015

Louis Jordan and His Tympani 5 - Waitin' for The Robert E Lee


#Jazz #BigBands




Haters back off: 

Waiting for the Robert E. Lee is a popular song composed in 1912 by Lewis F. Muir and L. Wolfe Gilbert. The title refers to the steamboat of that name. 
It was featured in the 1927 film The Jazz Singer, and later recorded by Al Jolson. (Wikipedia).


So, it's about a boat, not about general Lee and not on White supremacy, ok?

By the way, Louis Jordan and His Tympani 5 was a big band with African Americans only.


Saxofonist Louis Jordan and His Tympani 5 recorded Waitin' for The Robert E Lee on April 29th 1940.



And by the way again, general Lee surrender to general Grant on April 9, 1865, 150 years ago. 
On the end of the American Civil War: Daily Telegraph.






 
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Glenn Miller, Boulder Buff (1941)

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#Jazz #Big Bands

"Boulder Buff".

By Eugene Novello and Fred Norman (arranger). 

Recorded in May 7th 1941, in RCA Records Studios at Hollywood, California.

Glenn Miller and his Orchestra: Dale McMickle, Johnny Best, Billy May, Ray Anthony, trumpets; Glenn Miller, Jimmy Priddy, Paul Tanner, Frank D'Annolfo, trombones; Wilbur Schwartz, clarinet, alto sax; Hal McIntyre, alto sax; Ernie Caceres, alto sax, baritone sax, clarinet; Tex Beneke, Al Klink, tenor sax; John "Chummy" MacGregor, piano; Jack Lathrop, guitar; Trigger Alpert, bass; Maurice Purtill, drums.

Watch the video to know Miller's Big Band.







Aretha Franklin





Don't Let Me Lose This Dream

If I lose this dream
I don't know what I'm gonna do
If I lose this dream
I'm dreaming about for me and you

If it goes away
I might as well hang it up
'Cause I don't know
If I have the heart or mind
To make it true
Or help it grow
And I only know, I only know, I only know

If I lose this dream
It's goodbye love and happiness, yes
You're the one I need
I don't want a love
That's second best
There've been all of my life
I wanted to do
That made me blue

Help me hold onto this dream
For sometimes dreams often come true
And they all come true, they all come true
For me and you
Wait a minute baby

Don't let me lose this dream
Baby, baby hold on
Don't let me lose my dream, no
Baby, baby be strong

You say that a-you believe that what I say is true
And that I'm the one and only girl for you
Just tell me
That no matter what the people say
You're in my corner all the way
And I won't lose this dream
Baby, baby hold on
Don't let me lose my dream, no
Baby, baby be strong

Don't let me lose this dream
Baby, baby hold on
Don't let me lose, lose my dream
Baby, baby hold on
Don't let me, ooh baby

Source: http://www.vagalume.com.br/aretha-franklin/dont-let-me-lose-this-dream.html


 
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11 abril 2015

Lionel Hampton




Lionel Leo Hampton (April 20, 1908 – August 31, 2002) was an American jazz vibraphonist, pianist, percussionist, bandleader... (Wikipedia)


"One of the most extraordinary musicians of the 20th century and his artistic achievements symbolize the impact that jazz music has had on our culture in the 21st century.
[...]
In 1930, Hampton was called in to a recording session with Armstrong, and during a break Hampton walked over to a vibraphone and started to play. He ended up playing the vibes on one song. The song became a hit; Hampton had introduced a new voice to jazz and he became "King of the Vibes." Source: University of Idaho








Bossa Nova Jazz (1963) 








01
Recado 3:50

02
Bossa Nova York 3:45

03
Sambolero 2:30

04
The Same To You 2:20

05
Some Day 3:40

06
Palhaçada 2:25

07
Estranho 2:40

08
Bossanova Jazz 3:24

09
Uma Nota Sol 2:58

10
Saint Thomas 4:40


Bossa Nova
"Oficialmente a bossa nova começou num dia de agosto de 1958 quando chegou nas lojas de discos brasileiras o 78 rotações de número 14.360 do selo Odeon do cantor João Gilberto com as músicas Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Bim Bom (do próprio cantor). Unanimemente reconhecido como papa do estilo, João tinha acompanhado ao violão um pouco antes a cantora Elizeth Cardoso em duas faixas do também inaugural Canção do Amor Demais (LP exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom & Vinicius) com a célebre batida, sincopada no tempo fraco pelos bateristas. Para desembocar na revolução harmônica sintetizada na voz & violão do baiano nascido em Juazeiro, muitos acordes dissonantes (ironizados na canção manifesto Desafinado, de Tom e Newton Mendonça) foram disparados." 
Source: CliqueMusic.





Lionel Hampton's greatest hit: Flying home.

Listen also Lionel Hampton "Just one of those things" ( Full Album ).

 
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Ella Fitzgerald , "Pure Ella"


 



Pure Ella combines Fitzgerald's 1950 album Ella Sings Gershwin with her 1954 album Songs in a Mellow Mood. (Wikipedia)

Tracklisting: 
"Someone to Watch Over Me" - 3:13
"My One and Only" - 3:13
"But Not for Me" - 3:12
"Looking For a Boy" - 3:06
"I've Got a Crush on You" - 3:13
"How Long Has This Been Going On?" - 3:14
"Maybe" - 3:21
"Soon" - 2:44
"I'm Glad There Is You" (Jimmy Dorsey, Paul Mertz) – 3:10
"What Is There to Say?" (Vernon Duke, Yip Harburg) – 3:22
"People Will Say We're in Love" (Oscar Hammerstein II, Richard Rodgers) – 3:12
"Please Be Kind" (Sammy Cahn, Saul Chaplin) – 3:36
"Until the Real Thing Comes Along" (Cahn, Chaplin, L.E. Freeman, Mann Holiner, Alberta Nichols) – 2:58
"Makin' Whoopee" (Walter Donaldson, Gus Kahn) – 3:07
"Imagination" (Johnny Burke, Jimmy Van Heusen) – 2:38
"Stardust" (Hoagy Carmichael, Mitchell Parish) – 4:03
"My Heart Belongs to Daddy" (Cole Porter) – 2:39
"You Leave Me Breathless" (Ralph Freed, Frederick Hollander) – 3:07
"Baby, What Else Can I Do?" (Walter Hirsch, Ralph Marks) – 3:50

"Nice Work If You Can Get It" (George Gershwin, Ira Gershwin) – 2:38



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Cora Coralina

"Mulher extraordinária, diamante goiano cintilando na solidão."
(Carlos Drummond de Andrade).

Matéria de Andreia Verdélio para a EBC a respeito da poetisa goiana "de vida simples e dura", que morreu há 30 anos (10 de abril de 1985). 



Também em http://agenciabrasil.ebc.com.br/especial/2015-04/cora-coralina


Todas as vidas
Cora Coralina

Vive dentro de mim 
uma cabocla velha 
de mau-olhado, 
acocorada ao pé do borralho, 
olhando pra o fogo. 
Benze quebranto. 
Bota feitiço... 
Ogum. Orixá. 
Macumba, terreiro. 
Ogã, pai-de-santo...

Vive dentro de mim 
a lavadeira do Rio Vermelho, 
Seu cheiro gostoso 
d’água e sabão. 
Rodilha de pano. 
Trouxa de roupa, 
pedra de anil. 
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim 
a mulher cozinheira. 
Pimenta e cebola. 
Quitute bem feito. 
Panela de barro. 
Taipa de lenha. 
Cozinha antiga 
toda pretinha. 
Bem cacheada de picumã. 
Pedra pontuda. 
Cumbuco de coco. 
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim 
a mulher do povo. 
Bem proletária. 
Bem linguaruda, 
desabusada, sem preconceitos, 
de casca-grossa, 
de chinelinha, 
e filharada.

Vive dentro de mim 
a mulher roceira. 
– Enxerto da terra, 
meio casmurra. 
Trabalhadeira. 
Madrugadeira. 
Analfabeta. 
De pé no chão. 
Bem parideira. 
Bem criadeira. 
Seus doze filhos. 
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim 
a mulher da vida. 
Minha irmãzinha... 
tão desprezada, 
tão murmurada... 
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim: 
Na minha vida – 
a vida mera das obscuras.







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"Garrafas ao Mar - a víbora manda lembranças"

As lições de como contar histórias do jornalismo de Joel Silveira e outros mais.

Dirigido pelo repórter Geneton Moraes Neto, o documentário conta a trajetória de um dos maiores repórteres do jornalismo brasileiro.




 
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Tony Bennett - Have A Good Time





Percy Faith Orchestra (1952).
Tony Bennett - Have A Good Time

Percy Faith (April 7, 1908, Toronto, Canada – February 9, 1976, Encino, California).

Visit the official website of legendary singer Tony Bennett. 




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08 abril 2015

Bastou Zelotes chegar para a Zelite achar ideias de Moro "perigosas"

Logo quando a operação Zelotes flagrou grandes figurões da elite brasileira em práticas criminosas, a presunção de inocência resolveu dar o ar da graça.

Leia o artigo completo.




 
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05 abril 2015

Avalon, The Jim Cullum Jazz Band






#Jazz

Clarinetists Dave Bennett and Ron Hockett perform "Avalon" with The Jim Cullum Jazz Band rhythm section at the Landing in San Antonio TX for the Riverwalk Jazz public radio series, 2008.

The Jim Cullum Jazz Band page at Youtube

"Avalon" is a 1920 popular song written by Al Jolson, Buddy DeSylva and Vincent Rose referencing Avalon, California. In the 1930s it became a popular jazz standard. Read more about it


 
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The Rolling Stones - Start Me Up







The song was written by Jagger/ Richards, produced by the Glimmer Twins and features Mick Jagger on lead vocals, Keith Richards and Ronnie Wood on guitars, Charlie Watts on drums and Bill Wyman on bass.


Start Me Up 

If you start me up
If you start me up I'll never stop
If you start me up
If you start me up I'll never stop
I've been running hot
You got me ticking gonna blow my top
If you start me up
If you start me up I'll never stop
Never stop, never stop, never stop

You make a grown man cry (x3)
Spread out the oil, the gasoline
I walk smooth, ride in a mean, mean machine
Start it up

If you start it up
Kick on the starter give it all you got, you got, you got
I can't compete with the riders in the other heats
If you rough it up



The official promo video for the Rolling Stones' 'Start Me Up', directed by Michael Lindsay-Hogg.
Released in 1981, the song was a number one hit.






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02 abril 2015

A batalha da memória contra o esquecimento


A resistência heroica de Rubens Paiva ao golpe de 1964. 

O deputado federal Rubens Paiva (PTB-SP) falava à Rádio Nacional, à Rádio MEC e a uma rede de rádios que tentavam resistir ao golpe e defender a legalidade da permanência do governo de João Goulart.
Golpistas "devem ser repelidos" - ontem, agora e sempre.

Ouça o discurso histórico:




https://clyp.it/3u553bxh



Clique na imagem para ampliar (Fonte: Revista IstoÉ).

 
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01 abril 2015

Zelotes: de onde saiu o nome da operação que revelou mais um episódio do maior escândalo de corrupção do país, a sonegação fiscal


Esquema envolveu o nome de bancos privados, Gerdau e RBS, empresa ligada às organizações Globo.


‘Zelotes’, nome errado para a mãe de todos os escândalos

Alberto Dines, Observatório da Imprensa, 31/03/2015, edição 844.



Ao revelar à sociedade brasileira a designação da nova operação contra as malfeitorias praticadas contra o erário pelos maiores grupos empresariais do país, a Polícia Federal errou na filologia: na linguagem corrente, zelote ou zelota (do grego zelotes, imitador) tem conotação negativa: zelo falso, devoção simulada, tartufo, enganador.

Sob o ponto de vista estritamente histórico, o grupo de judeus que se intitulavam Canaim, Cananeus (século I da Era Comum), eram fervorosos defensores da expulsão dos romanos da Terra Santa. Pagaram por isso. Inclusive o mais célebre de todos. Um dos seus seguidores, conhecido como Simão, o Zelota, fez parte deste grupo.

O termo foi resgatado recentemente por um diligente historiador americano de origem iraniana, Reza Aslan, que coligiu e compactou os mais importantes estudos publicados nos últimos dois séculos sobre os primórdios do cristianismo e produziu o best-seller Zelota, a vida e a época de Jesus de Nazaré (Zahar, 2013).

O alvo da operação policial são as empresas que tentaram eliminar ou diminuir os seus débitos junto ao CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão que funciona como uma espécie de tribunal da Receita Federal). Pagaram fabulosas propinas aos funcionários do órgão para produzir pareceres favoráveis às empresas infratoras e/ou tentaram outras maracutaias.

Quem recebeu a documentação da Polícia Federal e teve o privilégio de revelar o escândalo foi o Estado de S.Paulo, por meio de sua sucursal de Brasília (sexta-feira e sábado, 27 e 28/3, com manchetes na capa). Não fez investigações complementares. Em compensação, publicou tudo. Ou quase.

Ao largo

Considerado o maior escândalo na história da Receita Federal, o prejuízo contabilizado por enquanto é de quase 6 bilhões de reais, mas envolve processos que somam 19 bilhões de reais – quase o dobro do dez bilhões de reais da Operação Lava Jato. Entre as empresas implicadas na malfeitoria estão os bancos Bradesco, Santander, Pactual, BankBoston e Safra, as montadoras Ford e Mitsubishi, o conglomerado-gigante BR Foods (marcas Sadia e Perdigão, entre outras), Light e grupos Gerdau e RBS.

No caso desta última, o Estadão mencionou que se trata de um grupo que opera no ramo das comunicações, omitiu que se trata do terceiro maior do país nesse segmento e importante parceiro da Rede Globo no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Não revelou os títulos dos importantes veículos do conglomerado, porém detalhou os valores da infração, aliás a menor da lista: pagou a propina de 15 milhões reais para obter uma redução de 150 milhões no seu débito. Excelente negócio.

No sábado (28/3), o intrépido Globo não teve outra alternativa senão noticiar a Operação Zelotes (numa distante página da seção de Economia) citando nominalmente alguns infratores. O nome do parceiro da Rede Globo evaporou. Isso acontece quando o tempo está quente. Evidentemente respeitou-se o sobrenome da família que fundou e tem o controle do conglomerado. Afinal, há jornalistas com o mesmo sobrenome e brilhante currículo que nada tem a ver com a Zelotes. Naquela noite o Jornal Nacional, ao noticiar a operação, deu o nome do grupo e a sua filiação à Rede Globo. Mas rapidinho, como convém.

Na Folha de S.Paulo de sábado, igualmente na última página do caderno “Mercado-1” (B-7), há um resumo da operação da PF com o nome dos denunciados inclusive no ramo da comunicação social.

Em dívida com os seus leitores, o Valor Econômico de segunda-feira (30/3) passou ao largo do escândalo. As empresas implicadas agradecem. As que pagam seus compromissos e respeitam a lei devem se sentir lesadas. Isso também acontece.


 
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