21 abril 2013

Este é o nosso Judiciário

O escândalo de corrupção mais bem documentado da história do país até agora não produziu uma única condenação em instância colegiada. 

Ex-governador Arruda continua ficha-limpa mesmo após ter sido flagrado em vídeo recebendo propina.

Acusado de comandar esquema desvio de dinheiro público para enriquecimento pessoal e para a compra de apoio parlamentar, já pensa em se candidatar em 2014.


Justiça lenta pode devolver Arruda à vida pública

Sem condenação em órgão colegiado, ex-governador do DF é ficha-limpa e já aparece em pesquisas eleitorais

Jailton de Carvalho, O Globo, 21/04/2013


Três anos depois de passar 60 dias preso por corrupção e ter a imagem pública devastada por um vídeo em que aparece recebendo uma bolada de dinheiro, o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda ainda pode voltar à vida pública. Até hoje, não há decisão colegiada da Justiça sobre as acusações que pesam contra o ex-governador. Pesquisas encomendadas por partidos locais e por empresários apontam Arruda como um dos favoritos nas eleições para o governo local em 2014. Como não sofreu condenação de órgãos colegiados, nada impede que Arruda se candidate.

Até hoje o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ainda não decidiu se acolhe ou não a denúncia que o Ministério Público Federal demorou dois anos para fazer contra Arruda, o ex-governador Paulo Octávio e mais 36 outros acusados. Em agosto do ano passado, o ministro Arnaldo Esteves, relator do caso, desmembrou a denúncia e abriu prazo para notificar os réus a se manifestar antes de levar as acusações formais à Corte Especial. A expectativa no tribunal é que isso só ocorra em maio. Ou seja, seria apenas o início do processo contra o ex-governador, uma situação que pode se arrastar por anos até a sentença.

- Esse é o nosso Judiciário. No Brasil é assim. É uma resposta cínica, mas é isso que acontece - afirmou David Fleischer, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).

O ex-governador foi acusado de comandar um esquema de desvio de dinheiro público para enriquecimento pessoal e para a compra de apoio parlamentar, o chamado mensalão do DEM. As cenas de corrupção explícita foram filmadas pelo ex-secretário de Assuntos Institucionais, o delegado Durval Barbosa. Em meio a série de arrecadação de distribuição de propina, documentada em detalhes por Barbosa, o Ministério Público Federal chegou a cogitar a possibilidade de pedir intervenção do DF. Foi o escândalo mais rumoroso da capital.

Mas, com a demora de resultados práticos das investigações, Arruda pode voltar à cena política com força total. Pesquisas feitas pelos institutos Exata e do Dados, entre dezembro de 2012 e janeiro deste ano, apontam que Arruda seria um dos candidatos mais fortes ao governo local. Ele aparece com volume de intenções de voto igual ou até maior que o do atual governador, Agnelo Queiroz (PT).

Ciente de seu potencial, o ex-governador vem discretamente preparando o caminho de volta ao centro do poder. Segundo antigos interlocutores, ele poderia voltar como candidato ao governo ou a deputado. Poderia também se tornar um cabo eleitoral de peso. Arruda se mudou com a mulher para São Paulo ano passado, mas tem mantido frequentes contatos políticos em Brasília.
 
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