21 outubro 2012

A morte de Beto foi confessada pelos torturadores com a frase "Seu amigo esteve aqui"

Obra foi financiada por Sérgio Campos, ex-companheiro de guerrilha de Beto na VAR-Palmares, possivelmente a última pessoa a estar com ele, antes de seu desaparecimento. 
Recursos vieram da indenização recebida do Estado como reparação pela perseguição política sofrida durante a ditadura de 1964.


A história do comandante Breno, o amigo de Dilma

Biografia conta a vida do desaparecido Carlos Alberto Soares de Freitas


(O Globo, 21/10/2012)



A verba para a sobrevivência dos que viviam na clandestinidade para combater a ditadura era curta. Por isso, toda vez que a saudade de comer pato com laranja batia em Breno e Estela, eles pulavam o almoço ou o jantar e juntavam diárias para poder se deliciar com a pequena iguaria divida entre os dois.

Breno (ou Beto, como também era chamado) era Carlos Alberto Soares de Freitas, um dos dirigentes da VAR-Palmares desaparecido em 15 de fevereiro de 1971. Estela é ninguém menos que a presidente Dilma Rousseff, amiga e companheira de militância. Essa e outras histórias estão em "Seu amigo esteve aqui" (Zahar), livro da jornalista Cristina Chacel, que chegou às livrarias neste fim de semana. O lançamento oficial será em 5 de novembro em Belo Horizonte e no dia 12 no Rio de Janeiro.

Cristina começou a escrever o livro em 2009, a convite de Sérgio Campos - ex-companheiro de Breno na VAR-Palmares e possivelmente o último a estar com ele antes de seu desaparecimento. Campos também foi preso, provavelmente pouco depois de Beto, e levado para o DOI-Codi/RJ. E foi ele quem financiou a obra, lançada agora, com parte da indenização recebida do Estado como reparação pela perseguição política.

- Eu sabia da repressão, da ditadura, mas do Beto nunca tinha ouvido falar. E acho que isso foi bom porque só assim consegui chegar a esse personagem, quando o vi como uma pessoa comum, alguém que podia ser seu primo ou irmão. Precisei desconstruir até com os mais próximos essa imagem de herói - contou Cristina.

A autora também traz à tona uma sucinta, porém inédita, pista sobre seu desaparecimento. De acordo com a obra, o falecido militante da Ação Popular (AP) Vinícius Caldeira Brandt contou ao ex- integrante da Polop e deputado federal do PSDB José Aníbal que chegou a ver Beto numa prisão em São Paulo. Antes disso, a única informação conhecida sobre o guerrilheiro vinha de outra grande amiga dele: Inês Etienne Romeu. A morte de Beto foi confessada, em tom de bravata, a Inês pelos torturadores da Casa de Petrópolis com a frase que titula o livro: "Seu amigo esteve aqui".


 
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