23 janeiro 2012

Mais um caso de interpretações inchadas

De novo, a Folha.

Em manchete (Folha, 23/1/2012), o jornal diz:
"44% acham número de ministérios muito alto, diz Datafolha".

A matéria abre dizendo o seguinte:
"... quase metade dos brasileiros diz achar que o número atual de ministérios, 38, é demais".

Quem lê a matéria, porém, vê que:
  • 44% dos entrevistados dizem que esse número é maior do que o que país precisa;
  • 29% afirmam que ele é adequado;
  • 15% o acham insuficiente (ou seja, abaixo do necessário);
  • 11% não souberam responder.
A manchete falseia os números:
  • 44%  não é "quase a metade", é menos da metade. A regra de arredondamento não nos permite dar esse "pulo" de 44% para "quase" 50%;
  • Mais grave: somados 29% e 15%, que, respectivamente, consideram o número adequado ou menor do que o necessário, há 44% de opiniões que contrariam a interpretação forçada pelo jornal de recriminar o número de ministérios. Ou seja, 44% das opiniões foram desprezadas para justificar a opinião divulgada por este veículo de imprensa;
  • O jornal quer induzir que predomina a reprovação dos brasileiros ao número de ministérios, o que não é verdade;
  • O resultado da pesquisa, portanto, é uma opinião do Instituto, e não dos brasileiros. O ato falho está estampado na manchete: "44% acham número de ministérios muito alto, diz Datafolha". 
  • Numa pesquisa, a opinião deveria ser atribuída aos respondentes, e não ao Instituto;
  • O correto seria o jornal dizer que a opinião do brasileiro a respeito do tema está dividida, caso os números do Datafolha estejam de fato corretos.


Mais sobre problemas no uso e interpretação de dados:
"Como Mentir com Estatística", de Darrell Huff  - como desmistificar muitas das idéias pré-concebidas sobre estatísticas, evitando que o fascínio ingênuo por números.

Como se deve tratar números e apresentá-los ao público - erros muito comuns presentes nas notícias espetaculosas e alarmantes.


 
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