30 novembro 2010

Redes sociais no Brasil

IBOPE apresenta resultados de pesquisa sobre redes sociais no Brasil.
Cada vez mais, tais redes ganham espaço na internet e se tornam o filtro essencial da comunicação na web.


A análise faz uma aposta que tem se tornado comum: as redes podem substituir a antiga comunicação por email, basicamente por tornar mais "amigáveis" (em todos os sentidos) as formas de organização da informação. Pelas redes sociais é possível achar e escolher com quem se quer comunicar e buscar pessoas com perfis similares, interesses próximos e temas em comum.


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27 novembro 2010

Transições presidenciais no Brasil: o começo de uma tradição

O Brasil tem deixado distantes as transições nas quais os presidentes saíam pela porta dos fundos (no caso dos golpes) ou sequer compareciam à posse do sucessor. Uma nova trajetória aos poucos se consolida.


A análise a seguir é do cientista político e professor Leonardo Barreto, extraída do seu blog, Casa de Política.

Formação do gabinete ministerial
Leonardo Barreto, 25 Novembro 2010.

É interessante observar como alguns processos políticos vão se institucionalizando e se tornando "novas" tradições no Brasil. A formação do primeiro ministério Dilma é um exemplo: parece haver três grupos de ministros/autoridades que são escolhidos a partir de critérios distintos.

O grupo 1 seria o dos ministérios e outros órgãos de gestão econômica: Fazenda, Planejamento, BACEN, BNDES, Tesouro e Receita. Eles não entram na negociação dos partidos e a lógica técncia se sobrepõe à lógica política. O mercado também é ouvido.

O grupo 2 é o dos ministérios de articuação política e assessoramento pessoal da presidenta: Casa Civil, Relações Institucionais, Justiça e Secretaria da Presidência. O que conta aí é a confiança pessoal de Dilma. Também não entram na "rifa" dos partidos aliados.

Por fim, o grupo 3 compreende os ministérios negociados com a base aliada. Sua distribuição é fundamental para a formação da base de governo. Cidades, Saúde, etc... . Esses são os que Dilma ainda precisa nomear. Fará isso em conjunto com sua articulação política, as bancadas congressuais e os presidentes e líderes de partidos aliados.

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A qualidade da informação jornalística em questão

Qual o nível de excelência técnica e qualidade de serviços e produtos da indústria jornalística brasileira?


A pesquisa Indicadores da Qualidade da Informação Jornalística dá algumas pistas.
Foi realizada por pesquisadores brasileiros, em parceria da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com a Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (Renoi).
 
Conheça a pesquisa e divulgue seus resultados:


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22 novembro 2010

O profeta do apocalipse norteamericano

O imperialismo é uma forma de tirania. O militarismo engendrado pelo imperialismo é a ruína da própria democracia norteamericana. Os Estados Unidos devem abdicar de seu imperialismo caso queiram preservar sua democracia.


Estas são algumas teses centrais do especialista em política internacional, Chalmers Johnson.


Entrevista concedida por Chalmers Johnson ao canal "Democracy Now", em 2007.

O profeta do apocalipse norteamericano
Antonio Lassance
Artigo publicado pela Agência Carta Maior

O imperialismo é uma forma de tirania. O militarismo engendrado pelo imperialismo é a ruína da própria democracia norteamericana. Os Estados Unidos devem abdicar de seu imperialismo caso queiram preservar sua democracia.

Estas são algumas teses centrais formuladas pelo especialista em política internacional, Chalmers Johnson, que morreu aos 79 anos de idade, no último sábado, dia 20 de novembro de 2010.

Há quem diga que ele rivalizava com Henry Kissinger no que se referia à proposição de macro-objetivos para a política externa dos EUA. Uma espécie de espelho invertido do ex-chanceler de Nixon.

Conforme Johnson, a lógica da guerra absorvia a tal ponto a dinâmica da política norteamericana que sugava parte significativa de seus recursos, fazia que seu governo passasse a ser movido cada vez mais por segredos de Estado e elevava as ameaças aos direitos dos cidadãos dentro dos próprios Estados Unidos. A escalada militar tinha todos os ingredientes para a criação de um monstro, uma presidência imperial, com poderes demais e controle de menos, o reverso do sistema de pesos e contrapesos que os pais fundadores do constitucionalismo estadunidense haviam propugnado.

O livro “Blowback: the costs and consequences of American Empire” ("O tiro pela culatra: custos e consequências do Império americano"), de 2000, virou um sucesso de vendas após o 11 de setembro. Os EUA perceberam claramente que seus ataques a locais supostamente remotos os sujeitavam a contra-ataques domésticos ferozes, apocalípticos. Mais que isso, o governo Bush trilhou caminhos que cumpriam rigorosamente o roteiro da profecia de Johnson: restrições a direitos individuais, expansão armamentista, com a necessidade “imperiosa” de guerras como as do Afeganistão e Iraque, tibieza da oposição, multiplicação de operações secretas e explosão do orçamento militar.

O curioso é que Johnson foi consultor da CIA (Central de Inteligência Americana) durante a Guerra Fria. A amarga experiência da derrota no Vietnã parece ter sido decisiva para sua guinada anti-imperialista e antimilitarista.

Grande pesquisador dos países asiáticos e do Leste Europeu, disseminou nos EUA conceitos importantes, mais comuns à América Latina e Europa, como os de "Estado desenvolvimentista" e "capitalismo de Estado". Sua análise sobre o dirigismo estatal no capitalismo japonês tem sido resgatada recentemente como referencial para a análise do capitalismo chinês.

A propósito, com relação à China, ele insistiu na mesma tecla de suas análises tardias sobre a guerra do Vietnã: o pano de fundo capitalismo versus comunismo, na verdade, se movia por algo mais básico às relações internacionais, o nacionalismo. A mesma conclusão, igualmente tardia, que Robert McNamara (ex-secretário de Defesa de Kennedy) expressa melancolicamente no documentário de Errol Morris, “A névoa da guerra” (“The fog of war”, 2004).

Ilhado por defensores agressivos do neoliberalismo, Chalmers Johnson era um herético com suas teses sobre o desenvolvimento dirigido pelo Estado. Para os adeptos da teoria da escolha racional, cuja pretensão maior é a de reduzir os problemas da humanidade a expressões algébricas que podem ser resolvidas friamente, ele era tido por heterodoxo demais.

Alguns poderiam pensar que os riscos aventados por Johnson dissiparam-se com o fim da presidência de George W. Bush. Não é o que parece. O avanço de uma direita facista nos Estados Unidos, representada pelo movimento “Tea Party”, já foi considerado uma hipótese remota; hoje é um fato consumado. Se julgava, até pouco tempo, que os políticos tradicionais do Partido Republicano conseguiriam bloquear tal investida e evitariam uma radicalização. Dizia-se também que um descaminho pela ultradireita condenaria o partido à condição de absoluta minoria. Mais uma aposta desfeita. Ao que tudo indica, o profeta fez soar suas trombetas na direção certa, para os que estivessem dispostos a ouvi-lo.

Leia também a resenha de Steve Clemons.

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21 novembro 2010

Os presidentes da ditadura: a grande confusão

Para entender a ditadura brasileira que atravessou duas décadas (1964 a 1984), é recomendável ler os livros do jornalista Elio Gaspari. Mas, para saber ler Elio Gaspari, é preciso ler a resenha crítica feita pelo historiador Mário Maestri e pelo jornalista Mário Augusto Jakobskind, publicada na Revista NovaE.

Sua critica central é de que a tese de Gaspari, segundo a qual a ditadura tinha que acabar porque "era uma grande bagunça", é , no mínimo, simplista. Não que a ditadura não fosse uma grande bagunça, mas a bagunça talvez fosse mais consequência do que causa. Estaria mais para lenha na fogueira do que a servir de fósforo.

Os autores apontam ainda que, entre muitas informações que compõem seus livros, Gaspari navega por um "mar da trivialidade".

Segundo Maestri e Jakobskind,

"A ignorância das transformações estruturais ensejadas pela ditadura viabiliza a apresentação de sua dissolução, não como fenômeno complexo nascido do esgotamento do novo padrão de acumulação, quando da crise capitalista mundial de meados de 1970, mas como mero resultado da vontade de Geisel e Golbery, paladinos do enredo gaspariano, desgostosos com a "bagunça" militar dos anos Costa e Silva-Garrastazú Médici! Eis aí uma simplificação histórica não raramente repetida pelos ideólogos de 64, protagonistas ou não dos acontecimentos daquele período".

Leia a resenha completa na Revista NovaE.

Um panorama bastante detalhado sobre as vertentes historiográficas a respeito do Golpe de 64 e do regime ditatorial é exposto por Carlos Fico:
FICO, Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Revista Brasileira de História.  São Paulo,  v. 24,  n. 47,   2004.

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Municípios tomaram conta da gestão da saúde no Brasil

Cerca de 95,6% dos estabelecimentos públicos de saúde do país são municipais, segundo o IBGE.

O número de estabelecimentos de saúde em atividade total ou parcial passou de 77 mil em 2005 para 94 mil em 2009, um aumento de 22,2%, que corresponde a uma taxa anual de crescimento de aproximadamente 5,1%.

Das 52 mil unidades assistenciais públicas em atividade, 95,6% eram municipais, 1,8% federais e 2,5% estaduais.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde: assistência médico-hospitalar. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1757&id_pagina=1Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtZvP5WmZbREu7nm5gMtx51hOa4-SEJwuJryEpaWPhjOgoQC0uXEnkyBYnq2KhQRrW2YiWvsZeYCpno7qOTMi9gB8wPRMmS7HRS73SkxZYtNzCI1KhgDOCEX_A3HDs7j4CLrueeU9O20o/s1600/hospital.jpg

Saiba mais:
Resumo com outros dados da pesquisa.
Apresentação (slides).
Integra da pesquisa.

O resultado demonstra a consolidação da longa trajetória de municipalização da saúde, apoiada por sucessivas gestões federais e estaduais que orientaram o SUS nessa direção. Os estados que avançaram na municipalização apresentam, em geral, melhores indicadores de atendimento à saúde que os demais. Uma análise de Ciência Política sobre esse processo (veja particularmente as págs. 467 e 479) está em:

ARRETCHE, Marta e MARQUES, Eduardo. Municipalização da saúde no Brasil: diferenças regionais, poder do voto e estratégias de governo. Ciência & Saúde Coletiva, 7(3):455-479, 2002. Disponível em http://www.scielosp.org/pdf/csc/v7n3/13025.pdf. Acesso em 21 novembro 2010.

Acesse o estudo de Arretche e Marques.

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19 novembro 2010

Educação no Brasil

Avanços importantes, desigualdades persistentes

Estudo do IPEA (com base em dados do IBGE) mostra que a educação brasileira registrou muitos avanços nos últimos 20 anos, mas alguns problemas persistem por conta de desigualdades que se mantêm firmes, especialmente as regionais e entre a população urbana e a rural.

Segundo o IPEA, é necessário um conjunto de intervenções nas esferas federal, estadual e municipal.

Também é preciso combater as desigualdades de raça e cor com políticas afirmativas e promover crescimento de renda.

Resumo com os principais resultados.
Gráficos.
Íntegra do estudo.


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17 novembro 2010

Justiça brasileira tem avaliação abaixo da média


Percepção social é de que a justiça é menos ágil e menos acessível do que deveria.

A pesquisa é do IPEA e constitui-se na primeira edição dos Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS).
Foram ouvidos 2.770 brasileiros em todos os estados do País.

Apresentação dos resultados.
Relatório completo.

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08 novembro 2010

Mídia no Brasil

Estudo do professor Francisco Fonseca, da Fundação Getúlio Vargas, traça um panorama da mídia no Brasil, da oligopolização dos meios de comunicação, de sua relação com o poder e de seu baixo compromisso com a democracia.


Segundo o especialista, em nome da liberdade de expressão, mas sem assumir qualquer responsabilidade com outros princípios importantes a uma sociedade democrática, surgiram verdadeiras máquinas de produção do consenso, com uma atuação uníssona e “supressora de vozes discordantes". 

Tal hegemonia buscou, de maneira antidemocrática, bloquear outras formas de pensar. 

O professor lembra que a unicidade de pensamento contraria até a tradição liberal, que traz o pluralismo ao cerne de suas preocupações.



Referência bibliográfica:
FONSECA, Francisco. Mídia e Poder: elementos conceituais e empíricos para o desenvolvimento da democracia brasileira. IPEA, Texto para a Discussão nº 1509, Brasília, 2010.Disponível em: http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/tds/td_1509.pdf

Ouça a entrevista do prof. Francisco Fonseca e outros especialistas na Rádio Câmara
Programa "Conversa sobre política", 1ª parte
Programa "Conversa sobre política", 2ª parte


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03 novembro 2010

Participação das mulheres na política brasileira

Entrevista ao programa Justiça na Manhã, da Rádio Justiça, do Supremo Tribunal Federal.

Clique para abrir e ouvir a entrevista com Antonio Lassance.  




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02 novembro 2010

Dilma Lá: breve história de uma candidatura

Dilma é uma nova personagem que entra em cena na história brasileira. Ela representa um novo momento em que um sujeito coletivo ganha o rosto de uma personagem. 
Foi assim com Lula, rosto do sujeito coletivo das greves do ABC e das mobilizações contra a ditadura. Representa ainda uma longa trajetória de lutas sociais e a ainda breve trajetória de grandes mudanças proporcionadas pelo atual governo. 
Artigo de Antonio Lassance(*), publicado na Carta Maior, 01/11/2010.

Dilma é uma nova personagem que entra em cena na história brasileira. Consagrada por quase 56 milhões de votos, 12 milhões a mais que seu adversário, é uma figura distinta, em todos os sentidos; uma novidade e, ao mesmo tempo, uma velha conhecida.

Boa parte do que se tem veiculado sobre a presidente eleita, na mídia tradicional, desconhece quem é a Dilma, sua capacidade e seu estilo de trabalho. O que até não seria tão grave, se não viesse acompanhado por um profundo desconhecimento sobre o que são o presidencialismo e a Presidência no Brasil. Há um misto de desinformação, má informação e deformação contra alguém que, em plena democracia, continua sendo acusada, como ocorria na ditadura, pelo que fez e pelo que não fez, pelo que é e pelo que não é.

Dilma vem de uma imensa legião de brasileiros muito bem retratados no livro clássico de Éder Sader, “Quando novos personagens entraram em cena” (de 1988). Ela representa um novo momento em que um sujeito coletivo ganha o rosto de uma personagem. Foi assim com Lula, rosto do sujeito coletivo das greves do ABC e das mobilizações contra a ditadura; rosto que adquiriu outras feições quando deputado constituinte em 1986; depois quando candidato em 1989, sua primeira campanha presidencial; e quando finalmente foi eleito e reeleito (2002 e 2006).

Dilma é de uma das três matrizes identificadas por Sader como representativas do pensamento de esquerda no país. Nem da matriz sindicalista, nem das comunidades eclesiais de base da igreja Católica, mas egressa da matriz da esquerda clandestina, que enfrentou as armas e a tortura dos porões da ditadura.

A mais nova personagem desse sujeito coletivo representa uma longa trajetória de lutas sociais e a ainda breve trajetória de grandes mudanças proporcionadas pelo atual governo. Independentemente de sua matriz original, Dilma foi transformada por duas experiências cruciais: a do governo Lula e a da campanha eleitoral. Ambas certamente alteraram profundamente as feições da futura presidenta, o suficiente para que pudesse enfrentar, sobreviver e sair-se vitoriosa de ataques do tipo que já abateu figuras supostamente muito mais experientes do que ela - e que poderiam ter sido as escolhas preferenciais do PT para 2010.

Dilma é uma novidade em termos de seu perfil. O PT sempre acalentou o sonho de consumo de realizar a fórmula propugnada há muito por Carlos Matus. Especialista em planejamento estratégico e com grande ênfase em gestão presidencial, Matus foi assessor de Salvador Allende (Chile, 1965-1970). Visitou o Brasil várias vezes, teve livros publicados pelo IPEA (graças ao empenho de pesquisadores como Ronaldo Garcia) e circulava muito entre o movimento sindical. Matus enfatizava a importância de se combinar desenvoltura política com habilidade técnico-gerencial. Sua criatura abstrata era o dirigente tecnopolítico. Lula, que conheceu Matus pessoalmente, soube usar desse modelo em seu governo, ao combinar sua maestria política - reconhecida até por seus oponentes - com escolhas de alto padrão técnico, como foi o caso de Dilma.

A opção do presidente Lula por Dilma criou a chance de se ter uma presidenta que fosse um quadro tecnopolítico por excelência. A tarefa que se colocava então era a de turbinar tal escolha com um treinamento intensivo, para cumprir um requisito bastante diverso: o da excelência decisória.

Advindo da própria intuição do presidente, os argumentos em torno da excelência decisória foram reforçados, desde 2003, com a visita, ao Brasil e ao Palácio do Planalto, de um especialista em presidências, Richard Neustadt. O autor de “Poder presidencial e os presidentes modernos” estava visivelmente empolgado com o governo Lula, que mal tinha começado e enfrentava sérias dificuldades em seu primeiro ano. Neustadt, do alto de seus 84 anos e com a experiência de quem acompanhou de perto os governos Roosevelt, Truman e Kennedy, acreditava profeticamente que Lula poderia ter para o Brasil a importância que Franklin Roosevelt teve para os Estados Unidos. Contudo, sua audiência palaciana, grata com tal simpatia, mas cética de suas reais possibilidades (que ainda não podiam ser de fato vislumbras), apreciou particularmente uma das teses clássicas de Neustadt: a de que um presidente não precisa ser especialista em nenhuma área, especificamente. Mais do que qualquer outra coisa, ele precisa ser um especialista em presidência da República. Um exímio operador do poder presidencial.

Neste aspecto, Dilma passou por um treinamento intensivo, ou laboratório, se preferirem, que não poderia ocorrer em lugar melhor a não ser na Casa Civil da Presidência da República, ou seja, na estrutura responsável por demandar, digerir e encaminhar os atos presidenciais para deliberação. Por trás das assinaturas de um presidente se escondem processos de decisão política com meandros que Dilma conhece em detalhes.

A experiência na Casa Civil dá a exata dimensão entre o que um presidente quer e o que ele pode; a medida sobre até onde vai o seu poder, que não é imperial, e o que depende de se contar com maioria disciplinada no Congresso - uma das regras do presidencialismo de coalizão. Enquanto isso, uma das comentaristas que transformaram o comentário político no Brasil numa espécie de colunismo social dos Três Poderes avalia que um dos problemas da presidenta eleita é o de que ela tem uma base congressual maior que a do presidente Lula (!)

Aprende-se na Casa Civil que a capacidade e a velocidade de implementação de políticas públicas dependem da natureza de nosso federalismo e do padrão de nossa burocracia. Dilma conhece cada milímetro da Esplanada e esquadrinhou, com o PAC, cada milímetro do País. Na Casa Civil, se é treinado o tempo todo para saber que nenhuma decisão é correta se for tomada da forma errada e em hora certa incerta.

Um presidente deve saber exatamente em que ponto da estrada deve pisar no freio e quando pode afundar o pé no acelerador. No final de 2003, foram apresentados a Lula resultados de uma pesquisa de opinião que atestava: as pessoas entendiam o momento de arrumar a casa e estavam pacientes com relação às mudanças prometidas. A conclusão oferecida pelos analistas da pesquisa era: o povo não está com pressa. O presidente, que pisou no freio por todo o ano de 2003, retrucou, simples e direto : “o povo não tá com pressa, mas eu tô”. Dilma qualificou-se dentro da Casa Civil para ser uma especialista em presidência ao tornar-se também uma especialista em “timing”.

Dilma, "pela primeira vez na história do País", permitirá que o Brasil tenha uma sequência democrática de governos que cumprem o ciclo de construtores de regimes e gerenciadores de regime, uma noção comum na literatura sobre presidências.

Há presidentes que são construtores de regimes e outros que são seus gestores. Uns constróem uma maneira particular de fazer política e uma orientação diversa da ação do Estado, representando uma coalizão majoritária que desaloja uma antiga coalizão, em decadência. Por sua vez, os gestores de regimes têm como tarefa manter sua coalizão unida, avançar na realização das políticas públicas que cimentam a coesão de suas bases e oferecer respostas a seus eleitores, na forma de ações governamentais. São os gestores de regime que desvelam o legado do presidente anterior e desdobram suas realizações.

No Brasil, se pode dizer que esse ciclo foi cumprido apenas em três épocas: no início da República, entre Campos Sales (verdadeiro construtor do regime da República Velha) e Rodrigues Alves; na Era Vargas, quando Getúlio foi, primeiro (1930-1945) construtor de um novo regime e, depois, ele próprio, continuador de sua construção pregressa, começando em 1950, tragicamente interrompida em 1954. Finalmente, no período dos governos da ditadura militar (1964-1984). Na República Velha, o Brasil tinha um regime pouco representativo (oligárquico e não democrático). A construção do regime varguista ocorreu sobretudo a partir de uma ditadura, a do Estado Novo. O mesmo vale para os 20 anos da ditadura de 64.

Dilma é a primeira experiência democrática brasileira de gestão de um novo regime político e de suas políticas públicas. Todas as demais fracassaram sem deixar sucessores: Juscelino, Jango, Sarney, FHC.

Gerenciar um regime, em parte, é continuar o que tem sido feito, mas apenas em parte. Em grande medida, um presidente de continuidade é um desbravador e um desdobrador. Não é alguém que fará a pintura de uma casa já construída. É quem pega o leme no meio da viagem e precisa conduzir a embarcação adiante, até completar-se o ciclo.

O regime estruturado pelo presidente Lula suplantou a montagem minimalista do tucanato. FHC apostou todos os esforços na estabilidade macroeconômica e supôs que, daí, os resultados para o crescimento econômico e para a melhoria das condições sociais viriam naturalmente. Não vieram, e isso explica seu declínio.

A coalizão encabeçada por Lula e seu novo regime basearam-se na combinação de estabilidade econômica com esforços decididos e simultâneos de aceleração do crescimento e redução drástica das desigualdades. Duas coisas que, na mentalidade do regime anterior, estavam fora da governabilidade do Executivo federal e deveriam ser subproduto da estabilidade.

A campanha possibilitou a todos, em especial à presidenta eleita, a percepção clara da importância da mobilização e do contato popular. Principalmente a campanha de segundo turno. Ficou claro que, deixada à sua própria sorte, Dilma e Lula seriam derrotados pelas forças do atraso.
Os relatos de quem a acompanhou na campanha são repletos de histórias sobre como o semblante e a disposição da candidata eram energizados pelo contato popular. Algo que vai na mesma linha do que o presidente Lula não se cansa de repetir: as viagens pelo país garantem o contato com o povo, e isso revigora um presidente.

A estrutura de qualquer presidência da República é tradicionalmente montada para afastar a “autoridade” daqueles que o elegeram. A presidência diariamente se esforça para assoberbar o presidente com papéis, para manter suas portas fechadas, para isolá-lo do barulho das ruas.

Diante disso, se o presidente se acomoda, se ele não se insurgir contra uma rotina ritualizada, se ele não fugir do Palácio, ele se tornará um presidente cada vez menos popular. É preciso romper os limites do palácio de cristal (outra imagem muito conhecida criada por Matus), a redoma que tem a boa intenção de proteger o presidente de tudo, mas que acaba por afastá-lo, inclusive, daquilo que há de melhor.

As viagens pelas quais o presidente foi tantas vezes criticado, mesmo quando percorria seu próprio país e visitava as localidades mais pobres, permitiram que ele visse claramente as mudanças em curso e os problemas que engavetavam suas decisões. Mas, principalmente, as viagens recarregavam suas baterias com uma energia que não é gerada em despachos, em reuniões ministeriais e em negociações com o Congresso - ao contrário, essas a exaurem.

Pelo pouco que se viu das primeira horas após o resultado das eleições, pode-se antever também outra novidade: ao contrário de presidentes anteriores, Dilma não contará com aquela fase de “lua de mel”, os primeiros 100 dias em que oposição e imprensa dão um desconto para o presidente que entra, antes de abrir fogo com todas as suas baterias. Mesmo informado do discurso de paz e da mão estendida, a oposição fez declaração de guerra. O candidato derrotado - aquele que sacralizou a baixaria - deu ao conservadorismo mais abominável o qualificativo de “delimitação de campo”. E avisou: “isso não é o fim. Isso é apenas o começo”. A frase queimada no calor da derrota exala uma fumaça com forte cheiro de terceiro turno.

Neste sentido, mesmo com toda a agressividade, a oposição se coloca em desvantagem. Ao contrário de Dilma, que aprendeu muito em pouco tempo, a oposição demonstra que nada aprendeu em 8 anos de sucessivas derrotas. Consegue considerar-se campeã moral de uma guerra na qual se desmoralizou. Seu diagnóstico é o de que quem errou foi o povo. “Não foi dessa vez”, que se traduz em “o povo um dia aprende”. Suas lideranças se fecharam em copas e se arvoram bastiões dos velhos tempos; tempos que não voltam mais, principalmente porque cada vez menos gente sente saudades deles.

Ao longo da campanha, uma das formas mais utilizadas de se manifestar apoio a Dilma foi estampar sua foto de militante clandestina presa pela ditadura. As pessoas mostravam sua adesão a um rosto que simbolizava uma identidade coletiva. Enquanto essa coletividade estiver unida em torno de Dilma, a oposição estará condenada a repetir: “não foi dessa vez”.No que depender de seu preparo, a presidenta eleita teve, ao longo da vida, as melhores dentre todas as escolas.

(*) Cientista político, pesquisador do IPEA, foi assessor da Presidência da República de 2003 a 2010.

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01 novembro 2010

Dilma lá


Dilma Rousseff foi eleita no dia 31 de outubro de 2010 a primeira presidenta do Brasil. Obteve quase 56 milhões de votos, 12 milhões a mais que seu adversário.
O vídeo acima é do primeiro programa da candidata. Traz sua biografia e depoimentos.

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