Não pode ser apenas a candidatura de 30% dos brasileiros, e sim o líder de uma frente ampla contra o candidato da ditadura e da intolerância.
Hora de desacoplar, sem se desconectar
"Houston, we have a problem". Haddad cresceu como um foguete. Mas, como todo foguete que alcança o limite da atmosfera, é hora de se desacoplar. Para seguir em frente, tem que deixar para trás, sem contradizer-se, parte importante do que projetou seu crescimento.
O cenário é de fato muito preocupante. Houve um grande crescimento da rejeição a Haddad, o que é um desafio a ser transposto tão grande ou até maior que o da resiliência de seu adversário. Ficou claro que, assim como existe transferência de voto, existe também transferência de rejeição.
O antipetismo se associou a questões mais profundas e crenças arraigadas que não são facilmente revertidas por coisas do tipo: "você sabia que, quando na ativa, o energúmeno tentou explodir uma bomba em um quartel e dizia que o Exército brasileiro é uma vergonha nacional?"
Muitas pessoas não se importam em eleger o capitão caverna, assim como não se importaram em tirar Dilma e o PT para, em seu lugar, colocar a estirpe de Temer, Eduardo Cunha, Romero Jucá et caterva.
O fato é que, com um adversário que se apresenta tendo o antipetismo como seu principal atributo, a candidatura Haddad, se quiser derrotá-lo, não pode fazer o jogo de seu adversário e contribuir com seu discurso.
Haddad não pode ser mais, exclusivamente, o candidato do PT. Tem que ser o candidato do #EleNão.
Ciro tem papel crucial
A primeira providência a ser tomada imediatamente à oficialização do resultado é Haddad convidar Ciro Gomes para ser coordenador político de sua campanha em segundo turno. Se Ciro, com sua cabeça quente, irá aceitar ou não são outros quinhentos, mas o gesto deve ser feito.
E Ciro deve ter carta branca para chamar todos os candidatos que se insurgem contra o ignóbil a comporem um conselho político de campanha com o objetivo de formular um novo programa de governo, começando com uma carta de princípios que reafirme os princípios de defesa da democracia, da equidade social, do pluralismo e da liberdade de expressão, tendo como diretrizes a defesa da Constituição, a redução das desigualdades, a garantia de direitos e a retomada do desenvolvimento com sustentabilidade ambiental.
O programa e o discurso de Haddad, de agora em diante, não podem ser só os da chapa PT, PCdoB e Pros, e sim os de uma frente ampla contra o candidato da ditadura. O programa deve incorporar propostas importantes de todas as candidaturas que coincidam com os princípios de fortalecimento das instituições do Estado democrático de direito.
Será hora de Haddad conversar e juntar, se não todo mundo, pelo menos quem quiser. Por que não? Todos são bem vindos. Todos menos ele. #EleNão.
Haddad precisará da força e do entusiasmo dos apoiadores dos demais candidatos. Não apenas de apertos de mão, mas engajamento. Precisará não só de um novo discurso de palanque, mas de fiadores.
Para os que não vierem - Alckmin, Dias, Amoêdo, Eymael -, esperemos que eles incorporem pelo menos o slogan do #EleSnão, criado por Alckmin e que já sinaliza sua posição no segundo turno. Afinal, esta não é uma eleição que será ganha apenas com votos nos candidatos. A diferença poderá ser dada por brancos e nulos.
Haddad deve pedir desculpas ao povo brasileiro, em nome do PT.
E precisa fazer isso o quanto antes
Haddad precisa assumir que o PT errou. Primeiro, porque isso todo mundo já sabe. Precisa pedir desculpas ao povo brasileiro, em nome do PT, com o aval do PT.
Pedir desculpas não só pelo PT não ter feito reforma política nem tributária quando tinha força para isso. Isso também. Mas precisa pedir desculpas pelo fato de que a política de campeões nacionais, formulada e explicitada com a melhor das intenções, se tornou uma avenida para que relações promíscuas tomassem conta do destino de bilhões em dinheiro público.
Precisa sobretudo pedir desculpas, em nome do PT, pelo partido não ter conseguido blindar a administração pública de criminosos que tomaram de assalto os cofres públicos.
Quem são eles? São todos aqueles que são réus confessos em processos instaurados para investigar crimes contra o patrimônio público. Isso não implica abandonar a defesa intransigente do princípio da presunção de inocência e que se possa dar o benefício da dúvida a todos que, de roldão, são incriminados sem provas.
Talvez muitos petistas não se lembrem, mas Lula fez isso em 2005. Pediu desculpas, acusou aloprados e disse que se sentiu traído por práticas inaceitáveis:
"Não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos de pedir desculpas. O PT tem de pedir desculpas. O Governo onde errou tem de pedir desculpas porque o povo brasileiro não pode estar satisfeito com a situação que o país está a viver"
Lula disse ainda que pedir desculpas era absolutamente necessário para se manter a esperança. Hoje, mais do que nunca, ele tinha toda razão.
Referências citadas no artigo:
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