Na manhã do dia 12 de agosto de 1798, a cidade de Salvador se deparou, ao acordar, com uma série de boletins manuscritos afixados em locais públicos. Na esquina da Praça do Palácio, nas paredes da cabana da preta Benedita, na Igreja de São Bento, entre outros locais de grande circulação, os onze papéis convocavam a população para uma revolução que instituiria uma república democrática no Brasil.
A Revolta dos Búzios, também chamada de Revolução dos Alfaiates, Conjuração Baiana ou Inconfidência Baiana (ver Revista de História da Biblioteca Nacional, n. 10), reuniu pessoas que sonhavam e lutavam pela instauração de uma república democrática e justa, e pelo fim da escravidão. Sem dúvida, foi um dos mais importantes movimentos libertários do país. Isto porque representou, ao mesmo tempo, os anseios populares de melhoria de vida e as lutas anticoloniais contra monopólios e privilégios portugueses que prejudicavam as classes médias locais e aumentavam o custo de vida. Os boletins divulgados anunciavam ainda o fim dos impostos e taxas cobrados pela Coroa de Portugal, o aumento do salário para os soldados, a abertura dos portos para o comércio com as nações amigas, especialmente a França.
O governador da Bahia, D. Fernando José de Portugal e Castro, imediatamente ordenou uma investigação para descobrir os autores dos pasquins sediciosos, como foram chamados os boletins, por seu conteúdo subversivo. Após um exame das letras dos pasquins e a comparação com antigos documentos que estavam na Secretaria de Estado, pôde-se se chegar a alguns culpados. A partir daí, as autoridades iniciaram as prisões dos acusados. Porém, após as prisões, outras duas cartas encontradas na Igreja do Carmo radicalizam as propostas dos boletins; nelas, os “anônimos republicanos” nomeavam o próprio governador da Bahia como chefe do “Supremo Tribunal da Democracia Bahiense”.
Assustadas com a ameaça, as autoridades recorreram novamente ao exame das letras nas petições da Secretaria e, desta vez, concluíram ser o soldado pardo Luís Gonzaga das Virgens e Veiga o autor das cartas. Depois da prisão do soldado, os partidários do movimento se reuniram no dia 25 de agosto do mesmo ano, no Campo do Dique do Desterro, a fim de verificar quantos eram e iniciar o confronto armado. Ocorre que, desesperados com a prisão de Luís Gonzaga, alguns soldados decidiram convidar outras pessoas para participar da reunião. Para azar dos conjurados, havia entre os convidados três homens que iriam denunciar o movimento às autoridades.
Delatados, os conspiradores foram localizados pelas forças portuguesas quando faziam outra reunião. O resultado foi a prisão de 59 pessoas, das quais 34 foram processadas e algumas condenadas ao degredo. Apenas quatro homens, todos negros, receberam a pena de morte. Os membros das classes mais abastadas foram inocentados ou receberam indultos.
Fonte do texto: A Conjuração dos Búzios, Revista de Historia da Biblioteca Nacional, 31/8/2007.
Vídeo: programa "De lá pra cá", da EBC, com Ancelmo Góis.
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