... Rei do contrabando, conforme inúmeras acusações.
Sob múltiplas investigações José Casado, O Globo, 23/04/2013
O maior desafio de Horacio Cartes, 56 anos, eleito presidente do Paraguai no domingo, talvez seja a sua imagem no Brasil e nos Estados Unidos. O novo líder do Partido Colorado é um dos homens de negócios mais ricos de seu país. E, também, um dos mais polêmicos políticos paraguaios.
Na Quarta Vara Empresarial do Rio de Janeiro, por exemplo, o império industrial de Cartes enfrenta acusações de pirataria. Sua Tabacalera del Este (Tabesa) foi incriminada por suposto contrabando de cigarro.
O processo (número 0168522-02.2011.8.19.0001) foi aberto pelo grupo Souza Cruz. Em decisão preliminar, de 2011, o juiz menciona "prova documental robusta" sobre "prática de atos de concorrência desleal", observando ser "fato notório - e que, portanto, independe de prova - o fornecimento para o mercado nacional de massa volumosa de produtos de fabricação da ré (Tabesa)." A ação judicial está pendente de uma audiência de Cartes e dos executivos da Tabesa, em Assunção.
Cartes entrou no radar brasileiro antipirataria em 2003, quando uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara identificou sua posição majoritária na Tabesa, em sociedade com José Maria Cases Ribalta registrada no paraíso fiscal de Andorra. "É considerada a empresa mais profissionalizada do Paraguai e seus produtos têm como destino as regiões Sul e Sudeste do Brasil", diz o relatório da CPI.
Seu principal intermediário nas vendas ao mercado brasileiro é Fahd Yamil, "investigado por suspeita de envolvimento com o crime organizado" - segundo a CPI. Jamil se tornou uma lenda em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Mato Grosso do Sul. Inclusive, por ter feito de sua casa uma réplica da residência de Elvis Presley.
O braço financeiro de Cartes é o Banco Amambay, que financia a Tabesa. "Oitenta por cento da lavagem de dinheiro no Paraguai passam por essa instituição", contou em 2007 o então diretor da Secretaria Antinarcóticos paraguaia, Hugo Ibarra, ao diplomata americano Michael J. Fitzpatrick. A conversa foi reportada por Fitzpatrick a Washington no dia 27 de agosto de 2007. O memorando está entre a correspondência do Departamento de Estado divulgada pelo WikiLeaks há dois anos.
Em abril de 2009, os Estados Unidos iniciaram uma investigação "dirigida a entidades financeiras reais, seus executivos e facilitadores de lavagem de dinheiro" na Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina). Tem o codinome Coração de Pedra, envolve a agência antidrogas (DEA) nos três países, além dos departamentos de Estado, Justiça, Tesouro e equipes da Força Federal de Nova York contra o Crime Organizado, Imigração e Controle de Aduanas, Receita e do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros. Oficialmente, Coração de Pedra prossegue.
Na primeira quinzena de dezembro de 2009, agentes compareceram a uma reunião no aprazível Rainforest Resort, da Cidade do Panamá, com sete executivos das multinacionais fabricantes de cigarros British American Tobacco, RAI-Reynolds, Imperial Tobacco e Philip Morris.
O ritmo das investigações ficou registrado num relatório consolidado dois meses depois, em janeiro de 2010, por Douglas W. Poole, chefe de Inteligência da agência antidrogas. Ele escreveu: "Através da utilização de uma fonte da DEA e de pessoal disfarçado, agentes se infiltraram na empresa de lavagem de dinheiro de Cartes, uma organização que se acredita lava grandes quantidades de moeda (dólares) obtidas por meios ilegais, incluindo a venda de narcóticos, da Tríplice Fronteira aos Estados Unidos."
Poole também informou aos seus chefes em Washington que decidira "introduzir um segundo agente encoberto" junto a Cartes e/ou aos seus principais assessores no Paraguai, Osvaldo Gane Salum e Juan Carlos López Moreira. O objetivo, ressaltou, era "desarticular e desmantelar" a organização de Cartes.
Os resultados dessa investigação na Tríplice Fronteira ainda não são conhecidos.
Nos últimos dois anos, porém, Cartes trocou de distintivo: de mecenas do Partido Colorado passou a líder partidário, no ano passado foi o operador do impeachment-relâmpago do presidente Fernando Lugo, e, desde a noite do último domingo, é o presidente eleito do Paraguai.
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Sob múltiplas investigações José Casado, O Globo, 23/04/2013
O maior desafio de Horacio Cartes, 56 anos, eleito presidente do Paraguai no domingo, talvez seja a sua imagem no Brasil e nos Estados Unidos. O novo líder do Partido Colorado é um dos homens de negócios mais ricos de seu país. E, também, um dos mais polêmicos políticos paraguaios.
Na Quarta Vara Empresarial do Rio de Janeiro, por exemplo, o império industrial de Cartes enfrenta acusações de pirataria. Sua Tabacalera del Este (Tabesa) foi incriminada por suposto contrabando de cigarro.
O processo (número 0168522-02.2011.8.19.0001) foi aberto pelo grupo Souza Cruz. Em decisão preliminar, de 2011, o juiz menciona "prova documental robusta" sobre "prática de atos de concorrência desleal", observando ser "fato notório - e que, portanto, independe de prova - o fornecimento para o mercado nacional de massa volumosa de produtos de fabricação da ré (Tabesa)." A ação judicial está pendente de uma audiência de Cartes e dos executivos da Tabesa, em Assunção.
Cartes entrou no radar brasileiro antipirataria em 2003, quando uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara identificou sua posição majoritária na Tabesa, em sociedade com José Maria Cases Ribalta registrada no paraíso fiscal de Andorra. "É considerada a empresa mais profissionalizada do Paraguai e seus produtos têm como destino as regiões Sul e Sudeste do Brasil", diz o relatório da CPI.
Seu principal intermediário nas vendas ao mercado brasileiro é Fahd Yamil, "investigado por suspeita de envolvimento com o crime organizado" - segundo a CPI. Jamil se tornou uma lenda em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Mato Grosso do Sul. Inclusive, por ter feito de sua casa uma réplica da residência de Elvis Presley.
O braço financeiro de Cartes é o Banco Amambay, que financia a Tabesa. "Oitenta por cento da lavagem de dinheiro no Paraguai passam por essa instituição", contou em 2007 o então diretor da Secretaria Antinarcóticos paraguaia, Hugo Ibarra, ao diplomata americano Michael J. Fitzpatrick. A conversa foi reportada por Fitzpatrick a Washington no dia 27 de agosto de 2007. O memorando está entre a correspondência do Departamento de Estado divulgada pelo WikiLeaks há dois anos.
Em abril de 2009, os Estados Unidos iniciaram uma investigação "dirigida a entidades financeiras reais, seus executivos e facilitadores de lavagem de dinheiro" na Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina). Tem o codinome Coração de Pedra, envolve a agência antidrogas (DEA) nos três países, além dos departamentos de Estado, Justiça, Tesouro e equipes da Força Federal de Nova York contra o Crime Organizado, Imigração e Controle de Aduanas, Receita e do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros. Oficialmente, Coração de Pedra prossegue.
Na primeira quinzena de dezembro de 2009, agentes compareceram a uma reunião no aprazível Rainforest Resort, da Cidade do Panamá, com sete executivos das multinacionais fabricantes de cigarros British American Tobacco, RAI-Reynolds, Imperial Tobacco e Philip Morris.
O ritmo das investigações ficou registrado num relatório consolidado dois meses depois, em janeiro de 2010, por Douglas W. Poole, chefe de Inteligência da agência antidrogas. Ele escreveu: "Através da utilização de uma fonte da DEA e de pessoal disfarçado, agentes se infiltraram na empresa de lavagem de dinheiro de Cartes, uma organização que se acredita lava grandes quantidades de moeda (dólares) obtidas por meios ilegais, incluindo a venda de narcóticos, da Tríplice Fronteira aos Estados Unidos."
Poole também informou aos seus chefes em Washington que decidira "introduzir um segundo agente encoberto" junto a Cartes e/ou aos seus principais assessores no Paraguai, Osvaldo Gane Salum e Juan Carlos López Moreira. O objetivo, ressaltou, era "desarticular e desmantelar" a organização de Cartes.
Os resultados dessa investigação na Tríplice Fronteira ainda não são conhecidos.
Nos últimos dois anos, porém, Cartes trocou de distintivo: de mecenas do Partido Colorado passou a líder partidário, no ano passado foi o operador do impeachment-relâmpago do presidente Fernando Lugo, e, desde a noite do último domingo, é o presidente eleito do Paraguai.
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