17 abril 2012

Quem mandou puxar o freio de mão?

Brasil empaca e frustra Dilma

Prévia do Banco Central para o PIB aponta retração de 0,23% em fevereiro, a segunda do ano. Economistas preveem avanço neste ano inferior aos 4% desejados pela presidente

Victor MARTINS e Cristiane BONFANTI *.


Se a presidente Dilma Rousseff tinha alguma dúvida de que o crescimento da economia no seu segundo ano de governo tem tudo para ser pífio, ela foi dirimida totalmente ontem. Pelos cálculos do Banco Central, o nível da atividade recuou pelo segundo mês consecutivo, mostrando que nem a produção nem o consumo estão reagindo aos estímulos dados pelo Palácio do Planalto nos últimos meses. O IBC-br, prévia do Produto Interno Bruto (PIB), caiu 0,23% em fevereiro. Em 12 meses, apresenta avanço de apenas 2%, metade do que o Brasil pode crescer sem gerar inflação, o chamado PIB potencial.
Apesar de já estar preparada para um resultado fraco no primeiro trimestre, a presidente Dilma não escondeu a decepção. Ela acreditava que, com o corte da taxa básica de juros (Selic) desde agosto do ano passado e as desonerações de impostos dadas à indústria, especialmente às fabricantes de eletrodomésticos da linha branca, a economia começasse a esboçar alguma reação. Não é o que ocorre. Tanto que os especialistas já falam em um avanço de apenas 0,5% entre janeiro e março, taxa que, quando anualizada, mostra um salto de minguados 2,4%, menos que os já criticados 2,7% de 2011.
Pressão
Não à toa, o governo intensificará a pressão sobre os bancos privados para que reduzam os juros cobrados nos empréstimos e financiamentos. A meta é que as famílias troquem as dívidas mais caras por débitos mais baratos, abrindo espaço no orçamento para a retomada do consumo. O governo também espera que a indústria, que está prejudicando o mercado de trabalho, saia do atoleiro e volte a movimentar as máquinas e a reforçar a contratação de pessoal. O recente pacote de bondades anunciado pelo Planalto ao setor produtivo está longe de estimular as fábricas, emperradas por um real ainda forte, por uma pesada carga tributária e por uma defasada legislação trabalhista.
Nesse contexto, a leitura no Ministério da Fazenda e no Banco Central é de que, com esse ritmo lento, está cada vez mais difícil fechar o ano com crescimento entre 4% e 4,5% como deseja Dilma. "Com certeza, serão necessários mais estímulos à economia. Amanhã, é possível que o Copom (Comitê de Política Monetária) corte mais 0,75 ponto percentual da taxa Selic, o que será um grande alento. Assim, temos certeza de que, já no início do segundo semestre, o PIB estará caminhando com muito mais força, com taxa anualizada de 5%", disse um assessor próximo da presidente da República.
Tombini, o preferido
Nos cálculos de Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra, o Brasil fechará este ano com crescimento de 2,9%, isso já levando em conta todos os impulsos dados pelo governo, como a redução dos juros e os incentivos à indústria. "As medidas anunciadas até agora não mudam minha visão sobre o PIB. O crédito continua bastante restrito, e o comprometimento da renda das famílias e a inadimplência nos bancos devem limitar o crescimento deste ano", disse.
Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, observou que o IBC-br de fevereiro, diferentemente de outros meses, não foi determinado pela fraqueza da indústria. Na sua avaliação, foram as vendas do comércio que contribuíram para o desempenho negativo do mês ao registrarem queda de 1,1% na comparação com janeiro. Entretanto, esse movimento é visto como pontual pelo economista. "Nós avaliamos essa fraqueza como de curta duração. Os primeiros dados de março já apontam para uma nova expansão no varejo", disse. Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, concordou: "Trabalhamos com uma recuperação da economia, sobretudo no segundo semestre, devido aos efeitos defasados de política monetária".
Para Carlos Thadeu Filho, economista da gestora de recursos Franklin Templeton, haverá uma retomada da atividade, mas não a ponto de levar o país para o crescimento desejado pela presidente Dilma. Ele projeta um PIB de 2,7% ao fim de 2012. A seu ver, se a economia não responder a contento, o BC poderá cortar os juros além dos 9% em que deve deixar a Selic amanhã, quando termina a terceira reunião do Copom do ano.
Quem acompanha o dia a dia de Dilma, garante, que ela está jogando todas as fichas "na competência" do presidente do BC, Alexandre Tombini. "Dizem que a presidente ouve muito o secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa. Mas quem realmente está fazendo a cabeça dela é o Tombini. O presidente do BC está quebrando todos os paradigmas na gestão da política monetária e mostrando que a inflação pode cair com juros mais baixos", disse um ministro com bastante trânsito no Planalto.
Empresas punidas
As altas taxas de juros correspondem a 7,5% do preço dos produtos industrializados, segundo pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Para financiar o capital de giro, a indústria de transformação gasta R$ 156 bilhões anualmente para honrar suas dívidas. Por isso, ressaltou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o Banco Central deve continuar cortando a taxa básica de juros (Selic), que está em 9,75% ao ano, e o governo, insistir na política de redução do spread bancário.

* Artigo publicado no Correio Braziliense, 17/04/2012.
 
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