13 fevereiro 2012

Vencedor da oposição quer despolitizar Venezuela para enfrentar Chávez

e um lado, haverá mais politização e radicalização por parte do presidente venezuelano Hugo Chávez, que busca sua segunda reeleição presidencial. De outro, a retórica de conciliação dos oposicionistas.  
A oposição simula um "lulismo".

Claudia Jardim 
BBC Brasil, 13 de fevereiro, 2012 

A ampla vitória do político de centro-direita Henrique Capriles Radonski nas eleições primárias da oposição venezuelana, no domingo, abre dois cenários de disputa na Venezuela meses antes do pleito presidencial de 7 de outubro. 

De acordo com analistas ouvidos pela BBC Brasil, a partir de agora, de um lado haverá mais politização e radicalização por parte do presidente venezuelano Hugo Chávez, que busca sua segunda reeleição presidencial, e de outro uma retórica de conciliação, tática que já vem sendo utilizada por Capriles Radonski. Com 95% das urnas apuradas, Capriles Radonski - governador do Estado de Miranda, o segundo mais populoso do país, aparecia com 62% da preferência, mais de 1,8 milhão de votos. 

Em segundo lugar ficou o também governador Pablo Perez, com 30%, com pouco mais de 860 mil votos. A participação de eleitores superou as expectativas da aliança opositora: quase 3 milhões de venezuelanos votaram na consulta que era aberta aos 18 milhões de eleitores de todo o país. 

Com o aval da base anti-chavista, Capriles Radonski tende a aprofundar sua estratégia de "des-polarizar" e "des-ideologizar" a disputa eleitoral para poder confrontar Chávez, que apesar de seus treze anos à frente do governo, mantém índices de popularidade que flutuam entre 55% e 58%. 

Essa tendência "unificadora" ficou marcada no primeiro discurso do candidato da coalizão opositora após sua vitória no domingo, no qual prometeu governar para todos os venezuelanos, incluindo os "vermelhos", cor do chavismo. 

"Não há espaço para preconceitos e ódio nesse projeto (...) nossa experiência diz que se pode governar para todos", discursou diante de centenas de simpatizantes no fim da noite do domingo, em um bairro da classe média-alta caraquenha. "Os venezuelanos estão cansados de divisão e confrontação", afirmou. 

Chavistas 'lights' 

Capriles, que diz ser seguidor do "modelo Lula", utilizou o slogan de campanha do ex-presidente brasileiro para marcar seu discurso. 

"Quando um povo quer caminhar, a força da esperança sempre derrota o medo ", afirmou. 

Analistas consultados pela BBC Brasil coincidem que este é o melhor momento da oposição antichavista em 13 anos do governo Chávez. 

"Capriles não é o favorito, mas mas é o melhor momento em que a oposição começa uma disputa (contra Chávez)", afirmou à BBC Brasil o analista político Luis Vicente León, presidente da consultoria Datanalisis. 

Com o voto opositor hipoteticamente garantido, na avaliação de analistas, o desafio de Capriles Radonski será o de conquistar aos "chavistas light" com um discurso de que ele pode manter as políticas sociais do atual governo, porém, com uma gerência eficaz. 

"Haverá uma estratégia na qual o ataque à Chávez não será o centro da campanha. Capriles vai atacar os problemas, a ineficiência do governo. A confrontação do tipo Chávez fora já não vai ocorrer", afirmou o analista Luis Vicente León. "A oposição terá de imitar o Chávez para poder superá-lo", afirmou o analista político Nicmer Evans, que vê semelhanças na tática utilizada por Capriles e pela oposição no Brasil em 2006, durante a disputa pela reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando a figura do presidente era poupada por seus adversários. 

"Assim como no Brasil, a oposição não atacará diretamente Chávez. Se fizer isso, fracassa", acrescentou. 

O analista político Oscar Schemel da consultoria Hinterlaces considera ineficaz, no entanto, insistir na tentativa de "copiar" Chávez para poder vencê-lo. "Para ganhar de um competidor, é preciso se diferenciar dele. Os imitadores nunca conseguem superar o original, ao contrário, acabam reforçando seus valores", afirmou Schemel à BBC Brasil. 

"Capriles terá de superar a proposta de Chávez, sem contradizê-la", acrescentou. 

O programa apresentado pela coalizão opositora, no entanto, confronta as bases estruturais do governo chavista. Entre outros aspectos, a proposta prevê incrementar a participação privada na exploração petrolífera do país, redução da participação do Estado em projetos de desenvolvimento, devolução de terras desapropriadas para a reforma agrária aos antigos proprietários, e a eliminação do fundo de reservas Fonden que sustenta os planos sociais do governo, elementos que na visão de alguns analistas abrem caminho para a restruturação do modelo neoliberal no país. 

Após o anúncio dos resultados, os outros quatro candidatos da oposição que saíram derrotados - Pablo Perez, Maria Corina Machado, Diego Arria e Pablo Medina - manifestaram apoio à candidatura de Capriles Radonski e devem acompanhar sua equipe de campanha nos próximos meses. 

Radicalização e classe média 


A expectativa é que neste ano ocorra uma reedição do ano 2004, quando a oposição coletou assinaturas para revogar o mandato do presidente Hugo Chávez. A ameaça ao governo mobilizou milhares de simpatizantes chavistas, marcando o auge da polarização no país. 

Na ocasião, Chávez saiu vitorioso com mais de 60% dos votos. Para Schemel, Capriles não vai ter de enfrentar somente um presidente popular e sim a uma espécie de "líder religioso". "A fortaleza de Chávez e seu discurso moral, marcado por uma visão justiceira que prega igualdade é muito forte para os setores populares, difícil de superar", afirmou Schemel à BBC Brasil. 

Para o presidente venezuelano Hugo Chávez, cuja popularidade foi impulsionada depois do tratamento contra câncer, o principal desafio será reconquistar os chavistas desiludidos com o governo e melhorar a capacidade de gestão do Executivo. Para se reaproximar do eleitor, Chávez tende a radicalizar sua proposta de governo. 

Por um lado, com a ampliação de programas sociais de transferência de renda e ao mesmo tempo ampliar a polarização sobre a disputa entre os modelos capitalista e socialista e na caracterização de seu adversário como representante dos interesses dos Estados Unidos, principal inimigo da chamada revolução bolivariana. 

"Preparem-se, o candidato que sair (eleito) será o candidato da contra-independência, nem sequer do capitalismo", afirmou no sábado. "O tema será se somos livres ou se somos colônia", acrescentou. 

Por outro lado, Chávez tentará atrair a classe média, centro da disputa eleitoral, com créditos hipotecários, ampliação de incentivos à microempresários e inclusão deste setor da sociedade em seus discursos. 

"No discurso Chávez tende a polarizar, mas na estratégia deverá estabelecer pontes a outros setores, entre eles a classe média e os jovens eleitores", afirmou o analista político Nicmer Evans. 

No domingo, Chávez disse que vencerá as eleições de outubro e que continuará "lutando" para construir a Venezuela "socialista". 

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