marxistas versus liberais.
Do lado marxista, David Harvey.
(Assista ao vídeo e leia a resenha do livro.)
Pelo lado liberal, o jornal Financial Times:
"Crises têm o poder de desencadear reformas estruturais" *
O capitalismo tem um extraordinário instinto de sobrevivência. Isso se deve, em parte, ao fato de as crises desencadearem reformas que o tornam mais robusto, eficaz e politicamente legítimo. Quanto maior a crise, maiores as reformas. Como a Grande Depressão da década de 1930 foi a maior crise econômica da história, ela gerou reformas igualmente substanciais. A Segunda Guerra Mundial colaborou nesse esforço, ao enfatizar as terríveis consequências de crises, aglutinando os aliados e tornando a sociedade mais coesa.
As reformas resultantes nasceram da própria experiência e da revolução no pensamento econômico - o keynesianismo - que a experiência deflagrou. Muitos governos, inclusive o dos EUA, promulgaram o objetivo do pleno emprego e aceitaram o papel primordial da política fiscal. O objetivo do pleno (ou "máximo") emprego continua sendo, juntamente com a estabilidade de preços, uma das missões geminadas do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA). A economia keynesiana também moldou o pensamento sobre o novo regime monetário mundial, consagrado no Fundo Monetário Internacional. O objetivo de conversibilidade monetária foi, em consequência, limitado a transações em conta corrente, uma vez que os fluxos de capitais livres eram considerados desestabilizadores.
A experiência da década de 1930 produziu três reformas adicionais.
A primeira foi a regulamentação financeira e os controles sobre os fluxos de capital. Nos EUA, a lei Glass-Steagall separou as atividades bancárias de investimento das operações bancárias comerciais. Controles rígidos sobre o mundo financeiro foram introduzidos em toda parte.
A segunda área de reformas foi o nascimento, ou pelo menos o rápido desenvolvimento, do Estado de bem-estar social em muitos países. Nos EUA, isso foi produto do New Deal, de Franklin Delano Roosevelt. No Reino Unido, o relatório Beveridge abriu caminho para o Estado de bem-estar atual. Ideias semelhantes sobre a disponibilização, pelo Estado, de uma rede de segurança social disseminaram-se por todo o Ocidente.
Finalmente, após a Segunda Guerra Mundial, teve início uma reversão cuidadosamente administrada do protecionismo dos anos 1930. Ela foi consagrada no Acordo Geral de Tarifas e Comércio e, em última instância, na Organização Mundial do Comércio; e também nos precursores da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da União Europeia.
A crise atual é menor do que a da década de 1930 - até agora. No entanto, trata-se de um evento de grandes proporções, especialmente em associação com uma migração do poder econômico para o Oriente. Se isso trará grandes reformas ainda não está claro. Mas é possível.
* Tradução publicada no Valor de 26/01/2012.
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Do lado marxista, David Harvey.
(Assista ao vídeo e leia a resenha do livro.)
Pelo lado liberal, o jornal Financial Times:
"Crises têm o poder de desencadear reformas estruturais" *
O capitalismo tem um extraordinário instinto de sobrevivência. Isso se deve, em parte, ao fato de as crises desencadearem reformas que o tornam mais robusto, eficaz e politicamente legítimo. Quanto maior a crise, maiores as reformas. Como a Grande Depressão da década de 1930 foi a maior crise econômica da história, ela gerou reformas igualmente substanciais. A Segunda Guerra Mundial colaborou nesse esforço, ao enfatizar as terríveis consequências de crises, aglutinando os aliados e tornando a sociedade mais coesa.
As reformas resultantes nasceram da própria experiência e da revolução no pensamento econômico - o keynesianismo - que a experiência deflagrou. Muitos governos, inclusive o dos EUA, promulgaram o objetivo do pleno emprego e aceitaram o papel primordial da política fiscal. O objetivo do pleno (ou "máximo") emprego continua sendo, juntamente com a estabilidade de preços, uma das missões geminadas do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA). A economia keynesiana também moldou o pensamento sobre o novo regime monetário mundial, consagrado no Fundo Monetário Internacional. O objetivo de conversibilidade monetária foi, em consequência, limitado a transações em conta corrente, uma vez que os fluxos de capitais livres eram considerados desestabilizadores.
A experiência da década de 1930 produziu três reformas adicionais.
A primeira foi a regulamentação financeira e os controles sobre os fluxos de capital. Nos EUA, a lei Glass-Steagall separou as atividades bancárias de investimento das operações bancárias comerciais. Controles rígidos sobre o mundo financeiro foram introduzidos em toda parte.
A segunda área de reformas foi o nascimento, ou pelo menos o rápido desenvolvimento, do Estado de bem-estar social em muitos países. Nos EUA, isso foi produto do New Deal, de Franklin Delano Roosevelt. No Reino Unido, o relatório Beveridge abriu caminho para o Estado de bem-estar atual. Ideias semelhantes sobre a disponibilização, pelo Estado, de uma rede de segurança social disseminaram-se por todo o Ocidente.
Finalmente, após a Segunda Guerra Mundial, teve início uma reversão cuidadosamente administrada do protecionismo dos anos 1930. Ela foi consagrada no Acordo Geral de Tarifas e Comércio e, em última instância, na Organização Mundial do Comércio; e também nos precursores da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da União Europeia.
A crise atual é menor do que a da década de 1930 - até agora. No entanto, trata-se de um evento de grandes proporções, especialmente em associação com uma migração do poder econômico para o Oriente. Se isso trará grandes reformas ainda não está claro. Mas é possível.
* Tradução publicada no Valor de 26/01/2012.
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