Criado em 1909, o Dnocs foi a principal agência federal no Nordeste até a criação da
Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), em 1959,
construindo, inclusive, obras de infraestrutura, como estradas,
ferrovias e redes de energia.
Um órgão centenário
André de Souza*
Criado para combater seca, Dnocs foi apropriado pelas elites do Nordeste.
BRASÍLIA. Criado em 1909, com o nome de Inspetoria de Obras Contra as Secas (Iocs), o centenário Dnocs já foi o centro de outros escândalos no passado.
Entre os de maior repercussão, o que envolveu o então presidente da Câmara, o deputado pernambucano Inocêncio Oliveira, em 1993. Inocêncio foi acusado de usar o Dnocs para perfurar três poços artesianos em suas terras, no sertão pernambucano.
O Dnocs foi a principal agência federal no Nordeste até a criação da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), em 1959, construindo, inclusive, obras de infraestrutura, como estradas, ferrovias e redes de energia.
Entre os motivos que levaram à criação de outras agências estavam as denúncias de que o Dnocs e seus antecessores foram capturados pelas elites locais, destinando recursos, por exemplo, para a construção de açudes nas fazendas de grandes proprietários.
Assim, a expressão “indústria da seca” ganhava vida.
O primeiro diretor da Iocs, o engenheiro Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa, já havia observado intromissão política na orientação científica dos trabalhos conduzidos pelo órgão, levando-o a organizar novo regulamento, em 1911, para obter informações mais confiáveis sobre os índices pluviométricos na região.
As mudanças de governo também afetaram o Dnocs e seus antecessores. Já em 1919, chegou à Presidência da República o paraibano Epitácio Pessoa, que deu maior destaque à IOCS, renomeando- a como Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (Ifocs). Sua determinação era fazer obras. Mas não houve continuidade no governo seguinte, do presidente mineiro Artur Bernardes, e o Ifocs quase desapareceu.
Depois do Dnocs — que ganhou esse nome em 1945 — e a Sudene, surgiriam ainda outras agências que enfocavam também o desenvolvimento da Região Nordeste, como a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).
Publicado em O Globo, 25/01/2012.
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