11 agosto 2011

Crises agudas expõem fragilidade das previsões

 Charge: Clay Bennett.
Estudo aponta que experts se saem pouco melhor que o acaso ao fazer projeções econômicas e de eventos políticos

O CÉREBRO HUMANO PROCURA TÃO AVIDAMENTE POR PADRÕES QUE OS ENCONTRA ATÉ MESMO ONDE ELES NÃO EXISTEM
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA, 07/08/2011

Sempre que as Bolsas de todo o mundo despencam em uníssono, economistas e jornalistas são recriminados por não ter previsto a crise.
De fato, o histórico de prognósticos corretos dessas categorias (às quais se deve somar a dos analistas políticos) não é dos melhores.
Num estudo de 2005, o psicólogo Philip Tetlock coletou ao longo de 20 anos 28 mil previsões sobre economia e eventos políticos feitas por 284 experts em diversos campos. A conclusão básica é que eles se saíram pouco melhor que o acaso. Um macaco lançando uma moeda obteria resultados comparáveis.
Por quê? Quem arrisca algumas explicações é Dan Gardner em "Future Babble" (balbucio sobre o futuro).
Nós nos habituamos a ver a ciência prevendo com enorme sucesso fenômenos como eclipses e marés. Só que esses são sistemas não complexos. Aqui, para efeitos práticos, o todo não difere da soma das partes, o que permite montar equações que resultam em predições acuradas.
O problema é que muitos fenômenos naturais e quase todas as atividades humanas constituem sistemas complexos, nos quais o todo é mais do que a soma das partes.

AS PARTES E O TODO
Pense num avião. Nenhuma das peças que o compõem é capaz de voar, mas o conjunto apresenta essa característica. Prognósticos sobre sistemas complexos, quando possíveis, ficam à mercê de pequenas perturbações que podem alterar de forma dramática os resultados.
A analogia que cabe é com a previsão meteorológica. Os modelos funcionam bem para um período de 24 horas. Se queremos uma predição para dois dias, o índice de acerto cai consideravelmente. Previsões para mais de duas semanas já são inúteis.
Se assimilássemos bem essa lição, só levaríamos a sério experts que expressassem suas previsões na forma "há x% de probabilidade de que o cenário y se materialize".
No mundo real, porém, não é o que acontece. O cérebro humano procura tão avidamente por padrões que os encontra até mesmo onde não existem. Temos ainda compulsão por histórias, além de um desejo irrefreável de estar no controle.
Dessa forma, alguém que ofereça numa narrativa simples uma explicação sobre o mundo já estará apelando a várias de nossas preferências inatas.
Se esse modelo trouxer ainda a perspectiva de predizer o futuro, nós simplesmente não resistimos.
Não é por outra razão que oráculos e profecias estão presentes em quase todas as religiões.

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