16 junho 2010

A escravidão no Brasil


Uma pesquisa da Universidade de Brasília revela dados importantes e abre portas a uma outra interpretação sobre a dimensão da escravidão no Brasil Imperial

A escravidão no Brasil era mais comum e cotidiana do que se imagina. Os escravos não apenas foram a mão-de-obra essencial à produção econômica agroexportadora, ligada aos ciclos econômicos do açúcar e do café. Ela estava presente em toda a produção da vida material da Colônia e do Império.

Conforme a pesquisa (divulgada pela UnB), apenas 27 dos 25 mil proprietários de negros escravizados registrados oficialmente em Estados como São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Piauí, em 1873, tinham mais de 100 escravos. Mais da metade dos proprietários tinha até 4 escravos e pelo menos 10 mil eram proprietários de apenas um.

Além dos grandes latifundiários, os escravos (em sua maioria) estavam nas casas de famílias comuns de brancos e também em pequenas propriedades rurais. Descobriu-se que, em Pernambuco, que foi a capitania mais importante para Portugal e centro da atividade econômica do açúcar, entre os séculos XVI e XVII, mais da metade dos senhores tinha menos de 20 escravos.


Os números da pesquisa, apresentados em debate do Núcleo de Estudos Comparados do Escravismo Brasileiro (UnB), fazem parte de um projeto que envolve também a UFPE, a Universidade de São Paulo (USP) a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e a do Rio Grande do Sul (UFRGS).


A pesquisa baseou-se em quase quatro mil inventários de propriedade. Os escravos eram considerados uma propriedade dos senhores. Os documentos abrangem quase um século de escravidão, alcançando o período de 1800 a 1888. Significa dizer que o estudo toma um período posterior ao do auge do sistema escravista, que é o do ciclo do açúcar. Outra questão que precisa ser analisada é de até que ponto esses dados não foram afetados pela legislação posterior que, paulatinamente, foi estabelecendo algumas restrições à escravidão (como as leis do Ventre Livre, Sexagenários e de proibição do tráfico).


De todo modo, a pesquisa tem uma importância extraordinária. Pode dar uma ideia mais precisa da escravidão no século XIX, ou seja, em sua fase final. Principalmente, pode dar pistas mais precisas sobre seu declínio - acelerado com a expansão cafeeria pelo interior paulista - e sua sobrevivência subterrânea, mitigada na forma de trabalho doméstico, no trabalho informal e na dependência econômica, nas relações de compadrio e troca de favores.

A pesquisa será lançada em livro (dois volumes) e foi financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF).
 

Mais detalhes sobre a pesquisa estão na página da UnB


Sobre o assunto, leia também 

A obra clássica de Jacob Gorender, "O Escravismo Colonial".


Escravidão, racismo e a obra de Gilberto Freyre.



Um comentário:

  1. Tenho os dados do CENSO Oficial de 1872 no Brasil aqui:
    Brancos 3 787 289
    Pretos 1 954 452
    Pardos 4 188 737
    Sendo que escravos eram 1, 5 milhões.
    Portanto, mais pardos e pretos livres, do que brancos. Mesmo tirando os escravo, ainda eram maioria e livres. Na assinatura da lei Áurea pela Princesa Izabel, existiam apenas por volta de 700 mil escravos.

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