29 janeiro 2023

"A defesa da independência do banco central, como foi apresentada na literatura econômica na década de 1980, foi uma desgraça acadêmica."

"Isso é ameaçador e, às vezes, aterrador por si só."
James Forder, Balliol College, Oxford, UK, e diretor de pesquisas do Institute of Economic Affairs (IEA),  think tank britânico.

"Foi, antes de tudo, intelectualmente uma desgraça. A tão alardeada teoria da credibilidade nem sequer sustentava a proposta; o "viés legalista" de ler estatutos para descobrir comportamento foi contra a compreensão até mesmo de um aluno do primeiro ano da graduação sobre a importância de incentivos e restrições; as correlações simples em que tais medidas de independência foram usadas para demonstrar seu efeito sobre a inflação seriam rejeitadas de cara em uma banca de mestrado, mesmo sem a circularidade de selecionar medidas conforme sua aderência à correlação com a variável a ser explicada. 
Também foi uma desgraça profissional provocar tão poucos comentários críticos ou contrários. Houve um imenso groupthinking. E não alivia a questão que havia tantos economistas que poderiam ter pensado que tinham algo a ganhar com a aceitação das idéias. A complacência quanto à desejabilidade da independência seguiu-se à quase unanimidade de opinião que se desenvolveu. 
Isso é ameaçador e, às vezes, aterrador por si só."

A análise é de James Forder, do Balliol College, Oxford, UK, e diretor de pesquisas do Institute of Economic Affairs (IEA ),  think tank britânico. (Leia em: Forder, James. "The fallacies of central bank independence." Economic Affairs 42, no. 3 (2022): 549-558. Available at https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/ecaf.12554) e entrevista em https://iea.org.uk/films/central-bank-independence-time-for-a-rethink/

Até mesmo institutos ultraliberais recomendam bancos centrais independentes mais para países em desenvolvimento do que para si próprios - na linha do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. A exemplo, o Cato (think tank libertário americano financiado, entre outros, pelas indústrias Koch) avalia: 

"A forte ênfase na ideia de bancos centrais independentes levou a uma visão estreita do papel dos bancos centrais. Como resultado, os bancos centrais desconheciam os riscos para a estabilidade financeira e estavam mal preparados para responder à crise financeira. No mundo dos mercados emergentes menos desenvolvidos, haver bancos centrais independentes melhorou a gestão e a governança de políticas [monetárias]." (Cato).


É bom lembrar que até mesmo Milton Friedman, em um artigo de 1962, intitulado Deve haver uma autoridade monetária independente? (Should There Be an Independent Monetary Authority?), dizia que instituir bancos centrais independentes seria como criar "uma espécie de Constituição monetária" sem qualquer controle democrático sobre suas metas e resultados.

 

"Parece-me altamente duvidoso que os Estados Unidos, ou qualquer outro país, tenha tido na prática um banco central independente no sentido mais amplo do termo. Mesmo quando os bancos centrais supostamente eram totalmente independentes, eles exerceram sua independência apenas enquanto não houve conflito real entre eles e o governo. Sempre que houve um grave conflito, como em tempos de guerra, entre os interesses das autoridades fiscais em captar recursos e os interesses das autoridades monetárias em manter a conversibilidade em espécie, o banco quase sempre cedeu, em detrimento da autoridade fiscal." (Friedman, , M. (1962) “Should There Be an Independent Monetary Authority?” In L. B. Yeager (ed.), In Search of a Monetary Constitution, 219–43. Cambridge, Mass.: Harvard University Press. https://doi.org/10.4159/harvard.9780674434813.c9).

Para Friedman, era inadmissível “em uma democracia haver tanto poder concentrado em um órgão livre de qualquer tipo de controle político direto e efetivo”.






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