21 junho 2019

Os desesperados


Número de desempregados de longo prazo cresce 42,4% em quatro anos

Estudo do Ipea mostra perfil de 3,3 milhões de brasileiros sem emprego há mais de dois anos

A parcela de desempregados que está nesta situação há mais de dois anos avançou de 17,4% no 1º trimestre de 2015 para 24,8% no mesmo período de 2019, atingindo 3,3 milhões de pessoas

O crescimento é de 42,4% em quatro anos, aponta análise de Mercado de Trabalho divulgada nesta terça-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE.

Segundo dados do primeiro trimestre deste ano, o desemprego de longo prazo atinge mais fortemente as mulheres

Entre as desocupadas, 28,8% estão nesta condição há pelo menos dois anos, contra 20,3% dos homens desempregados na mesma situação – embora o crescimento tenha sido maior entre o público masculino. 

Na análise por faixa etária, 27,3% dos desocupados com mais de 40 anos insistem sem sucesso na busca por trabalho há pelo menos dois anos, mas o crescimento do desemprego de longo prazo é maior entre os jovens. As regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas.

Além do aumento no tempo de permanência no desemprego, o estudo mostra que os efeitos da crise econômica sobre o mercado de trabalho também vêm impactando a renda domiciliar. 

Em que pese algum ganho real, os dados da Pnad mostram que, no 1º trimestre de 2019, 22,7% dos domicílios brasileiros não possuíam nenhum tipo de renda proveniente do trabalho, e que os domicílios de renda mais baixa foram os que apresentaram menores ganhos salarias. A análise mostra, ainda, que a renda dos domicílios mais ricos é 30 vezes maior que a dos domicílios mais pobres.   

A seção Mercado de Trabalho da Carta de Conjuntura do Ipea também analisa os contratos de trabalho intermitente (temporário e esporádico) e de jornada parcial (até 30 horas semanais), que totalizam 15,5% do total de empregos com carteira assinada gerados a partir da entrada em vigor da reforma trabalhista. Das 507.140 novas vagas de trabalho abertas de novembro de 2017 a abril de 2019, 58.630 foram para trabalho intermitente e 19.765 para parcial, geralmente nos setores de serviços e comércio. Enquanto a maioria das vagas intermitentes foi destinada aos homens (63,6%), as mulheres formam a maior parcela das ocupações parciais (60,7%). A maioria dessas vagas está concentrada nas empresas de pequeno porte, com até 19 funcionários.
    
O mercado de trabalho brasileiro segue bastante deteriorado, com altos contingentes de desocupados, desalentados e subocupados. Para o restante do ano, porém, a expectativa é de manutenção de uma recuperação gradual da ocupação e da renda média. 

Fonte: Ipea.

Nota crítica:
O estudo "espera" uma queda mais expressiva da taxa de desemprego e da desigualdade, com retomada mais forte do nível de atividade, se houver a aprovação da reforma previdenciária no 2º semestre de 2019. 

No entanto, não se explica como é que uma proposta de redução do valor de aposentadorias e benefícios da renda das famílias pode aumentar a renda dos mais pobres, ao invés de diminuí-la. 

A reforma da previdência não foi desenhada como política redistributiva, e sim como política de ajuste fiscal, portanto, não tem o condão, por si só, de melhorar tal situação. O que também se vê, pelo andar da carruagem da proposta no Congresso (que tenta mitigar algumas das piores maldades da proposta do governo) é que a reforma será incapaz de reduzir privilégios e de reverter ganhos significativos para os mais pobres. 

O estudo, desatento ao universo da política, acaba por fazer uma projeção pouco provável. Não considera nem mesmo outros estudos do Ipea que mostram que eventuais ganhos fiscais são continuamente drenados, como um ralo, pelo lobby de setores mais ricos que pressionam por políticas de desoneração tributária, e nisso têm sido muito bem sucedidos. O custo das renúncias está crescendo, e não diminuindo. Para se ter uma ideia, só em renúncias fiscais, o governo gastou, em 2018, mais de 280 bilhões de reais (TCU, 2019).

Ou seja, nada garante que uma redução de gastos previdenciários seja revertida em investimentos públicos e em gastos redistributivos em saúde, educação e assistência. Muito pelo contrário.















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