O escritor Voltaire tentou responder a isso em 1759.*
"Existem pelo menos três Voltaires diferentes. O primeiro é o escandaloso Voltaire, que aos dezessete anos se tornara o principal polemista na França, com uma série de peças e poemas bem carregados, o suficiente para ser jogado na Bastilha por duas vezes por perturbação e, em 1726, ser exilado para a Inglaterra.
[...]
Em seguida, há o cientista Voltaire, que retornou à França em 1728 e [...] escreveu sobre matemática e ciência e fez mais do que tudo para trazer a notícia da física newtoniana para a Europa. Então, dos anos 1750 até a sua morte, em 1778, há o Voltaire socialmente consciente, o Voltaire que se tornou um dos primeiros defensores dos direitos humanos na Europa.
[...]
A obra de Voltaire, nesse ponto, consistia essencialmente em muito jornalismo, ensaios, poemas, adaptações, histórias vívidas e peças históricas, todas lançadas à imaginação pública por uma única e forte personalidade.
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Quando ele escreveu que era nosso dever cultivar nosso jardim, ele realmente sabia o que significava cultivar um jardim.
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Era um jardim com um princípio. Representava o que ele via como um novo ideal francês de felicidade doméstica, janelas amplas e portas abertas, a "simplicidade" em si.
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Ele cunhou sua frase mais famosa, "écrasez l'infâme" - “Esmague o horror” - e começou a usá-lo, de maneira abreviada (e evasivamente).
Os historiadores discutiram durante séculos o que exatamente Voltaire queria dizer - a Igreja Católica? os tribunais? - mas está claro. O horror foi a aliança do fanatismo religioso com os instrumentos do Estado, e os dois associados para a tortura e o assassinato oficial.
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É contra esse pano de fundo, de um jardim construído e dos fanáticos que o invadem, que Voltaire escreveu “Candide”, em 1759.
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Contra os horrores da crueldade religiosa e do vazio da apologia religiosa, Voltaire propõe o que, exatamente?
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A força do [...] “precisamos cultivar nosso jardim” [frase do livro Candide] é que nossa responsabilidade é local e concentrada na ação imediata. [...] William Safire argumentou que essa "onda de generosidade" na verdade "refuta o ceticismo de Voltaire", conforme expresso em "Candide".
O horror que Voltaire queria esmagado, a crueldade em nome de Deus e da civilização, era algo específico e contingente. Sua sátira de otimismo ["Candide"] é, nesse sentido, um livro otimista - otimista não apenas em sua alegria, que implica a possibilidade de ver as coisas como elas são, mas também em seu argumento. Voltaire não acreditava que houvesse qualquer justiça ou equilíbrio no mundo, mas acreditava que as más ideias tornavam as pessoas más.
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Voltaire prosseguiu para uma série de confrontos com as conseqüências da crueldade humana que, duzentos e poucos anos depois, continuam agitando sua coragem e perseverança."
* O texto acima é um extrato, com tradução livre, do artigo de Adam Gopnik, escritor, publicado pela revista The New Yorker em março de 2005. Leia o artigo completo (em inglês).
François-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo Voltaire, nasceu em Paris, 21 de novembro de 1694, e morreu também em Paris, aos 30 de maio de 1778.
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