03 outubro 2017

Pesquisa mostra como Brasil protege sua elite endinheirada

Foi sobretudo a classe média quem pagou a ligeira ascensão dos mais pobres na última década. 
Mesmo isso, porém, agora tem sido revertido.
O fato explica o ódio que tanto vicejou na classe média, a ponto de algumas de suas parcelas se tornarem as mais raivosas opositora de programas sociais.


Segundo o economista Marc Morgan, doutorando em economia pela Escola de Economia de Paris e na prestigiada École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, 
While elites and the poor made gains, the Middle 40% of the distribution decreased its share from about 34% to 32%, posting less growth than the average for the whole economy. The “squeezed middle” is a product of its relatively low share of income and poor growth performance. Thus, inequality among the bottom 90% declined at the expense of growing concentration at the top. While labour income inequality did register a decline according to our corrected series, it was insufficient to mitigate the concentration of capital resources and reverse the growing concentration of national income among elite groups.

Ou seja, enquanto as elites e os pobres ganharam alguma coisa, nos últimos anos, a classe média foi espremida. Assim, quando o país cresceu, a desigualdade entre os 90% mais pobres declinou, ao mesmo tempo em que se viu uma crescente concentração no topo. 

A capacidade que as elites brasileiras têm demonstrado de reter renda e bloquear sua distribuição mais equânime entre a população é o fator  crucial que explica inclusive as sofríveis taxas de crescimento econômico do país.

Ainda segundo Morgan, que é orientando de Thomas Piketty,

Overall, elites still managed to capture disproportionate fractions of total growth due to their disproportionate share in total income. Over the short-to-medium term, it is the share of income that matters more than its growth

Traduzindo, as elites ainda conseguem capturar parcelas desproporcionais do crescimento econômico brasileiro, em função dessa desigualdade estrutural da renda. No curto e médio prazo, essa distribuição absurdamente desigual da renda importa mais do que o crescimento.


Leia o artigo:
Morgan, Marc. Extreme and Persistent Inequality: New Evidence for Brazil Combining National Accounts, Surveys and Fiscal Data, 2001-2015. WID.world WORKING PAPER SERIES N° 2017/12, august 2017. [abrir arquivo pdf




Analisei, em 2015, as consequências políticas dessa situação que foi um arranjo comum a vários dos governos de esquerda na América Latina. 

Dizia eu, à época, que


"A classe média tornou-se o maior contingente de inconformados. Como os governos de esquerda não mexem ou mexem muito pouco com os ricos, é principalmente sobre a classe média que recaem os custos maiores das políticas de benefícios sociais aos mais pobres.  
A classe média foi penalizada com impostos mais altos que bancam uma grande proporção dos gastos dos governos. Embora os gastos maiores do Estado sejam com os mais ricos, são os programas sociais para as camadas de mais baixa renda que mais irritam a classe média. 
Essa classe média se sente passada para trás quando recorda que tinha custos bem mais baixos, por exemplo, com a mão de obra de serviços domésticos, e uma situação de servilhismo dos pobres em relação a ela.  
Mesmo que não fosse rica, a classe média vivia em uma condição social distinta em que parecia fazer parte do mundo dos ricos, mesmo que em menor escala.  
O castelo de ilusões da classe média tradicional ruiu...A revolta da classe média é que isso tornou-se possível com o patrocínio de seu dinheiro, usado pelos governos de esquerda em benefício dos mais pobres. Por isso, a radicalização direitista de uma parte dessa classe se volta contra esses governos, e não contra partidos de direita.  
Para esse setor da classe média, a ameaça que sofre não vem dos ricos, e sim dos pobres. Eles lhes causam asco, indignação e um sentimento de ódio pela perda da noção de superioridade, na medida em que os pobres que ascenderam já nem acreditam mais nisso. Essa parcela da classe média, ainda minoritária, mas crescente, aprecia o elitismo radical embalado pelo liberalismo autoritário."


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