Fazia tempo, talvez, desde Maílson da Nóbrega, que o Brasil não tinha um ministro da Fazenda tão ruim quanto Joaquim Levy. Por isso mesmo, ele já deve estar sendo convidado por veículos tradicionais para ingressar no comentarismo econômico gourmet, aquele que adora convidar para fazer receitas quem se mostrou exímio no ofício de queimar o bolo.
O principal feito de Levy em sua gestão à frente da Fazenda foi no campo midiático. Ele conseguiu a façanha de produzir uma retrospectiva 2015 sobre si mesmo, antecipadamente às demais. Deu até para perceber que, de tão instantânea, a reprospectiva não foi feita às pressas. Já estava pronta, esperando apenas a confirmação da saída do ministro para ser posta no ar.
Segundo o script, Levy chegou ao governo cheio de boas intenções. Propôs um duro ajuste, que não foi feito por completo. O ministro foi posto para escanteio; a situação econômica piorou; o País foi rebaixado por agências de classificação e Levy pediu para sair.
Trocando em miúdos, Levy virou alguém... decorativo - mais um para o time. O roteiro até parece o da cartinha de Michel Temer. Se a intenção era mostrar que Levy era um ministro fraco, deu certo.
Quanto à caveira que fizeram de Nelson Barbosa, ela pelo menos deixa claro que, a partir de agora, há um ministro da Fazenda na Esplanada dos Ministérios, nem que seja para se jogar a culpa por erros cometidos. Até ontem, nem isso o Brasil tinha.
Levy entrou e saiu do prédio do Fazenda sem ter sido jamais um ministro da Fazenda de fato. Não era ministro, estava ministro, e por vontade própria. Desde o início, comportou-se como se fosse ainda, tão somente, o secretário do Tesouro, cargo que ocupou de 2003 a 2006. Obsessivamente preocupado com a variável gasto público, foi incapaz de exercer a liderança que se espera de um ministro da Fazenda diante dos agentes econômicos.
Certamente, Levy não é o único e nem sequer o principal culpado pela situação econômica do país. O que se deve criticar em Levy é ele ter ocupado a cadeira de ministro da Fazenda e nunca ter conseguido de fato agir enquanto tal, a não ser às avessas. Com o minimalismo da Escola de Chicago, Levy minimizou a si próprio o quanto pôde.
Dia desses, o mesmo pessoal que fez a retrospectiva Levy 2015 colocou no ar o economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Ele nos brindou com a frase lapidar de que governos não produzem grandes reformas. Quem produz grandes reformas são grandes crises.
Se jogarmos a frase de Lisboa no Google Translator, o resultado que sai é: "quanto pior, melhor". Piorar a situação a tal ponto que o governo, na lona, se disponha a fazer qualquer coisa, por mais insana que pareça: belo plano.
Longe de ter sido um representante do mercado financeiro, Levy representou apenas a mediocridade da política econômica ditada pelo financismo, esse mesmo agente que, entre outras coisas, produz expressões como a do ventriloquismo de Marcos Lisboa.
(*) Artigo do blog de Antonio Lassance
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