om dificuldades nas duas regiões, e sem perspectiva de crescimento no Centro-Oeste, oposição acha que tem mais chances no Norte e Nordeste.
Cisão dos Democratas, com a criação do PSD, explica parte dessa reacomodação.
Maiores apostas da oposição estão no N e NE
Cristian Klein *
De São Paulo Reduzida progressivamente desde a chegada do PT à Presidência em 2003, a oposição fará suas maiores apostas na disputa municipal deste ano em capitais do Norte e Nordeste. São justamente as duas regiões que se transformaram em redutos eleitorais dos petistas e de fortes aliados, como o PSB.
A concentração de candidaturas nestas "regiões minadas" pode tornar a sobrevivência dos adversários do governo federal nas capitais uma missão ainda mais difícil.
Hoje apenas uma entre as 26 cidades é administrada pela oposição: São Luís, no Maranhão. Sérgio Guerra (PSDB-PE), deputado federal e presidente do maior partido da oposição, aponta sete capitais como a linha de frente nas expectativas dos tucanos. Seis delas estão nestas regiões: João Pessoa, Maceió, Teresina e São Luís, no Nordeste; e Rio Branco e Belém, no Norte.
A outra é Goiânia, no Centro-Oeste. As maiores esperanças do DEM, segunda maior sigla oposicionista, estão em seis candidaturas, cinco das quais no Norte e Nordeste. Seu presidente nacional, o senador José Agripino Maia (RN), destaca as chances nas nordestinas Salvador, com o deputado federal ACM Neto; Aracaju, com o ex-governador João Alves; Fortaleza, com o ex-deputado federal Moroni Torgan; e Recife, com o deputado federal Mendonça Filho), além de Macapá, com o deputado federal Davi Alcolumbre, no Norte.
A sexta cidade, como para o PSDB, também está no Centro-Oeste: Campo Grande, com o deputado federal Mandetta. Na quinta-feira, os dois partidos anunciaram uma aliança em quatro capitais do Nordeste. Em três delas, Aracaju, Fortaleza e Salvador, a chapa será encabeçada pelo DEM, e em Natal, pelo PSDB, com o deputado federal Rogério Marinho.
A capital potiguar, contudo, é a única entre as nove da região que não foi apontada como promissora pela oposição. Ali, os favoritos são o ex-prefeito Carlos Eduardo (PDT) e a ex-governadora Wilma de Faria (PSB). José Agripino Maia considera uma "mera circunstância" a concentração geográfica. "A oposição não é nordestina, está bem distribuída, como os outros partidos", diz o senador, embora aponte a criação do PSD, pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, como uma das explicações.
Kassab saiu do DEM e levou dele parte importante. "Em Santa Catarina, se não tivéssemos sido abandonados, seríamos hegemônicos em Florianópolis. [O PSD] nos tirou essa expectativa sulista. O próprio prefeito de São Paulo foi eleito pelo Democratas", justifica Maia. Em Santa Catarina, o governador Raimundo Colombo levou praticamente todos os integrantes do DEM para o PSD.
Pela primeira vez com uma política de alianças mais flexível, o pequeno PSOL - que faz oposição à esquerda do governo federal do PT - pode surpreender neste ano. E seus dois trunfos estão na região Norte. A legenda lidera em Belém, com o ex-prefeito e ex-petista Edmilson Rodrigues, e tem chances com o vereador Clécio Luís, em Macapá, que conta com o senador e correligionário Randolfe Rodrigues como cabo eleitoral.
O PPS - que nas últimas quatro eleições só fez o prefeito de duas capitais, Boa Vista e Porto Alegre, em 2004 - é o único que aponta uma cidade do eixo Sul-Sudeste: Vitória, com o deputado estadual Luciano Rezende, além de Belém, com o federal Arnaldo Jordy. "É curioso esse dado, porque o Norte e o Nordeste são os lugares onde fomos massacrados [na corrida presidencial] e os vitoriosos foram Lula e Dilma. E no Sul, onde ganhamos, a oposição tem fragilidades", surpreende-se o deputado federal Roberto Freire, presidente do PPS.
O declínio tem sido progressivo. O retrospecto das siglas da oposição nas últimas eleições tem mostrado um processo de definhamento nas capitais das regiões Sul e Sudeste, as mais ricas do país. Em 2004, quatro das seis cidades conquistadas pela oposição estavam nessas regiões: São Paulo (José Serra), Curitiba (Beto Richa) e Florianópolis (Dário Berger), com o PSDB, e Rio de Janeiro (Cesar Maia), com o PFL. A diminuição acompanha a do cômputo geral: de seis capitais, em 2004, passou para cinco, em 2008, e hoje chega a uma.
A perda em relação à última disputa municipal deve-se à saída de Kassab do DEM e à dança das cadeiras depois da eleição para os governos estaduais, em 2010. Em virtude disso é que Sérgio Guerra argumenta que o PSDB detém apenas uma capital, pois dos quatro prefeitos eleitos em 2008, três deles - os de Cuiabá, Teresina e Curitiba - decidiram tentar a eleição para governador. Dois perderam - Wilson Santos e Silvio Mendes - e um ganhou, Beto Richa. "No Paraná, não temos mais a prefeitura, mas ganhamos o governo do Estado", ressalta.
Com tantas fichas postas em regiões dominadas por PT e PSB, o deputado minimiza a possibilidade de o resultado da corrida municipal representar novo golpe para a oposição. "O central não é a eleição de prefeitos; é a [disputa] proporcional, para vereadores", diz. Guerra alega que a conquista de prefeituras tem o potencial de aumentar a bancada dos partidos na Câmara dos Deputados, mas não necessariamente influencia a corrida presidencial. Apesar disso, o líder tucano acredita que a legenda aumentará seu número de prefeituras.
Nas sete capitais citadas, Guerra diz que os candidatos do PSDB são favoritos. No entanto, esta condição nem sempre se confirma - seja pelas pesquisas ou pelo cenário eleitoral que se desenha. É o caso de João Pessoa, na Paraíba. Ali, a esperança é de vitória do senador Cícero Lucena. Ele lidera, mas terá pela frente a candidatura da secretária de Planejamento da capital, Estelizabel Bezerra (PSB) - que representa as máquinas estadual e municipal, ambas comandadas pelo PSB -, e o ex-governador José Maranhão (PMDB), que perdeu a reeleição em 2010 por 53,7% a 46,3% para Ricardo Coutinho.
Em São Luís, João Castelo tem direito à reeleição, mas encontra enormes obstáculos. Castelo é acossado pelas máquinas federal e estadual - união entre o PT e o PMDB da família Sarney - e está mais de 30 pontos percentuais atrás do líder das pesquisas, o ex-deputado federal e presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Flávio Dino (PCdoB). Em Maceió, o nome é o do deputado federal Rui Palmeira.
O governador Teotônio Vilela Filho é tucano, mas a disputa volta-se para concorrentes do bloco de partidos ligados aos governos federal e municipal, como o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), que lidera as pesquisas. Os tucanos esperam ter bom desempenho em três capitais dos sete Estados que governam: além de Maceió, há Belém e Goiânia, com o deputado federal Zenaldo Coutinho e o secretário estadual Leonardo Vilela, respectivamente. Mas também contam com Rio Branco, onde tanto a prefeitura quanto o governo estadual estão com o maior adversário, o PT.
A expectativa no Acre deve-se ao recall de Tião Bocalom - que perdeu por 50,5% a 49,2% para Tião Viana - e à suposta falta de candidatos expressivos da base petista. "Está praticamente ganha", acredita o presidente do PSDB. Em Teresina, com o ex-prefeito Firmino Filho, o PSDB tentará retomar o comando da capital depois que Elmano Ferrer (PTB), que tem direito à reeleição, se aproximou do grupo do governador Wilson Martins (PSB), que também deve lançar candidato. Ferrer era vice do tucano Silvio Mendes, que saiu para disputar e perder o governo do Estado para Martins.
As maiores expectativas do PSDB se concentram nas regiões Norte e Nordeste, redutos do PT e do PSB, mas cujas nove capitais estão fragmentadas entre sete partidos. Curiosamente, a única aposta tucana fora destas regiões, Goiânia, no Centro-Oeste, também tem o PT - do prefeito Paulo Garcia, que tenta a reeleição - como maior adversário. No Sul e no Sudeste, onde os tucanos têm tido seus melhores desempenhos à Presidência e aos governos estaduais, São Paulo é a única capital em que o partido, segundo Sérgio Guerra, "está na disputa". Neste grupo, ele inclui ainda Campo Grande, Palmas, Natal, Recife e, talvez, Salvador.
Na capital paulista, o presidente do PSDB minimiza a pouca densidade eleitoral dos quatro pré-candidatos tucanos. "O do PT também é", diz. A diferença é que o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, terá como grande cabo eleitoral o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas Guerra diz que a transferência de votos como a ocorrida na eleição da presidente Dilma Rousseff não deve se repetir. "O Lula já perdeu várias eleições em São Paulo. E o passivo do Haddad é conhecido: o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]", afirma.
Em outros dois Estados governados pelo PSDB, apesar de não estarem na cabeça de chapa, os tucanos esperam colher vitórias tendo como aliado o PSB: Curitiba e Belo Horizonte.
No quadro geral de municípios, a meta da sigla é aumentar para mil o número de prefeituras. Uma tarefa complicada, já que a tendência tem sido de queda. Em 2000, o partido elegeu 989; em 2004, foram 870; e na última disputa, chegou a 790. O número, no entanto, é ainda menor, depois da debandada de prefeitos para o PSD de Kassab, no ano passado. "Não foram tantos, por volta de uns 30. No Ceará, sim, a perda foi grande", diz Guerra.
Um dos principais incentivadores da saída de prefeitos no Ceará foi o ex-tucano e ex-governador Ciro Gomes (PSB). O objetivo de eleger mil prefeitos, portanto, significaria um improvável aumento de 30% no desempenho do partido, que tem perdido em torno de 10% a cada eleição.
A taxa seria próxima à alcançada, em 2008, pelo PT, que cresceu 36%, embora ainda distante à do PSB, que aumentou em 79%. As duas legendas, de longe, são as que mais expandiram o número de prefeituras em relação a 2000: 199% (PT) e 136% (PSB).
O DEM foi a que mais definhou no período. De 1.026 para 494 (queda de 52%), isso sem levar em conta o êxodo para o PSD, no ano passado. José Agripino Maia afirma que o partido ainda está fazendo a contabilidade de quantas prefeituras estão sob seu controle.
* Matéria publicada no Valor, 06/02/2012
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