"Estou amarrado aqui tem dois dias, nessa situação humilhante. Tenho um
diploma universitário", disse o preso que se identificou apenas como
Pedro e afirmou ser formado em pedagogia.
Com diploma ou não, inadmissível. O advogado Sobral Pinto (1893-1991), grande ícone da luta por justiça e democracia no Brasil, recomendaria pelo menos usar a Lei de Proteção aos Animais.
Superlotada, delegacia de Goiás algema presos a argolas na parede
Renato Machado e Simone Iglesias*
Delegado de Anápolis afirma ter sido obrigado "com constrangimento" a adotar a medida
Ministra de Direitos Humanos vê tortura e diz que dificuldades com falta de vagas não justifica essa prática
Superlotado e sem a possibilidade de transferir os seus detentos, o 1º Distrito Policial de Anápolis (GO) tem algemado presos a argolas fixadas nas paredes de um corredor.
A Folha esteve ontem na unidade, que tem uma cela com capacidade para cinco pessoas. A carceragem deveria receber apenas os presos em flagrante, que ficariam ali um dia antes de serem levados para centros de detenção.
Na tarde de ontem, porém, havia 24 detentos. Três estavam no corredor: dois deitados num colchão no chão e algemados um no outro; e o terceiro, deitado em um banco de cimento, com a mão algemada numa argola de ferro.
"Estou amarrado aqui tem dois dias, nessa situação humilhante. Tenho um diploma universitário", disse o preso que se identificou apenas como Pedro e afirmou ser formado em pedagogia.
A situação era pior na noite de anteontem, quando outros cinco também estavam no corredor. Foram transferidos para outra unidade -com uma cela para três pessoas- quando o caso começou a ser divulgado. Na noite de anteontem, o "Jornal da Globo" mostrou a situação no DP.
ARAME
Ontem, outros quatro presos estavam isolados numa sala, fechada só com arame.
A única cela do DP está lotada. São 17 pessoas, que se revezam para dormir, até no chão do banheiro, onde o vaso é tampado com papelão.
O delegado titular do 1º DP, Thiago Torres, afirma que a situação pode se agravar nos próximos dias, pois a criminalidade costuma subir nos fins de semana.
O delegado regional, Luiz Teixeira, assume a responsabilidade pelo uso das argolas, fixadas há quatros meses, mas afirma não querer "ferir a dignidade de ninguém".
"Tomei essa decisão com constrangimento, não é sadismo nenhum. Mas a situação nos obrigou e eu prefiro essa medida a deixá-los soltos para cometerem agressão à sociedade. Seria prevaricar."
A situação prisional na região começou a se agravar em julho. A Justiça vetou o deslocamento de presos para o Centro de Internação Social de Anápolis, superlotado.
Havia mais de 400 presos e a justiça determinou uma redução desse número e a proibição de novos detentos no local. Hoje, há cerca de 200.
TORTURA
A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse considerar o acorrentamento de presos "tortura" e designou uma equipe da ouvidoria da pasta para conversar com o governo de Goiás.
"Essa é uma prática de tortura. A secretaria reconhece a dificuldade com o número de vagas nos presídios, mas essas soluções que envolvem presos ficarem em delegacias, o que é ilegal, ou algemados nas paredes, equivalem à prática de tortura."
* Folha de S. Paulo, 26/01/2012
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Com diploma ou não, inadmissível. O advogado Sobral Pinto (1893-1991), grande ícone da luta por justiça e democracia no Brasil, recomendaria pelo menos usar a Lei de Proteção aos Animais.
Mais sobre a História da tortura no Brasil:
ouça o documentário premiado
"Quando a sombra cai", da Rádio Senado.
Superlotada, delegacia de Goiás algema presos a argolas na parede
Renato Machado e Simone Iglesias*
Delegado de Anápolis afirma ter sido obrigado "com constrangimento" a adotar a medida
Ministra de Direitos Humanos vê tortura e diz que dificuldades com falta de vagas não justifica essa prática
Superlotado e sem a possibilidade de transferir os seus detentos, o 1º Distrito Policial de Anápolis (GO) tem algemado presos a argolas fixadas nas paredes de um corredor.
A Folha esteve ontem na unidade, que tem uma cela com capacidade para cinco pessoas. A carceragem deveria receber apenas os presos em flagrante, que ficariam ali um dia antes de serem levados para centros de detenção.
Na tarde de ontem, porém, havia 24 detentos. Três estavam no corredor: dois deitados num colchão no chão e algemados um no outro; e o terceiro, deitado em um banco de cimento, com a mão algemada numa argola de ferro.
"Estou amarrado aqui tem dois dias, nessa situação humilhante. Tenho um diploma universitário", disse o preso que se identificou apenas como Pedro e afirmou ser formado em pedagogia.
A situação era pior na noite de anteontem, quando outros cinco também estavam no corredor. Foram transferidos para outra unidade -com uma cela para três pessoas- quando o caso começou a ser divulgado. Na noite de anteontem, o "Jornal da Globo" mostrou a situação no DP.
ARAME
Ontem, outros quatro presos estavam isolados numa sala, fechada só com arame.
A única cela do DP está lotada. São 17 pessoas, que se revezam para dormir, até no chão do banheiro, onde o vaso é tampado com papelão.
O delegado titular do 1º DP, Thiago Torres, afirma que a situação pode se agravar nos próximos dias, pois a criminalidade costuma subir nos fins de semana.
O delegado regional, Luiz Teixeira, assume a responsabilidade pelo uso das argolas, fixadas há quatros meses, mas afirma não querer "ferir a dignidade de ninguém".
"Tomei essa decisão com constrangimento, não é sadismo nenhum. Mas a situação nos obrigou e eu prefiro essa medida a deixá-los soltos para cometerem agressão à sociedade. Seria prevaricar."
A situação prisional na região começou a se agravar em julho. A Justiça vetou o deslocamento de presos para o Centro de Internação Social de Anápolis, superlotado.
Havia mais de 400 presos e a justiça determinou uma redução desse número e a proibição de novos detentos no local. Hoje, há cerca de 200.
TORTURA
A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse considerar o acorrentamento de presos "tortura" e designou uma equipe da ouvidoria da pasta para conversar com o governo de Goiás.
"Essa é uma prática de tortura. A secretaria reconhece a dificuldade com o número de vagas nos presídios, mas essas soluções que envolvem presos ficarem em delegacias, o que é ilegal, ou algemados nas paredes, equivalem à prática de tortura."
* Folha de S. Paulo, 26/01/2012
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