"O Lula funciona como uma espécie de etiqueta. Como é impossível para
qualquer eleitor ter um nível de conhecimento muito grande sobre
qualquer candidato, ele costuma olhar a etiqueta.
Não que ele [Lula]
consiga decidir uma eleição. Mas acho que, em alguns casos, ele é muito
forte, como nas capitais onde o candidato que seja seu preferido seja
desconhecido. Nestes locais, ele pode ter um peso muito grande em
catapultar um candidato. Vai servir bem de etiqueta".
Antonio Lassance, trecho de entrevista ao jornalista Renan Truffi, do Portal R7.
Ex-presidente montou escritório político em hospital para receber aliados
Renan Truffi, do R7
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis esperar o fim do tratamento contra o câncer de laringe para iniciar as articulações da campanha eleitoral deste ano. Desde a semana passada, quando começou a radioterapia, última etapa de sua batalha contra a doença, ele vem trabalhando em prol de seus candidatos de dentro do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde tem ido diariamente.
Nos últimos dias, foram frequentes as visitas de aliados políticos e companheiros de partido para falar sobre as disputas municipais de outubro. Para receber seus interlocutores, o ex-presidente montou uma espécie de escritório político nos boxes em que repousa após ser submetido às sessões de radioterapia.
Já passaram pelo local o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o ministro da Educação, Fernando Haddad, pré-candidato do PT na capital paulista, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Teixeira, o senador Eduardo Suplicy, o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Artur Henrique, o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Luiz Gushiken e a ministra da Cultura, Ana de Hollanda.
Em dezembro, após visitar Lula no hospital, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já dizia que o ex-presidente não escondia a vontade de participar da campanha e a empolgação com a possível candidatura de Haddad. De acordo com Padilha, na ocasião, ele prometeu pegar pesado nos temas eleitorais assim que concluísse seu tratamento.
- Ele está animado com a candidatura de Haddad. Se ele já deu força desde a discussão interna, imagina quando for público.
Lula, que deixou a presidência com 80% de aprovação e é visto como o mais poderoso cabo eleitoral do país, vinha se dedicando às articulações política desde o ano passado. A descoberta do câncer, no entanto, ocorrida em outubro, obrigou-o a sair de cena durante alguns meses. Com a previsão de concluir o tratamento em fevereiro ou março, esperava-se que ele só começasse a “respirar a campanha” já às vésperas de seu início. Ao que tudo indica, porém, ele não aguentou esperar.
A própria assessoria de imprensa do Instituto Lula, onde ele passou a trabalhar desde que deixou o poder, admite que a pauta das conversas ocorridas no hospital incluiu a eleição. A aposta, porém, é que o ritmo de discussões diminua nas próximas semanas, quando os efeitos colaterais da radioterapia, como inflamações e inchaço na região do tumor, ficarem mais fortes.
O cientista político Humberto Dantas do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), diz que Lula nunca deixou de fazer política, mesmo nos momentos mais difíceis de seu tratamento.
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- A primeira coisa que a gente precisa entender é que ele nunca saiu [da campanha pelas eleições municipais]. O Lula continua em evidência. A gente acha que ele não está participando tanto, mas ele está em casa, escrevendo, falando, telefonando, fofocando. Duas ou três visitas que ele receba por semana já são suficientes para articular tudo o que ele quiser nessa fase da campanha.
Peso eleitoral
Os políticos que pretendem disputar prefeituras neste ano procuram Lula porque sabem que sua bênção pode determinar o resultado que sairá das urnas. E o ex-presidente, por sua vez, tem interesse em participar ativamente do processo para eleger seus aliados.
Para o professor Antonio Lassance, cientista político da UnB (Universidade de Brasília), o peso eleitoral de Lula cresce ainda mais nos municípios em que seus candidatos são desconhecidos da população.
- O Lula funciona como uma espécie de etiqueta. Como é impossível para qualquer eleitor ter um nível de conhecimento muito grande sobre qualquer candidato, ele costuma olhar a etiqueta. Não que ele [Lula] consiga decidir uma eleição. Mas acho que, em alguns casos, ele é muito forte, como nas capitais onde o candidato que seja seu preferido seja desconhecido. Nestes locais, ele pode ter um peso muito grande em catapultar um candidato. Vai servir bem de etiqueta.
Lassance cita o exemplo de São Paulo, onde o pré-candidato do PT, Fernando Haddad, é ainda pouco lembrado pelos paulistanos.
- A gente não sabe qual o tamanho da coalizão que o PT vai organizar, mas vamos supor que o Haddad seja candidato. Olhando as atuais pesquisas, que dizem que ele é muito pouco conhecido do eleitor paulistano, o peso do Lula é de justamente colar no Haddad e tornar ele muito mais conhecido do que é hoje. Então, essa informação de que o Haddad é o candidato do Lula talvez seja a informação mais preciosa que uma eventual candidatura dele venha a ter num primeiro momento. É como se fosse um motor de arranque dele. O resto dos fatores se desenvolve ao longo da campanha.
Dantas recorda que a estratégia do ex-presidente em São Paulo é a mesma utilizada por ele em 2010, quando lançou a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência.
- Fernando Haddad não é o candidato do PT, é o candidato dele [Lula]. A gente poderia dizer que é uma estratégia semelhante. Isso aconteceu, por exemplo, quando o [José] Serra apresentou o Kassab para São Paulo. O ano de 2008 começou e o paulistano não sabia quem era o prefeito da cidade, por incrível que pareça. O Kassab foi se apresentando e montando a imagem dele. As pessoas não sabiam quem era a ministra da Casa Civil, que era a Dilma. As pessoas não sabem que é o ministro da Educação, que é o Fernando Haddad. É uma estratégia semelhante.
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