30 outubro 2011

Quando o Brasil não falava o Português

Em boa parte dos tempos de Colônia, a língua mais falada no que hoje é o Brasil não era o Português. 
Os colonos, para se aventurarem pelo interior, precisavam dominar o Tupi, que funcionava como língua geral.
Ao lado, capa da gramática feita por José de Anchiete, artífice do esforço de conformação de uma Língua Geral própria do Brasil.


Artigo de Pierre Guisan, "Brasil, quando um país está à procura de uma língua nacional", mostra como ocorreu a transição do uso do Tupi para a imposição absoluta do Português, a partir do governo do Marquês de Pombal. 

Por incrível que possa parecer, a unidade da Língua Portuguesa falada no Brasil passou a ser maior até do que em Portugal.

O trecho abaixo mostra como o Brasil passou por uma questão essencial, similar à dos processos de formação dos Estados nacionais europeus, ou seja, a de se ter a língua como elemento crucial de identidade:

"[...], nessas terras onde dominava uma forma um tanto anárquica de pihagem de riquezas, coexistiam algumas formas de projetos como o da evangelização dos «selvagens», com a presença em particular dos jesuitas, tolerados pelo poder, embora nem sempre vistos com bons olhos. O plano jesuita inclui a tradução em língua popular dos evangelhos. Ora, de fato, para tal projeto vingar, havia de inventar uma modalidade escrita para esta língua popular. No fundo, estamos na frente dos mesmos problemas que tinham encontrado no século anterior na Europa os grandes reformadores da religião, como Martin Luther, Jean Calvin ou John Knox: como se traduzir a Bíblia numa língua compreensivel pelo povo, enquanto não há modalidade escrita popular oficial, e quando a realidade lingüística é constituída de uma multidão de dialetos cujas diferenças tornam a intercompreensão problemática.
A solução encontrada foi mais ou menos a mesma: criar uma língua escrita média, que não fosse língua materna de ninguém, ou seja, nos casos citados, o Hochdeutsch da Bíblia impressa graças à recente invenção de Gütenberg, o francês que viria a ser chamado de français de la Cour, ou essa modalidade de tupí médio dito Língua Geral. Assim como em muitos países da Europa, um mosáico de variantes regionais passou a conviver com uma variante criada para servir de modalidade escrita, própria para ser difundida através da recente invenção da imprensa e da tipografia, numa economia de escala que permitisse a emergência de uma das primeiras indústrias capitalistas, a do livro impresso.
Assim sendo, a Língua Geral tinha tudo para se tornar a verdadeira língua nacional do Brasil, com o seu papel identitária na emergência de um nacionalismo comparável aos das nações européias, em processo de nascimento e de consolidação."

Leia o artigo na íntegra...

 
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Um comentário:

  1. Sobre o texto de Guisan, alguns ajustes não seriam desimportantes;
    1. Faltou colocar a referência completa ao trabalho de José Ribamar Bessa Freire, Rio Babel, publicado pela EDUERJ, em 2004. Está em nota mas incompleto.
    2. O nheengatu não "sobrevive" em algumas partes da Amazônia; É a segunda língua oficial do município de Saão Gabriel da Cachoeira (AM). "Sobreviver" é outra coisa....

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