A Revista de História da Biblioteca Nacional publicou em sua página na internet a lista de 233
nomes de acusados de tortura durante a ditadura militar (nos anos 1960 e 1970).
A relação é a mesma que havia sido publicada em 1978 pelo jornal "Em Tempo", da imprensa alternativa de esquerda, numa atitude corajosa, mas que desencadeou uma dura perseguição a quem o distribuía.
O documento, publicado na página da Revista de História em "fac-símile", é parte do acervo pessoal de Luiz Carlos Prestes (1898-1990). O acervo será doado ao Arquivo Nacional e a revista apresentará alguns destaques na edição de janeiro de 2012.
A lista foi composta por vários torturados (35 presos políticos ao todo, citados mais adiante), que nominaram seus algozes. Ela compõe o "Relatório da 4ª Reunião Anual do Comitê de Solidariedade aos Revolucionários do Brasil", datado de fevereiro de 1976.
Abaixo, informações da Revista de História
Os autores da lista
As assinaturas dos 35 que assumem a autoria também foram publicadas no
“Em Tempo”. Hamilton Pereira da Silva é um deles. O poeta – conhecido
pelo pseudônimo Pedro Tierra e hoje Secretário de Cultura do Distrito
Federal – fez questão de conversar com a Revista de História sobre o
assunto, afirmando que a lista não foi fechada em conjunto. Os nomes e
funções dos torturadores do documento teriam sido informados pelas
vítimas da violência militar em momentos distintos de suas vidas durante
o cárcere.
“Essas informações saíam dos presídios por meio de advogados ou
familiares. A esquerda brasileira, neste período, não era unida, era
formada por vários grupos isolados, que não tinham muito contato entre
si por causa da repressão”, conta Tierra. “Quando a lista foi publicada
no ‘Em Tempo’, eu já estava em liberdade. Sei que colaborei com dois
nomes: o major, hoje reformado, Carlos Alberto Brilhante Ustra, e o
capitão Sérgio dos Santos Lima – que torturava os presos enquanto ouvia
música clássica”.
Hamilton lembra ainda que, após a publicação da lista no periódico, a
direita reagiu violentamente realizando ataques a bomba em bancas de
jornal e até uma bomba na OAB, além de ameaças à sede da Associação
Brasileira de Imprensa (ABI).
Em 1985, já em tempos de abertura política, a equipe do projeto Brasil:
Nunca mais divulgou uma lista de 444 nomes ou codinomes de acusados por
presos políticos de serem torturadores. Organizado pela Arquidiocese de
São Paulo, o trabalho se baseou em uma pesquisa feita em mais de 600
processos dos arquivos do Superior Tribunal Militar de 1964 a 1979. Os
documentos estão digitalizados e disponíveis no site do Grupo Tortura Nunca Mais.
Entre os autores da lista de acusados de tortura feita em 1975, além de
Hamilton Pereira da Silva, estão outros ex-presos políticos que também
assumem cargos públicos, como José Genoino Neto, ex-presidente do PT e
assessor do Ministério da Defesa, e Paulo Vanucchi, ex-ministro dos
Direitos Humanos e criador da comissão da verdade. Os outros autores da
lista são: Alberto Henrique Becker, Altino Souza Dantas Júnior, André
Ota, Antonio André Camargo Guerra, Antonio Neto Barbosa, Antonio
Pinheiro Salles, Artur Machado Scavone, Ariston Oliveira Lucena, Aton
Fon Filho, Carlos Victor Alves Delamonica, Celso Antunes Horta, César
Augusto Teles, Diógenes Sobrosa, Elio Cabral de Souza, Fabio Oascar
Marenco dos Santos, Francisco Carlos de Andrade, Francisco Gomes da
Silva, Gilberto Berloque, Gilney Amorim Viana,Gregório Mendonça, Jair
Borin, Jesus Paredes Soto, José Carlos Giannini, Luiz Vergatti, Manoel
Cyrillo de Oliveira Netto, Manoel Porfírio de Souza, Nei Jansen Ferreira
Jr., Osvaldo Rocha, Ozeas Duarte de Oliveira, Paulo Radke, Pedro Rocha
Filho, Reinaldo Moreno Filho e Roberto Ribeiro Martins.
Acesse a página da Revista de História que reproduz o documento com os 233 nomes dos acusados de praticarem tortura, direta ou indiretamente.
Leia a entrevista de Hamilton Pereira, "Memórias do porão".
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