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10 janeiro 2023

Tá na hora de os fascistas já irem embora do serviço público

Servidor público fascista deve ser tratado como fascista, e não como servidor. Deve ser confrontado e destituído pelo Estado democrático de direito com as credenciais legais e democráticas já existentes.

A maioria das pessoas já percebeu que, apesar de todo o espetáculo dantesco de destruição e performances escatológicas, os grandes responsáveis pela vandalização das sedes dos Poderes da República, mais do que as pessoas vestidas de verde e amarelo e os que, de longe, financiaram o caos, foram os homens de preto, ou seja, os responsáveis pelo aparato policial militar que deveria conter os invasores da Terra Plana.


Por sorte, parece que caiu no chão aquela caneta que os homens de preto normalmente usam para apagar a memória recente dos fatos. Ao contrário, o colaboracionismo ficou explícito em selfies usadas para registrar seu êxtase naquele momento.

A destruição aconteceu não apenas porque algumas pessoas apedrejaram, chutaram, cuspiram, urinaram e defecaram nos Palácios. Ficou evidente que os grandes responsáveis foram os que cruzaram os braços diante daquelas cenas.

Para além dos terroristas e dos financiadores do caos, precisamos falar de uma outra categoria que virou pilar do fascismo no país: os sabotadores custeados com dinheiro público. Esses sabotadores estatais são funcionários públicos civis ou militares que, embora pagos regiamente para cumprir a lei e a ordem do Estado democrático de direito, preferem agir como milícias.

O aparato policial que conduziu e facilitou a invasão dos palácios na Praça dos Três Poderes foi escolhido a dedo pelo então secretário e ex-ministro do bolsonarismo, Anderson Torres, mas ele não teve lá tanto trabalho. A PM do DF já havia feito uma "excelente" avant-première em dezembro de 2022, quando não moveu um único dedo para conter a queima de ônibus e carros de passeio após a tentativa de invasão da sede da PF. 

O que se viu, nas duas ocasiões, foi exatamente a polícia se comportar como milícia. Não todos os policiais, mas sobretudo os que comandam a PM mais bem paga do país parecem satisfeitos e se regozijam de achar que fazem o que lhes dá na telha com o dinheiro que recebem para proteger a Capital, as autoridades e os Poderes da República.

Por isso, uma das decisões mais importantes tomadas na esteira da grande destruição do dia 8 não pode passar despercebida. Tanto quanto a intervenção Federal na segurança pública do DF e o afastamento do governador Ibaneis Rocha, é preciso fazer valer a orientação da CGU para que todos os servidores públicos envolvidos nessas manifestações sejam devidamente identificados, processados administrativamente e punidos por terem atentado, "principalmente, contra o Estado Democrático de Direito".

Essa orientação pode e deve ser entendida também como a identificação, processo e punição de todo e qualquer servidor que tenha contribuído com o patrocínio financeiro ou a propagação de mensagens favoráveis ao golpe de Estado frustrado. Independentemente de essa pessoa ter participado ou não e de ter gostado ou não do quebra-quebra, o que importa é o grau de adesão desses servidores ao golpismo; sua indecorosa traição à Constituição; a postura antiética de desprezo à sua função de servidor público.

Servidor público fascista deve ser tratado como fascista, e não como servidor. Deve ser confrontado e destituído pelo Estado democrático de direito com as credenciais legais e democráticas já existentes.

Os fascistas, em especial os libertarianistas deitados eternamente no berço esplêndido de seus empregos públicos, têm a chance de ouro de abandonar a esquizofrenia de serem pagos pelo Estado para serem anti-Estado. O único gasto com dinheiro público que se pode admitir com um golpista é o de custear sua estada na Papuda. 

Eles podem e devem buscar algum emprego, quem sabe, no banco BTG Pactual, que acabou de contratar dois ex-ministros ultrabolsonaristas como sócios. Podem também assumir um cargo de gerente em alguma loja da Havan ou de chapeiro do Madero. 

Parece que as únicas vagas que não estão mais disponíveis são as que o PL ofereceu, com direito a um senhor salário e uma bela mansão com vista para o Lago Paranoá. O STF, em tempo, resolveu poupar esse partido de usar recursos públicos para patrocinar fascistas com um fundo que eles fingiam abominar.

* Antonio Lassance, servidor público, historiador e cientista político.




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01 agosto 2021

Voto impresso? Como assim?







Um fantasma ronda as eleições de 2022: o fantasma da urna eletrônica.
Uma onda de desinformação tem acompanhado a questão.
Vamos ajudar a esclarecer o assunto e a entender por que querem colocar o bode do "voto impresso" no meio da sala da democracia brasileira.










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30 abril 2020

Bolsonaro e o Centrão: tudo a ver


Se engana quem pensa que Bolsonaro e o famigerado Centrão são como água e óleo. 
Em seus quase 30 anos como deputado federal, Bolsonaro passou por seis partidos, todos do Centrão, antes de pular para o PSL

Leia o artigo completo de Antonio Lassance no Jornal GGN, do jornalista Luís Nassif


A foto que estampa esta postagem é do grande fotógrafo Wilson Dias, da ABr, a partir da página do Congresso em Foco.











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31 março 2020

Pandemia de Coronavírus e a crise econômica


Carta aberta da comunidade do Ipea


O momento é grave diante do atual cenário internacional. A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que estamos enfrentando uma pandemia de COVID-19 e conclamou todos os países a adotarem medidas que evitem a transmissão do Coronavírus. Entre as recomendações da OMS está o distanciamento social. Já há estudos científicos publicados que apontam a redução da circulação de pessoas como uma importante medida. O objetivo é reduzir o número de óbitos e também evitar a sobrecarga dos sistemas de saúde.

No entanto, estas restrições terão um grande impacto econômico negativo. Neste cenário, entendemos que a escolha do Governo deve ser por minimizar tanto quanto possível as mortes causadas por esta pandemia e, ao mesmo tempo, adotar um plano de ação com medidas que aliviem o inevitável choque econômico de caráter recessivo. Diversos países já vêm adotando medidas de isolamento social combinadas com políticas que ampliam a proteção social do Estado.

No Brasil, observa-se que economistas de diferentes escolas têm defendido publicamente maior gasto com políticas públicas de saúde e sociais, ainda que o teto de gastos não seja respeitado.

Nesta carta, defendemos que:

1) É de primeira ordem seguir as recomendações científicas e da OMS de manter o isolamento social, a fim de reduzir a transmissão do vírus e a demanda sobre os serviços de saúde;

2) Urge informar a população com transparência e preparar projetos com o objetivo de garantir que as populações de áreas pobres possam adotar a quarentena;

3) É urgente a adoção de um pacote de medidas sociais para proteger os mais vulneráveis, os mais pobres e o trabalhadores informais. Nessa linha, entre outras políticas, deve-se não apenas elevar o número de beneficiários no programa Bolsa Família e o valor dos benefícios, como também estender os benefícios sociais a outras famílias do Cadastro Único de forma a garantir que o terço mais pobre da população seja atendido;

4) Neste cenário de recessão, necessita-se de um projeto que garanta minimamente tanto os patamares da demanda como da estrutura da oferta na economia. Por esta razão, devem ser adotadas medidas que evitem as demissões e as reduções ou suspensões de salários, seja no setor público, seja no setor privado, medidas essas que afetariam o padrão de renda das famílias e implicariam em redução ainda maior na demanda, agudizando a recessão. É preciso, nesse momento, incrementar os instrumentos de planejamento do Estado com vistas a manter as cadeias de produção e de abastecimento essenciais funcionando e adaptadas aos novos protocolos de segurança sanitária, notadamente os relativos aos alimentos e produtos médicos;

5) Deve-se apresentar um pacote de medidas direcionado à saúde, que garanta a realização de maiores investimentos no SUS e em pesquisas.

Na atual conjuntura, sustentar a renda e o consumo das famílias e ampliar o gasto público devem ser a prioridade absoluta da política macroeconômica. Preocupações com déficits e aumento da dívida pública, neste momento, não devem se sobrepor à urgência em reduzir as chances do caos social e econômico e do colapso total do sistema de saúde.

Assinam esta carta:

(Colegas do Ipea que desejam subscrever a carta, cliquem aqui http://afipeasindical.org.br/assinar-carta-sobre-pandemia/ ou enviem e-mail para comunicacao@afipea.org.br com nome completo, e-mail e cargo)

Acir Almeida
Adriana Maria Magalhães de Moura
Adroaldo Quintela Santos
Alexandre Arbex Valadares
Alexandre Cunha
Alexandre Gervásio de Sousa
Ana Amélia Camarano
Ana Cleusa Serra Mesquita
Ana Luiza Neves de Holanda Barbosa
Ana Paula Moreira da Silva
André Calixtre
André de Mello e Souza
André Pineli
André Rego Viana
Andrea Barreto de Paiva
Anna Peliano
Antenor Lopes de Jesus Filho
Antonio Lassance
Anna Maria Chagas Ferreira
Antônio Semeraro Rito Cardoso
Antonio Teixeira Lima Junior
Aristides Monteiro Neto
Armando Esteves Ferreira
Bernardo Medeiros
Brancolina Ferreira
Bruno César Pino Oliveira de Araújo
Brunu Marcus Ferreira Amorim
Carlaile Pina Meireles
Carlos Octávio Ocké-Reis
Carolina Pereira Tokarski
Cecília Bartholo de Oliveira
Claudia Andreoli Galvão
Claudio Passos
Claudio Roberto Amitrano
Clayd da Silva Nunes
Cleandro Krause
Daniel Avelino
Daniel Cerqueira
Danilo Santa Cruz Coelho
Dilma Pena
Edmir Simões Moita
Eduardo Fiuza
Eduardo Luiz Zen
Edvaldo Batista de Sá
Elaine Cristina Licio
Elizabeth Marins
Enid Rocha Andrade da Silva
Erivelton Guedes
Ernesto Pereira Galindo
Eustáquio Reis
Fábio Alves
Fábio Sá e Silva
Fábio Veras Soares
Fabiola Sulpino Vieira
Felix Garcia Lopez Júnior
Fernanda De Negri
Fernanda Lira Goes
Fernando Brustolin
Fernando Gaiger Silveira
Fernando Werneck Magalhães
Frederico Barbosa
Frederico Thomaz de Aquino Franzosi
Gabriel Coelho Squeff
Gesmar Rosa dos Santos
Graziela Zucoloto
Guilherme Delgado
Gustavo Luedemann
Helder Rogério Sant’Ana Ferreira
Hubimaier Cantuaria Santiago
Isis Carneiro Agarez
Jardel Barcellos de Paula
Joana Luiza Oliveira Alencar
Joana Mostafa
João de Negri
Joao Evangelista da Silva
João Paulo Viana
Joana Simões de Melo Costa
José Celso Pereira Cardoso Júnior
José Eduardo Elias Romão
Júlio César Roma
Katia Rocha
Klecius Ferreira da Silva Muniz
Lauro Roberto Albrecht Ramos
Leandro Couto
Letícia Bartholo
Liliana Simões Pinheiro
Luana Simões Pinheiro
Lucas Benevides
Lucia Helena Salgado e Silva
Lucia Malnati Panariello
Luciana de Barros Jaccoud
Luciana Mendes Santos Servo
Luís Carlos Magalhães
Luís Eduardo Montenegro Castelo
Luís Gustavo Vieira Martins
Luiz Cezar Loureiro de Azeredo
Luiz Gonçalves Bezerra
Luseni Aquino
Magali Barbosa Ribeiro
Manoel Batista de Moraes Neto
Manoel Carlos de Castro Pires
Marcela Torres Rezende
Marcelo Galiza Pereira de Souza
Marcelo Medeiros
Marcelo Nonnemberg
Marco Antônio Carvalho Natalino
Marco Aurélio Alves de Mendonça
Marco Aurélio Costa
Marcos Antônio Vasques
Marcus José Reis Câmara
Maria Bernadete Sarmiento Gutierrez
Maria da Piedade Morais
Maria de Fátima da Costa
Maria do Socorro Elias de Meneses
Maria Elizabeth Diniz Barros
Maria Emília Barbosa da Veiga
Maria Fernanda Mesquita Pessoa
Maria Paula Santos
Marilia Steinberger
Marina Angela M. Esteves da Silva
Marina Nery
Martha Cassiolato
Maurício Cortez Reis
Maurício Galinkin
Mauro Oddo
Miguel Matteo
Milena Soares
Milko Matijascic
Monica Mora
Murilo José de Souza Pires
Napoleão Silva
Nelson de Moraes
Nilson Edison Souto Maior
Paulo Kliass
Pedro Cavalcanti Gonçalves Ferreira
Pedro Herculano G. Ferreira de Souza
Pedro Humberto Carvalho Junior
Pedro Miranda
Pérsio Marco Antonio Davison
Priscila Koeller
Rafael Osório
Rafael Pereira
Raimundo da Rocha
Raphael Rocha Gouvea
Regina Sambuichi
Renan Torres
Renato Nunes Balbim
Roberto Henrique Sieczkowski Gonzalez
Roberto A Zamboni
Roberto Nogueira
Roberto Pires
Roberto Sant`Anna Mattos
Rodrigo Fracalossi
Rodrigo Orair
Rodrigo Pucci Benevides
Ronaldo Coutinho Garcia
Ronaldo Dias
Ronaldo Ramos Vasconcelos
Rosa Mª. Sales de M. Soares
Rosiclé Batista de Arruda
Rute Imanishi Rodrigues
Salvador Teixeira Werneck Vianna
Sandra Silva Paulsen
Sandro Pereira Silva
Sandro Sacchet de Carvalho
Sérgio Francisco Piola
Sérvulo Vicente Moreira
Tatiana Dias Silva
Vanessa Nadalin
Walter Antonio Desiderá Neto
Walter Feliciano Behrens
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18 março 2020

Retrospectiva 2020: o ano que já terminou

Com um governo como o de Bolsonaro e Guedes, quem precisa de Coronavírus?

Esta retrospectiva começa com a constatação óbvia de que Bolsonaro e Guedes quebraram o Brasil. 

Claro, houve o Coronavírus e a ele se seguiu uma fortíssima recessão mundial. Mas foram Bolsonaro, Guedes e sua legião de kamikazes antissociais - mais conhecidos como bolsominions - que levaram o país à beira do abismo. 

O Coronavírus apenas deu um empurrãozinho. Bolsonaro e Guedes certamente não inventaram a tempestade perfeita. Eles só colocaram nosso barquinho no meio dela, da forma mais desprotegida possível.

Já em 2019, portanto, bem antes da Covid-19, um governo tóxico, para quem a palavra "viral" era elogio, instaurou um círculo vicioso de desgraça, dando a isso o eufemístico título de "reformas". Nos bastidores, graças a um áudio vazado, descobrimos o verdadeiro nome da coisa: "foda-se!". Esta é a insígnia desse pessoal.

Crueldade acima de tudo, estupidez pra cima de todos

Mal se abriu o ano de 2020 e a propaganda do governo comemorou a queda do PIB como prova de que seus esforços para dinamitar o setor público deram certo.

Só que o bumerangue que Bolsonaro e Guedes lançaram retornou à sua testa. A falta de investimentos públicos e o corte drástico na renda dos brasileiros retiraram estímulos ao crescimento da economia, contribuíram para o endividamento das famílias e anularam a benesse do crédito com juros baixos. 

A deliberada má vontade para reverter ou pelo menos mitigar o desemprego e a explosão do trabalho precário - desprotegido e mal remunerado - tirou da arrecadação do governo recursos que antes vinham dos impostos sobre os assalariados, que são quem mais paga tributos neste país. 

Por um lapso cognitivo básico, Bolsonaro e Guedes se esqueceram que quem custeia a Previdência não é o governo, são as pessoas que pagam suas contribuições quando estão empregadas. 

A precarização e o desemprego expuseram um imenso contingente de pessoas ao Coronavírus. As mortes que resultaram dessa pandemia tiveram como alvo fácil aqueles que vivem de trabalhar na rua.

Antes que essa doença se disseminasse, o governo se prestou ao requinte de crueldade de taxar o seguro desemprego, de retirar o desconto de imposto de renda da contratação de domésticas com carteira assinada e de atrasar a concessão do Bolsa Família, formando uma fila de mais 3,5 milhões de pessoas que mal têm onde morar e o que comer. Para essas brasileiras e brasileiros, 2020 terminou ainda mais cedo.

Tiro no pé

Desde 2019, o ataque ao ensino e à pesquisa levou a um recorde na fuga de profissionais qualificados do país, formados ao longo de décadas por todos nós, em escolas, universidades e centros de pesquisa públicos. 

Em 2020, servidores públicos federais de alta remuneração se sentiram completos idiotas ao verem seu salário reduzido pelo governo em que votaram, de forma majoritária e entusiástica. Fizeram arminha e deram um tiro no pé.

O Ministério Público, depois de uma década e meia de atuação agressiva e tão livre quanto a tela branca de um PowerPoint, retrocedeu ao tempo em que seu chefe maior era conhecido como o engavetador-geral da nação. Alguns estão voltando até a usar pochetes, em homenagem aos anos 90.

Cavalo de Troia

Os militares, que foram tão essenciais para a construção do Estado nacional, viram desde 2019 seu legado para o país ser atacado, ameaçado e, em alguns casos, destruído.Eles servem a um governo que é o maior Cavalo de Troia de sua história, um presente de grego que os associa às quarteladas, ao AI-5 e à tortura, e não ao que houve de melhor e mais nobre em sua contribuição ao país.

Para quem não se lembra, os militares foram decisivos para que o Brasil tivesse correios, telégrafos e proteção ao índio (marechal Cândido Rondon); Correio Aéreo Nacional, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (marechal Casimiro Montenegro Filho); Petrobrás (general Horta Barbosa); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Almirante Álvaro Alberto); saúde pública (muitos dos primeiros hospitais públicos federais eram militares); educação e engenharia (a Escola Militar da Praia Vermelha, de Benjamin Constant, foi durante muito tempo a única escola de engenharia do país).

Em 2020, os militares - das Forças Armadas e os da Polícia Militar - começaram a perceber que quem dá vivas a Brilhante Ustra não é visto saudando Benjamin Constant, Rondon, Horta Barbosa, Montenegro Filho, Álvaro Alberto e Juscelino Kubitschek - sim, JK, que era tenente coronel da PM de Minas.

Conhecereis o flagelo, e o flagelo vos libertará

Precisou de um Coronavírus e de uma recessão para que fosse dada a pá de cal na desastrada agenda de privatizações. Aliás, os leilões foram fiascos desde quando quase ninguém se mostrou interessado em apostar suas fichas em um governo cujas decisões mais parecem surtos psicóticos. 

Mas, em 2020, a Covid-19 e a recessão deram um cala-boca no lero-lero privatista de Guedes.

Precisou de uma pandemia e da maior recessão que este país já viu, cujas consequências perdurarão pelos próximos anos, para que, pelo menos enquanto ela durar, se desse fim ao teto de gastos que fere de morte a saúde, a educação e a assistência social.

Precisou de um Coronavírus para o empresariado brasileiro, que um dia já foi representado por intelectuais e mecenas como Roberto Simonsen, Walther Moreira Salles e Antônio Ermírio de Moraes, começar a ter vergonha de ter, em sua comissão de frente, o sonegador que se veste de abacate com capa de cetim e cueca em cima do colã; o presidente da federação industrial que é um industrial falido; e o dono da maior casa de prostituição do país. Que fase!

Foram necessárias uma pandemia e uma recessão mundial para Bolsonaro perceber que seu governo, que já nasceu falido, foi encurtado, e que o melhor que ele podia fazer, em benefício próprio, era arranjar uma desculpa para ser afastado. Daí ele ter surtado com o Coronavírus.

Em 2021, ele poderá se dedicar com exclusividade aos empregos que já exerce de comentarista de Twitter e apresentador de "live" de Facebook. E poderá continuar culpando alguém, que não ele mesmo, pela situação tétrica do país. Poderá também se juntar a Collor de Mello entre os que reclamam que ia dar tudo certo ao final, mas não os deixaram chegar ao final. Já podem rir. A piada é esta mesma.

Saúde e paz

Os que chegaram até aqui, neste 31 de dezembro de 2020, podem dizer que viveram para ver Olavo de Carvalho e Silas Malafaia se xingarem de pilantras e charlatães, e assistirem a governadores bolsonaristas como Caiado e Witzel chamarem seus eleitores de imbecis e irresponsáveis. Eles têm toda a razão.

Bem aventurados os que não se renderam ao reacionarismo e à intimidação.

Bem aventurados os que gastaram seu tempo explicando em WhatsApp que a Terra é redonda.

Bem aventurados até mesmo os que argumentaram que, se Lula e Dilma tivessem mesmo quebrado o país, não teriam deixado quase 400 bilhões de dólares em caixa (o que até hoje segura o dólar a menos de R$7,00).

Bem aventurados os que insistiram que não existe essa coisa de mamadeira de piroca.

Bem aventurados sejam. A histeria os absolverá.

É uma pena que tenha sido preciso uma pandemia para expor o pandemônio.

Saúde e paz a todos em 2021.

* Antonio Lassance é cientista político. 
No Twitter: @antoniolassance
Artigo publicado originalmente na Carta Maior.
















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16 dezembro 2019

O Reino Desunido de Boris Johnson


Resultado de imagem para Boris-Johnson

Seria bom se a direita fosse direita; se o centro fosse centro; se a esquerda fosse esquerda; e que os extremismos fossem apenas pontos fora da curva, e não representantes da maioria.



Leia o artigo completo na Carta Maior.












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01 maio 2019

Do outro lado do buraco negro


Quem não entende nada de ciência não sabe que, sem humanidade, a ciência não faz sentido.


Leia meu artigo na Carta Maior.


















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17 janeiro 2019

5 mentiras que Onyx Lorenzoni anda contando para te convencer sobre o uso de armas de fogo



As informações foram checadas pela Agência Lupa, especializada na verificação de informações.

“Toda experiência da humanidade mostra, sem nenhuma falha que negue essa evidência, que quanto mais armada a população, menor a violência”. (Onyx Lorenzoni).

Mentira. 

Conforme a Agência Lupa lembra, em 2012, o Ipea divulgou um estudo chamado “Menos armas, menos crimes”, no qual concluiu que a diminuição da quantidade de armas em circulação também diminui o número de homicídios. 

O estudo utilizou dados do estado de São Paulo entre os anos de 2001 e 2007. Os pesquisadores apontam que a vigência do Estatuto do Desarmamento, desde 2003, contribuiu para uma redução de 60,1% no número de homicídios em SP. 

Em 2013, outro estudo do Ipea mapeou a quantidade de armas de fogo no Brasil e sua relação com as taxas de homicídio após o Estatuto do Desarmamento. Segundo a pesquisa, regiões onde houve mais desarmamento tiveram maiores quedas nas taxas de homicídio entre os anos de 2003 e 2010. 

Um levantamento feito por acadêmicos da Stanford Law School e publicado em 2017 mostrou que os estados norte-americanos que têm maior acesso a armas de fogo também têm níveis de crimes violentos não-letais, como roubos e assaltos, maiores do que aqueles onde a lei é mais rígida com relação à posse e ao porte de armas. 




“A Inglaterra, quando ela desfez a possibilidade do cidadão ter alguma arma em casa, os assaltos a residências com pessoas dentro de casa aumentaram em 40%”. (Onyx Lorenzoni).

Mentira. 

Os dados mostram o exato oposto do que diz Onyx: houve uma redução no número de roubos a domicílios na Inglaterra após mudanças legais que restringiram a posse de armas. 

Em 1997, após um atirador matar 16 crianças e um professor em uma escola na Escócia, o Reino Unido aprovou lei que, na prática, proibia a posse de armas de fogo. Desde então, o número de assaltos a domicílios despencou. 

O EuroStat, base de dados da União Europeia, mostra tendência similar. Entre 1998, dado mais antigo disponível, e 2016, o mais recente, o número de invasões feitas para subtrair objetos e bens caiu 56,5%: de 473 mil para 205 mil. 


“A Declaração Universal de Direitos Humanos (…) garante o direito de tu, na manutenção da vida, tirar a vida daquele que te agride”  (Onyx Lorenzoni).

Mentira. 

A Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) não garante (e tampouco nega) o direito de um cidadão “na manutenção da vida” poder tirar a vida de outra pessoa. 
O que ela diz, em seu artigo 3, é que “todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. 


“[No referendo de 2005] as pessoas decidiram claramente que queriam manter o direito à legítima defesa”. (Onyx Lorenzoni).


Mentira. 

O referendo questionava se o artigo 35 do Estatuto do Desarmamento, em vigor desde dezembro de 2003, deveria ser alterado ou não – proibindo o comércio de armas de fogo e munições no país. 

Já a legítima defesa – entendida como o uso moderado dos “meios necessários” para repelir injusta agressão a si ou a terceiros – é garantida pelo artigo 25 do Código Penal e nunca foi objeto de referendo no Brasil.


“[De] 8,5 milhões a 9 milhões de famílias têm arma [irregular] em casa”. (Onyx Lorenzoni).

Mentira. 

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública afirmou que não há estudos sobre a quantidade de famílias que têm armas ilegais em casa. 

O que existe é um levantamento realizado pelo Viva Rio e o Small Arms Survey divulgado em 2010. Segundo o estudo, 4,2 milhões de armas ilegais em residências brasileiras (página 102). Não é possível afirmar, no entanto, que cada família tivesse apenas uma arma. O estudo mostra também que havia, em 2010, 5,2 milhões de armas nas mãos de criminosos no país. 

No mesmo ano o Ministério da Justiça informou que 7,6 milhões de armas eram tidas como irregulares no Brasil. Na época, esse número representava mais da metade do total de armas no país: 16 milhões. 


As declarações acimas foram dadas pelo ministro Onyx Lorenzoni em entrevista à GloboNews no dia 15 de janeiro de 2019. A Agência Lupa informa que procurou o ministro para que ele respondesse a esses questionamentos. Onyx não retornou. 

Leia a matéria na íntegra na página da revista Piauí na internet.


Onyx tatuou em seu braço o versículo: 
"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertarás" (João 8:32)




A justificativa do ministro para tal foi a seguinte: 
"Eu fiz isso para me lembrar do dia que eu errei". 

A confissão do "erro" relaciona-se ao processo aberto pela  Procuradoria-Geral da República (PGR) com base nas acusações de caixa 2 feitas por executivos da JBS, que citaram Onyx pelo recebimento de recursos não declarados na prestação de contas eleitoral - traduzindo: caixa 2.

De todo modo, a tatuagem deveria ser um alerta para outros tipos de falsidades. Pelo jeito, o ministro está dormindo e tomando banho com camisa de manga longa.



Onyx é representante da indústria de armas no país

Em valores declarados, Onyx Lorenzoni (DEM) teve doações do setor de armas de 2006 a 2014 (Agência Lupa). 

Durante campanha para prefeito de Porto Alegre, em 2008, Onyx recebeu R$ 150 mil da Companhia Brasileira de Cartuchos.

Em 2010, a Fujiwara Equipamentos de Proteção foi a maior doadora (R$ 200 mil), seguida pela Taurus (R$ 150 mil) e da Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições (R$ 100 mil cada, valores declarados). 

A Taurus também foi uma das que mais doaram a Onyx na campanha de 2006, R$ 110 mil cada (esses são os valores declarados checados pela Agência Lupa).

Não há problema algum de parlamentares fazerem a defesa de grupos de interesse. Mas todos precisam saber que interesses estão por trás de muitas decisões. 

Tire suas próprias conclusões sobre até que ponto esse "patrocínio" eleitoral a parlamentares não enviesa a atuação dos eleitos, não em benefício da maioria da população, mas de sua parte mais privilegiada e que faz das decisões do Estado sua principal fonte de lucro?





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15 janeiro 2019

Armas para uma sociedade em liquidação

A partir de agora, aquela pessoa que não sabe nem usar a seta no trânsito poderá ter uma arma.

Aquele que espanca mulheres e filhos poderá ter uma arma.

Aquele que bebe e balbucia idiomas desconhecidos quando está embriagado poderá ter uma arma.

Aquele que briga com o vizinho por causa do som alto ou do gato que arranhou o capô do carro poderá ter uma arma.

Qualquer pessoa que se altera fácil por motivos fúteis poderá ter uma arma.

E quem não faz a mínima ideia ou não dá a mínima bola para a diferença entre posse e porte também poderá ter uma arma.

Aquele que acha inofensivo fazer um disparo para o alto poderá ter uma arma.

Aquele que quiser iniciar uma carreira no tráfico de drogas ou entrar para o negócio dos assaltos poderá ele próprio adquirir uma arma ou recorrer a um "cidadão de bem"  que se disponha a comprá-la, raspá-la e vendê-la. Chega de armas de brinquedo!

A partir de agora, quem tinha medo de ladrões terá muitas razões para ter medo do vizinho, do cônjuge, dos filhos que fuçam todos os lugares da casa e pensam que tudo é brincadeira.

Conseguimos uma façanha que não era possível nem no velho Oeste. Lá, quem entrava em uma cidade tinha que entregar seus revólveres e rifles ao xerife e só os pegava de volta na hora de ir embora.

Espero que todos os que contribuíram com essa façanha estejam felizes e façam bom proveito.



Antonio Lassance, cientista político.
















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10 dezembro 2018

A França, isto é uma revolução?



Vou contar-vos as coisas magníficas que aconteceram em França nestes dias. Extraordinárias. 

Raquel Varela *


Vou contar-vos as coisas magníficas que aconteceram em França nestes dias. Extraordinárias. Polícias que retiraram capacetes e cantaram com os manifestantes a Marselhesa; bombeiros que numa homenagem em frente à prefeitura viraram as costas aos políticos vestidos com cores da França e abandonaram a homenagem; manifestantes de extrema-direita expulsos das manifestações por coletes amarelos; portagens ocupadas pelos manifestantes que impedem que se cobre passagem; há sindicatos da polícia que aderiram já à manifestação de amanhã, e sindicatos ferroviários que decidiram não cobrar bilhete aos manifestante que se dirigem amanhã a Paris. Greves e assembleias gerias de estudantes. As centrais sindicais do status quo pedem recuo nos protestos, mas representam no total menos de 7% dos trabalhadores franceses. A França vive uma revolta – não sei se é uma revolução, mas não é um movimento social como outros. É, na minha opinião, a primeira batalha perdida pelo neoliberalismo, depois da sua grande vitória, marcada pela derrota dos mineiros nos anos 80 por Margaret Thatcher. Um novo processo histórico nasceu este mês na França. Tudo pode acontecer – a história acelera agora a uma velocidade que nos parece estonteante. Em 3 dias Macron recuou 2 vezes, não é certo que o seu mandato sobreviva. O movimento já está na Bélgica.


Vi com encolher de ombros a facilidade com que tantos aqui acreditaram que era a extrema-direita a dirigir aquele que já é o maior movimento europeu contra o neoliberalismo.


Continua a espantar-me a facilidade com que acreditamos no senso comum, a credulidade, a ausência de sentido critico. Mas alguém imagina que a extrema-direita tem de perto ou longe alguma organização para dirigir milhões de pessoas nas ruas há 3 semanas? Não, as pessoas acreditam porque querem acreditar. Desta vez não é necessário um aguçado sentido critico, bastava ler o Le Monde, o El País e ver a Euronews para perceber o susto na cara de Le Pen nos últimos dias, o pânico na face de Macron e a situação de crise no poder do Estado. E, sobretudo, o esforço que Macron fez para que Le Pen apareça como responsável e líder de um movimento. Ora, a esquerda aderiu ao Movimento formalmente, e há vários relatos da extrema-direita expulsa das manifestações. Também há de centrais sindicais amarelas – o que a meu ver é errado. O fascismo não pode ter espaço algum, porque é inimigo das liberdades, o reformismo, por pior que seja, deve ter liberdade de manifestação. A cólera do Movimento dirige-se contra as prefeituras, centenas foram atacadas e uma totalmente queimada. A crise dos partidos tradicionais é total, a separação entre representantes e representados de massas. Macron lembrou-se finalmente que foi eleito com menos de 25% dos votos dos franceses. Quantas vezes temos insistido que força eleitoral não é representação social, António Costa e Geringonça?


A França está a viver uma situação inédita desde o Maio de 68. São trabalhadores, professores e cientistas, reformados e no activo, ferroviários e estudantes, sectores médios proletarizados em massa. O centro da luta é a chamada Diagonal do Vazio, uma área geográfica de pequenas e médias cidades que vai do nordeste ao sudoeste do país. Nevers foi o epicentro. Nestas cidades os manifestantes – todos senhores e senhoras, como poderão ver pelas reportagens, envergando o seu colete amarelo – explicam que têm que usar o carro, idosos, para ir às compras a 10 km de distância porque o grande comércio destruiu as mercearias – conta o El País; o saque das pequenas lojas é mínimo, a maioria das lojas destruídas são as de alta costura e os grandes armazéns – diz o Le Monde. A revolta começou contra os impostos, estão “fartos” de em nome da “economia dita verde” pagarem para serem cada vez mais excluídos, do acesso à cidade também; uma senhora conta que chega ao fim do mês com 70 euros; outro que “não tolera viver num país onde o PM veste um fato de 45 mil euros, 3 salários anuais de um operário”; um engenheiro não sabe se “metade dos manifestantes concorda com a outra metade” mas não vai “sair da rua” até que as coisas mudem. A pressão fiscal em França já é mais de 45%. Querem emprego e não o rendimento mínimo. Não são contra a imigração mas defendem que a solução está nos países de origem e que as políticas dos países ricos têm que mudar radicalmente.


Não gosto de violência. Nem de vandalismo ou destruição. Nunca mostrei simpatia pelos jovens desempregados ou sub empregados da periferia que vêm para a rua partir carros em França e Inglaterra. Ao contrário da direita, acho que eles não nasceram vândalos, acho que são animalizados pela exclusão social que a direita promove. Ao contrário de uma parte da esquerda organizada não acho que eles sejam uma esperança, nem uma forma de resistência – só vejo no vandalismo desespero e desistência. Sei também que a violência é mínima, a maioria, larga maioria, dos bairros pobres tem gente que com um esforço incrível vive do trabalho mais mal pago, e não desiste de viver. São os milhares de jovens que trabalham no comércio, construção civil, a vida deles não é partir, mas trabalhar por quase nada. Tenho muitas dúvidas sobre se os “partidores” pertencem à classe trabalhadora – sei que são filhos dela, não sei se não estão mais próximo do lumpen-proletariado. Misturar estes fenómenos, recorrentes na Europa, e minoritários, com o Movimento dos Coletes Amarelos é confundir uma tosta mista com um banquete em Versalhes.


Macron está a caminho de sair mal entrou não porque houve pancadaria no Arco do Triunfo, mas porque os coletes amarelos pararam a circulação de mercadorias há 3 semanas questionando a autoridade do Estado, que não os conseguiu impedir. E viram costas às autoridades políticas locais. O Movimento conta com o apoio oficial de 60% dos franceses.


Sabem que mais? Estou tão feliz estes dias. Ando há anos ouvir falar da “aristocracia” operária europeia e da esperança na periferia do mundo, qualquer movimento camponês com 200 pessoas pessoas na Ásia é mais aplaudido pela esquerda do que uma greve de médicos na Alemanha, logo apelidados de “privilegiados”. Foi por isso que escrevi um livro de História da Europa, que lembrasse o passado de resistência na Europa, a importância dos sectores médios, a centralidade da produção de valor nos países centrais, a tradição de consciência de classe na Europa – superior a qualquer parte do mundo – os trabalhadores na Europa, sem os quais não haverá solução civilizada no mundo. Passámos de um eurocentrismo para ujm periferocentrismo absurdo. Agora…sorte, sorte, sorte mesmo, porque tal precisão temporal não pode ser atribuída à previsão cientifica, é que o meu livro Um Povo na Revolução foi publicado em França justamente este mês. Eles não fazem ideia, os coletes amarelos, como esse pedaço de coincidência irrelevante para a história da humanidade me divertiu. Vou ceder no meu gosto por roupa bonita e vestir o tal do colete amarelo amanhã.


Não sei se é uma revolução. Pode ser. Ou não. Se não for, será adiada mas não evitada. Se estão com medo do mundo do trabalho, não imaginam que a ele devemos tudo o que de mais civilizado possuímos. Não olhem para o Arco do Triunfo em chamas, essas imagens de caos, mas para o triunfo da defesa organizada da cidade humanizada, do emprego com direitos, de um mundo justo, sem impérios e brutalidade social. Os coletes amarelos são isso, quanto mais apoio tiverem de pessoas que acreditam na vida civilizada mais serão ainda parte da solução.






Raquel Varela é historiadora e investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa











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29 novembro 2018

O que o passado de Paulo Guedes pode dizer sobre o futuro de nossa economia





"... as conexões entre Paulo Guedes, nosso futuro ministro da Economia, e a ditadura de Augusto Pinochet no Chile nos trazem pistas valiosas sobre o modelo que o empresário deve tentar implementar no Brasil."











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08 outubro 2018

Se Haddad quiser virar o jogo, precisará promover uma reviravolta em sua campanha no segundo turno


Haddad cresceu como um foguete. Mas, como todo foguete que alcança o limite da atmosfera, é hora de se desacoplar. 
Para seguir em frente, tem que deixar para trás parte do que o projetou.
Seu programa e seu discurso, de agora em diante, não podem ser só os da chapa PT, PCdoB e Pros. 
Não pode ser apenas a candidatura de 30% dos brasileiros, e sim o líder de uma frente ampla contra o candidato da ditadura e da intolerância.



Hora de desacoplar, sem se desconectar

"Houston, we have a problem". Haddad cresceu como um foguete. Mas, como todo foguete que alcança o limite da atmosfera, é hora de se desacoplar. Para seguir em frente, tem que deixar para trás, sem contradizer-se, parte importante do que projetou seu crescimento.

O cenário é de fato muito preocupante. Houve um grande crescimento da rejeição a Haddad, o que é um desafio a ser transposto tão grande ou até maior que o da resiliência de seu adversário. Ficou claro que, assim como existe transferência de voto, existe também transferência de rejeição.

O antipetismo se associou a questões mais profundas e crenças arraigadas que não são facilmente revertidas por coisas do tipo: "você sabia que, quando na ativa, o energúmeno tentou explodir uma bomba em um quartel e dizia que o Exército brasileiro é uma vergonha nacional?"

Muitas pessoas não se importam em eleger o capitão caverna, assim como não se importaram em tirar Dilma e o PT para, em seu lugar, colocar a estirpe de Temer, Eduardo Cunha, Romero Jucá et caterva.

O fato é que, com um adversário que se apresenta tendo o antipetismo como seu principal atributo, a candidatura Haddad, se quiser derrotá-lo, não pode fazer o jogo de seu adversário e contribuir com seu discurso.

Haddad não pode ser mais, exclusivamente, o candidato do PT. Tem que ser o candidato do #EleNão.


Ciro tem papel crucial

A primeira providência a ser tomada imediatamente à oficialização do resultado é Haddad convidar Ciro Gomes para ser coordenador político de sua campanha em segundo turno. Se Ciro, com sua cabeça quente, irá aceitar ou não são outros quinhentos, mas o gesto deve ser feito.

E Ciro deve ter carta branca para chamar todos os candidatos que se insurgem contra o ignóbil a comporem um conselho político de campanha com o objetivo de formular um novo programa de governo, começando com uma carta de princípios que reafirme os princípios de defesa da democracia, da equidade social, do pluralismo e da liberdade de expressão, tendo como diretrizes a defesa da Constituição, a redução das desigualdades, a garantia de direitos e a retomada do desenvolvimento com sustentabilidade ambiental. 

O programa e o discurso de Haddad, de agora em diante, não podem ser só os da chapa PT, PCdoB e Pros, e sim os de uma frente ampla contra o candidato da ditadura. O programa deve incorporar propostas importantes de todas as candidaturas que coincidam com os princípios de fortalecimento das instituições do Estado democrático de direito.

Será hora de Haddad conversar e juntar, se não todo mundo, pelo menos quem quiser. Por que não? Todos são bem vindos. Todos menos ele. #EleNão.

Haddad precisará da força e do entusiasmo dos apoiadores dos demais candidatos. Não apenas de apertos de mão, mas engajamento. Precisará não só de um novo discurso de palanque, mas de fiadores.

Para os que não vierem - Alckmin, Dias, Amoêdo, Eymael -, esperemos que eles incorporem pelo menos o slogan do #EleSnão, criado por Alckmin e que já sinaliza sua posição no segundo turno. Afinal, esta não é uma eleição que será ganha apenas com votos nos candidatos. A diferença poderá ser dada por brancos e nulos.


Haddad deve pedir desculpas ao povo brasileiro, em nome do PT. 
E precisa fazer isso o quanto antes

Haddad precisa assumir que o PT errou. Primeiro, porque isso todo mundo já sabe. Precisa pedir desculpas ao povo brasileiro, em nome do PT, com o aval do PT.

Pedir desculpas não só pelo PT não ter feito reforma política nem tributária quando tinha força para isso. Isso também. Mas precisa pedir desculpas pelo fato de que a política de campeões nacionais, formulada e explicitada com a melhor das intenções, se tornou uma avenida para que relações promíscuas tomassem conta do destino de bilhões em dinheiro público.

Precisa sobretudo pedir desculpas, em nome do PT, pelo partido não ter conseguido blindar a administração pública de criminosos que tomaram de assalto os cofres públicos.

Quem são eles? São todos aqueles que são réus confessos em processos instaurados para investigar crimes contra o patrimônio público. Isso não implica abandonar a defesa intransigente do princípio da presunção de inocência e que se possa dar o benefício da dúvida a todos que, de roldão, são incriminados sem provas.

Talvez muitos petistas não se lembrem, mas Lula fez isso em 2005. Pediu desculpas, acusou aloprados e disse que se sentiu traído por práticas inaceitáveis:

"Não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos de pedir desculpas. O PT tem de pedir desculpas. O Governo onde errou tem de pedir desculpas porque o povo brasileiro não pode estar satisfeito com a situação que o país está a viver"

Lula disse ainda que pedir desculpas era absolutamente necessário para se manter a esperança. Hoje, mais do que nunca, ele tinha toda razão.



Referências citadas no artigo:











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