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19 abril 2012

Dilma não está "botando pra quebrar" porque “nenhum presidente se garante só com uma bandeira anticorrupção” (Argelina Figueiredo)

No presidencialismo, um chefe de governo tem mais condições de se arriscar, mas Dilma precisa ter o cuidado de não entrar em rota de colisão com o Congresso, segundo a cientista política. 
Em sua avaliação, a presidente, apesar de ter provocado turbulência com a troca de comando dos líderes do governo na Câmara e no Senado, de fato estaria tendo a cautela necessária – “não está botando para quebrar”.

Argelina: Isso é pouco. Um presidente não se sustenta apenas com a luta contra a corrupção. Nem a oposição conseguiu se sustentar. Eu tenho a opinião – diferentemente das pessoas, naquele momento do mensalão e na eleição do Lula em 2006, que diziam que “o brasileiro não se preocupava com corrupção” – de que essa não é uma boa avaliação daquele período. Não é tolerância com corrupção isso. É simplesmente que corrupção não é a primeira preocupação. Mas você tinha combate [à corrupção]. Nunca se viu tanta gente de classe alta ser presa como no primeiro governo Lula, e no segundo também. A Polícia Federal nunca teve [antes] liberdade de ação de prender quem ela achasse que devesse. A tolerância do Judiciário com a classe mais alta é conhecida da população. Por isso, a denúncia não pegou. Com o [ex-presidente Fernando] Collor, tanto o Congresso quanto a população se rebelaram.


Trecho da entrevista a Cristian Klein, publicada no jornal “Valor Econômico”, 12 de abril de 2012.


Argelina Figueiredo é pesquisadora do Cebrap. Ph.D. pelo Departamento de Ciência Política da Universidade de Chicago (EUA). Coordenadora da área de Política e Sociedade do CEBRAP e Professora Associada do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). Co-autora de "Executivo e Legislativo na nova ordem constitucional", junto com Fernando Limongi, um livro obrigatório sobre o presidencialismo de coalizão brasileiro.

 
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