No Brasil, a inflação é um problema essencialmente político.
Ela elegeu presidentes e derrubou a popularidade de muitos governos.
Alimentou ciclos de euforia e temor.
Desde os anos 1990, o assunto projetou o Banco Central a organização de primeira grandeza no Estado brasileiro, rivalizando com o próprio Ministério da Fazenda.
O presidente do Banco Central passou a ter "status" de ministro, um reconhecimento óbvio ao fato de que seu poder é maior do que o da grande maioria dos ministros, além de que os assuntos sensíveis e críticos com os quais lida justificariam reservar-lhe foro especial.
O presidente do Banco Central passou a ter "status" de ministro, um reconhecimento óbvio ao fato de que seu poder é maior do que o da grande maioria dos ministros, além de que os assuntos sensíveis e críticos com os quais lida justificariam reservar-lhe foro especial.
O paradoxo é que, ao "crescer" e virar ministro, o presidente do Banco Central ficou menor em sua condição de "presidente" em relação àquele (no caso atual, àquela) que fica no Planalto. Como disse recentemente o titular do BC, Alexandre Tombini, como ministro, ele faz parte de uma equipe. Não é mais o rei em sua casca de noz.
O Banco quase virou sinônimo de taxa de juros. Foi sua associação quase automática a esse indicador que o colocou na condição de vilão, ou no mínimo de responsável por aplicar o remédio amargo para controlar a economia, qual seja, a elevação da Selic.
No governo Dilma, o Banco Central começa a sair dessa condição, por diversificar a estratégia de combate à inflação e ao mostrar-se mais afinado com o Ministério da Fazenda.
- O artigo do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que explica os componentes diversificados da inflação e defende a atuação do Banco Central. Leia mais...
COMENTÁRIOS ACERCA DA ENTREVISTA CONCEDIDA PELO PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL
Lindbergh Farias – Senador PT-RJ
1- O Brasil está na rota do desenvolvimento. Está crescendo com inflação sob controle, contas públicas organizadas, aumento da taxa de crescimento dos investimentos, redução do desemprego e criação de um mercado de consumo de massas. Mas, para haver a manutenção da rota do desenvolvimento, deve haver planejamento e coordenação, isto é, planejamento de políticas e coordenação de ações públicas.
2- A entrevista concedida pelo presidente do Banco Central do Brasil no dia 17/06 ao jornal Estado de São Paulo revela que as mais importantes instituições do Estado brasileiro estão coordenadas pelo Governo Central em torno de um projeto de desenvolvimento nacional.
3- Precisamente, a entrevista revela que o Banco Central está engajado na tarefa de manter a inflação sob controle sem que haja uma paralisia econômica. Disse o presidente Tombini:
”... o Banco Central reconhece que é possível trazer a inflação para a meta crescendo. Isso tem acontecido e acontecerá. Nós levaremos a inflação de volta para a meta de 4,5% em 2012, com a economia brasileira crescendo.”
Em outra passagem da sua esclarecedora entrevista, afirmou:
“A economia continua crescendo a uma taxa menor que a do ano passado, mas continua crescendo. E a inflação começa a dar sinais de convergência maior para o objetivo explicitado. O meu objetivo é trazer a inflação para a meta. É isso que norteia. O que eu digo é que há o reconhecimento de que é possível fazê-lo com a economia crescendo. Menos do que no ano passado, quando o PIB avançou mais de 7% e a demanda, mais de 10%. Isso gerou pressões (inflacionárias). Então, é preciso neste ano trazer o crescimento para um nível mais baixo...”
4- Se o Ministério da Fazenda toma ações em um sentido e o Banco Central age em sentido contrário isso não revela que o Banco Central é forte, mas sim que o Governo é fraco, que não consegue coordenar suas próprias instituições. Nos dias de hoje, o Banco Central age em sintonia com a Fazenda. Disse o presidente Tombini ao Estadão sobre as decisões tomadas pelo BC:
“Naturalmente, o ministro da Fazenda é ouvido...”
Disse mais:
“O BC é uma autarquia. Sou ministro de Estado. Além de presidente do Banco Central, faço parte do conjunto do ministério. Há um diálogo intenso nas questões, por exemplo, de regulação do Conselho Monetário Nacional. E há um diálogo sobre avaliação econômica.”
5- Foi importante para a sociedade saber, através da entrevista, que além de coordenação com a Fazenda, há também um comando central – e isto não retira a autonomia que todo órgão técnico do Estado deve ter. O Banco Central tem autonomia técnica; o BNDES e a Petrobras também têm. Mas, o presidente Tombini foi enfático e disse:
“A presidente dá o comando. E o comando dela tem sido muito claro para que as políticas do governo sejam adotadas e ajustadas visando a assegurar a estabilidade monetária e a inflação na meta. É isso que temos feito.”
6- Era uma distorção da prática e da teoria econômica pensar que só o Banco Central deveria ser responsável pelo controle da inflação. Dessa forma, o Banco Central ficava quase que de mãos atadas, tendo que utilizar a taxa de juros de forma bastante intensa para manter a estabilidade monetária. Contudo, se o Governo (e não somente o Banco Central) tem como objetivo manter a inflação sob controle, outros instrumentos vão ser utilizados e a taxa de juros será (sim) utilizada, mas será utilizada de forma menos intensa. Vejamos o que disse o presidente Tombini a respeito deste ponto:
“O BC não está sozinho. Temos uma estratégia de governo, de moderação do crédito e de ajustes fiscal e monetário. (...) O que o governo e o BC podem oferecer é uma política consistente, que leve sem ambiguidade a inflação para o centro da meta em 2012.”
7-Ademais, temos um Banco Central que não dá choques de juros na economia (mas, eleva os juros quando é necessário). Utiliza uma estratégia gradualista, moderada e responsável para conduzir a inflação para o centro da meta. O Banco central conduz a sua estratégia antiinflacionária de acordo com as condições econômicas e não de acordo com calendário gregoriano – buscando atingir o centro da meta em dezembro do ano corrente. Declarou ao Estadão o presidente do Banco Central:
“Nos três primeiros meses do ano, já tínhamos inflação de 2,44%. Para manter a meta de 4,5%, significaria uma inflação de 2% em nove meses, o que não é razoável. (...) Simplesmente não seria possível dizer que atingiríamos a meta de 4,5% em 2011. Então, comunicamos claramente que o centro da meta de 4,5% seria atingido em 2012.”
E mais a frente enfatizou:
“Estamos a 18 meses do fim de 2012, o plano de voo está traçado e será ajustado conforme o necessário para trazer a inflação ao centro da meta em 2012.”
8-Cabe ser enfatizado que o Banco Central, o mercado financeiro, o Ministério da Fazenda... enfim, há um consenso que a inflação está sob controle e que ao final do ano a inflação estará abaixo do limite superior de 6,5%. No regime metas de inflação brasileiro existem bandas (superior e inferior) que devem ser utilizadas exatamente nesses momentos. Bandas existem para absorver choques inflacionários – como este que ocorreu no início deste ano. Se o Banco Central não utilizasse as bandas, só perseguisse o centro da meta (de 4,5%), então teria que elevar bruscamente os juros e estagnar a economia em 2011, o que tiraria o País da rota de crescimento com desenvolvimento.
9- E um ponto ainda muito importante destacado na entrevista é a relação do Banco Central com o mercado financeiro. O Banco Central assume o papel de gestor de expectativas e de regulador atento do sistema financeiro, tal como deve ser o papel de qualquer ente público. Não se deixa conduzir por pressões privadas, mas busca orientar os movimentos dos agentes econômicos e financeiros para que todos contribuam com o desenvolvimento do País. Disse o presidente do Banco Central:
“O Banco Central não deixa o mercado ir. Nunca deixou, não está deixando e não deixará o mercado se autorregular”.
E quando perguntado:
“As projeções dos analistas estão mais próximas às do BC. Mudou o BC ou o mercado?”
Respondeu:
“O Banco Central tem um plano de voo definido para trazer a inflação de volta para meta. Em março, comunicamos que essa convergência para o centro da meta seria em 2012. É natural que, quando a inflação corrente está rodando em níveis mais altos, seja mais difícil convencer o mercado dessa estratégia. Mas, a partir do momento em que a inflação mensal começa a apontar níveis compatíveis com a meta de 4,5%, há mais oportunidades para a sociedade em geral, não só o mercado, entender a nossa estratégia e se convencer.”
O presidente do BC mostrou autonomia, firmeza, foco e comando na condução da política monetária e na reorientação das expectativas do mercado.
10- Afinal, qual é o Banco Central do Governo da Presidenta Dilma?
Não é um Banco Central que avalia que é aceitável manter a inflação sob controle com a economia estagnada – é um Banco Central que tem uma estratégia para manter a estabilidade monetária com crescimento econômico;
Não é um Banco Central que confunde autonomia técnica com isolamento dentro Governo – é um Banco Central que dialoga com outros ministérios e enfatiza o comando central da Presidenta;
Não é um Banco Central que dá choques de juros na economia - é um Banco Central moderado e que adota uma estratégica gradualista;
Não é um Banco Central que aceita passivamente pressões privadas – é um Banco Central que busca coordenar as expectativas para unir os agentes econômicos e financeiros em torno de um projeto de desenvolvimento com estabilidade monetária.
19/06/2011 | |
'É possível trazer a inflação para a meta com a economia crescendo'
Em entrevista ao "Estado", o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defende a estratégia da instituição para levar a inflação de volta para a meta de 4,5% em 2012Leandro Modé, Raquel Landim, Beatriz Abreu e Marisa Castellani - O Estado de S.Paulo
O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, marca seus primeiros seis meses de gestão recorrendo constantemente ao verbo moderar e suas variações. E é assim, com moderação, que ele afirma ter certeza de que é possível controlar a inflação e, ao mesmo tempo, permitir o crescimento econômico. Dessa forma, pontua uma discussão que, no governo passado, causou sérias crises entre o BC de Henrique Meirelles e o Ministério da Fazenda de Guido Mantega.
"O Banco Central reconhece que é possível trazer a inflação para a meta crescendo", afirmou. "Isso tem acontecido e acontecerá. Levaremos a inflação de volta à meta de 4,5% em 2012 com a economia brasileira crescendo."
Em entrevista concedida sexta-feira à tarde ao Estado, à Agência Estado e à rádio Estadão ESPN, o presidente do BC deixou claro que a área econômica do governo Dilma Rousseff trabalha em sintonia. O que não significa uma ameaça à autonomia operacional da instituição.
"A presidente dá o comando. E o comando dela tem sido muito claro no sentido de que as políticas do governo sejam adotadas, ajustadas, para assegurar a estabilidade monetária, a inflação na meta", disse. O IPCA, índice que serve de referência para o sistema de metas no País, acumula alta de 6,55% em 12 meses, acima do teto estabelecido pelo governo, que é de 6,50% (o centro é de 4,50%).
Durante uma hora de conversa, Tombini frisou que "o BC não está sozinho" na tarefa de combater a inflação. "Temos hoje uma estratégia de governo, consistente e abrangente, de moderação do crédito e de ajuste fiscal e monetário." A propósito especificamente do crédito, o presidente do BC descartou a existência de uma bolha no Brasil, hipótese que foi recentemente levantada por alguns analistas internacionais. "Trabalhamos cotidianamente para que não ocorram excessos que levem a um risco sistêmico, a uma bolha que estoure lá na frente."
Outro foco de atenção do governo e do BC, disse, é a entrada de capitais estrangeiros no País, que valoriza o real e expande o crédito. "Temos trabalhado com um conjunto de instrumentos para fazer com que o Brasil não aproveite inocentemente a ampla liquidez internacional."
Tombini afirmou que o ministro da Fazenda é ouvido pelo BC. "O Banco Central escuta o mercado, a sociedade, mesmo nas decisões em que tem competência exclusiva. Mas quem decide, por exemplo, sobre taxa de juros é o Comitê de Política Monetária. Nesse processo, como qualquer outro banco central, ouve especialistas e, naturalmente, o ministro da Fazenda."
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