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26 novembro 2021

"Não há questão mais promissora ou importante para a essência da pesquisa científica do que entender como as mentes humanas resolvem problemas e tomam decisões com eficácia." (Herbert Simon)


“O Plano Marshall se tornou uma analogia favorita dos formuladores de políticas públicas. No entanto, poucos sabem o suficiente sobre ele." 
(Graham T. Allison ).



Este Texto para Discussão (em versão preliminar, mas já submetida e aprovada por dois pareceristas) discute como o apoio à decisão pode contribuir para que a formulação de políticas públicas alcance maior grau de consistência e coerência.

Espera-se que isso favoreça o desenho de programas governamentais mais eficientes, com menor fragmentação e sobreposição, e mais efetivos. 

Para investigar essas questões em detalhe, a análise reconstitui o "making of" do Plano Marshall, aquele que é considerado o plano de maior envergadura e complexidade desenvolvido desde o século XX.

Leia (arquivo pdf).


Ilustração: cartaz propagandístico, em alemão, com a promessa de "caminho aberto".

Mais sobre o Plano Marshall e o o Programa de Recuperação Europeia (European Recovery Program – ERP):
LASSANCE, Antonio. O Plano Marshall: uma abordagem atual à formulação, ao desenho e à coordenação de políticas públicas e programas governamentais. Brasília: Ipea, 2021. (Texto para Discussão, n. 2661). Disponível em https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2661substituicao2_o%20plano%20marshall.pdf 
JEL: H11; D4; B15.




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22 setembro 2021

Ministerial Structures: Building a Database for a Cross-Country Comparative Analysis





Ministerial structures are a crucial issue for governance analysis. They are the "loci" where governments produce policies, programs, and institutions. They influence the rules of the game, either when they are part of the decision-making process, or when implementation takes place. Directly or indirectly they influence presidents or prime ministers. They are crossroads where interest groups meet decision-makers and bureaucrats. It's time to know more about them.


Seminar of the Institute for Applied Economic Research (Ipea) and International Policy Centre for Inclusive Growth (IPC-IG)

Estruturas Ministeriais – Construção de um Banco de Dados para uma Análise Comparativa entre Países (Seminário)

O objetivo do seminário é apresentar a base de dados construída pelo Ipea com informações extraídas de fontes oficiais dos governos ou das peças orçamentárias de 21 países. Estes países foram selecionados dentre os de maior transparência em dados de sua estrutura governamental. O trabalho permitiu verificar a disponibilidade e a consistência de fontes abertas de informação que registrassem a trajetória das organizações ministeriais, no recorte temporal selecionado (1990 e 2020). Uma das conclusões preliminares é a de que pastas ministeriais de organização administrativa e de políticas sociais (Saúde, Educação e Trabalho, além de Assistência Social) são as mais estáveis entre esses países.

Perguntas durante o evento pelo email: webinaripea@ipea.gov.br

Abertura:
Ivan Oliveira – diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dinte/Ipea)

Coordenador:
Fabio Veras Soares – coordenador de Estudos em Instituições e Governança Internacional e Políticas Comparadas (COGIP/Dinte /Ipea) e ponto focal do Ipea para o IPC-IG

Palestrantes:
Antonio Lassance – técnico de Planejamento e Pesquisa da Dinte/Ipea e pesquisador associado ao IPC-IG
João Cláudio Basso Pompeu –  especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental 
Silvana Gomes – pesquisadora associada do Ipea
Luciana Silveira – pesquisadora associada do Ipea

Debatedora:
Sheila Tolentino – especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e professora adjunta da Universidade de Brasília (UnB) no Departamento de Gestão de Políticas Públicas

Idioma: Inglês
Informações: Dinte ( dinte@ipea.gov.br)








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06 setembro 2021

O que Jornada nas Estrelas ensina sobre o Afeganistão, Iraque, Vietnã e os golpes na América Latina?



Como Jornada nas Estrelas ("Star Trek") exemplificou o princípio da autodeterminação dos povos. 

Jornada nas Estrelas contra a doutrina imperialista

YANIS VAROUFAKIS*

A doutrina imperialista liberal formulada pelos Estados Unidos foi responsável por uma carnificina terrível em lugares como Vietnã, Iraque e América Central. 
Mas os Estados Unidos também produziram uma doutrina liberal antiimperialista que permanece arraigada em uma série de TV que cativou o público americano desde 1966.

No dia 9 de fevereiro de 1967, horas depois de a Força Aérea estadunidense bombardear o porto de Hai Pong e várias outras pistas de pouso vietnamitas, o canal NBC apresentou um episódio politicamente marcante de Star Trek. 

Com o nome de “O Retorno dos Arcontes”, o episódio marca a entrada em cena da Primeira Diretriz – a lei suprema da Federação Unida dos Planetas e de sua frota estelar, que interdita qualquer interferência intencional em povos, civilizações e culturas alienígenas. Imaginada em 1966, enquanto o presidente Lyndon B. Johnson enviava mais 100 mil soldados para o Vietnã, a Primeira Diretriz constituía uma contestação ideológica direta, ainda que bem camuflada, das atividades do governo dos EUA.

Mantendo seu papel central na série, a Primeira Diretriz é, hoje, ainda mais pertinente. Aventuras militares sempre implicam uma variedade de questões distintas, dificultando um debate racional sobre os seus méritos. Por exemplo, as invasões norte-americanas no Vietnã e no Afeganistão realmente foram movidas por boas intenções, seja para conter o totalitarismo ou para salvar as mulheres dos muçulmanos radicais? Ou tais intenções foram invocadas para encobrir politicamente os cínicos motivos econômicos e estratégicos? Elas foram um erro porque as forças estadunidenses saíram derrotadas? Ou elas teriam sido erradas mesmo em caso de vitória?

O encanto da Primeira Diretriz é que ela atravessa esse labirinto de confusão e engano: os motivos do invasor, sejam eles bons ou maus, não importam em nada. 

A Primeira Diretriz impede o engajamento de tecnologias superiores (militares ou não) com o propósito de interferir em qualquer comunidade, povo ou espécie. Ela é, realmente, bastante drástica: a equipe da frota estelar deve respeitá-la mesmo se isso vier a custar as suas vidas.

Nas palavras do Capitão James T. Kirk, 

"O juramento mais importante do capitão de uma nave estelar é o de que ele dará a sua vida, e a de sua tripulação, antes de violar a Primeira Diretriz”. 

Ao que seu sucessor, o Capitão Jean-Luc Picard, complementa: “a Primeira Diretriz não é apenas um conjunto de regras; é uma filosofia… e uma filosofia bastante correta. A história sempre nos mostra que sempre que a humanidade interfere… não importa quão bem-intencionada seja essa interferência, os resultados são invariavelmente desastrosos”.

Consolidar tal filosofia em um programa mainstream de televisão, e no momento da maior escalada da Guerra do Vietnã, foi uma atitude ousada. São poucas as dúvidas de que se trata de uma crítica intencional à política externa norte-americana. No episódio “Padrões de Força” (1968), os roteiristas da série Star Trek imaginaram um engenheiro que tenta auxiliar o desenvolvimento de um planeta primitivo instaurando, em seu povo, uma atitude humanista enquanto constrói um Estado com uma eficiência tal que apenas um regime autoritário poderia alcançar. Sua intervenção bem-intencionada logo cai por terra conforme os padrões de autoridade que ele instituiu passam a dar ensejo ao racismo institucional, e o humanismo que ele tentou nutrir é esmagado por um regime genocida.

Os roteiristas de Star Terk não eram moralistas ingênuos nem isolacionistas. Eles sabiam que, como acontece com todos os imperativos morais rígidos, sua Primeira Diretriz não poderia ser aplicada de forma simples e direta. Simplesmente visitar um território estrangeiro, ou outro planeta, significa interferir de alguma forma. Ainda que os agentes da frota estelar sejam apresentados como dispostos a morrer para não violar a Primeira Diretriz, em diversas situações a sua revolta moral os leva a distorcê-la ou até mesmo a ignorá-la. 

Em “Guerra Privê” (1968), eles encontram uma gerra civil planetária na qual uma das duas facções recebeu armas mais avançadas dos arqui-inimigos da Federação, os Klingons. Como eles poderiam respeitar a Primeira Diretriz quando o poder inimigo não a respeita? Decidindo que a melhor forma de respeitar a Primeira Diretriz é violá-la, eles procuram nivelar a batalha oferecendo armas quase idênticas para a outra facção. O resultado é uma corrida armamentista descontrolada e um raro final infeliz.

Mas nem todas as violações da Primeira Diretriz levam ao desastre. “Gosto do Apocalipse” (1967) retrata uma singular guerra entre dois planetas cujos líderes haviam aceitado simular suas batalhas em um computador para pôr um fim à constante destruição de infraestrutura. As pessoas “mortas” na simulação eram, no entanto, depois levadas a câmaras de execução. Convencido de que o risco do retorno a uma guerra aberta seria preferível dianteda continuidade das cruéis matanças simuladas – com seus mortos reais –, Kirk viola a Primeira Diretriz, explodindo as câmeras de execução.

De qualquer maneira, os roteiristas tiveram que se esforçar muito, em tais casos, para mostrar que as consequências positivas se deram apesar das violações, não por causa delas. Ou, mais precisamente, foi a crença, gravada nas mentes e nas almas dos agentes da frota estelar, de que a Primeira Diretriz é boa e correta que possibilitou resultados positivos em algumas violações. De forma semelhante, os soldados ocidentais podem, ocasionalmente, fazer o bem em algum país remoto, assolado pela guerra, justamente por não acreditarem que seria sensato tentar construir uma civilização coerente na ponta de um fuzil estrangeiro.

A Primeira Diretriz de Star Trek usa a cultura popular para destacar que é irrelevante questionar se as afirmações de boas intenções para justificar aventuras imperialistas são reais ou se são farsas. Ela dramatiza de forma brilhante como as invasões high-tech, vindas de cima e planejadas com antecedência para salvar um povo “inferior” de si mesmo só podem levar a mentiras repugnantes, a crimes e a manobras de encobrimento do tipo que encontramos nos "Pentagon Papers" ou no Wikileaks.

A Primeira Diretriz é, também, um útil e necessário lembrete das contradições da sociedade americana – em particular, de como ela produziu não apenas a doutrina imperialista liberal responsável por tanta carnificina em países como o Vietnã, o Iraque e o Afeganistão, mas também uma doutrina liberal anti-imperialista que continua confortavelmente instalada em uma série de televisão que tem cativado audiências nos EUA por um período mais longo do que a vida de muitos americanos.

* Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia, é autor, entre outros livros, de O minotauro global (Autonomia Literária).
Versão (com adaptações) da tradução: Daniel Pavan feita para o portal A Terra é Redonda.
Publicado originalmente no portal Project Syndicate.
 



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31 agosto 2021

O mito da facada: uma velha história



"A ideia de que uma guerra - ou uma eleição - não foi realmente perdida, mas traída por uma conspiração de bastidores é uma forma fácil e perenemente atraente (para algumas pessoas pelo menos) de explicar a derrota: derrota, afinal, é muito difícil e doloroso de se admitir. 

Também desqualifica uma grande parte da sociedade como se ela não pertencesse à nação, sejam os judeus ou os socialistas na Alemanha, em 1918, ou os Democratas na eleição dos Estados Unidos em 2020."


A frase acima é do renomado historiador Richard J. Evans, em entrevista.

Célebre especialista em Hitler e no nazismo, seu trabalho mais recente se chama “As conspirações de Hitler: A facada nas costas - O incêndio do Reichstag - Rudolf Hess - A fuga do Bunker”.

O livro trata das teorias da conspiração e fake news geradas em profusão pelo nazismo. 

A frase dita acima por Evans foi a resposta à pergunta do jornalista Aaron J. Leonard:

"Seu capítulo detalhando o mito da "facada nas costas", que afirma que o exército alemão foi sabotado da vitória na Primeira Guerra Mundial por várias forças de esquerda antipatrióticas, me fez pensar em um veterano do Vietnã que encontrei há alguns anos e que era taxativo de que, naquela guerra, os EUA foram forçados a lutar com 'uma mão amarrada nas costas'. Parece que uma das características de muitas dessas teorias da conspiração ou 'histórias alternativas', é pegar uma perda ou fraqueza e transformá-la em algo mais rasteiro. Isso é correto ou há algo mais acontecendo?"













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02 agosto 2021

O papel da cooperação econômica para superar depressões econômicas

Da Grande Depressão à Grande Recessão: The Elusive Quest for International Policy Cooperation, livro organizado por Atish R. Ghosh e Mahvash S. Qureshi. 
Paris: Fundo Monetário Internacional, 2017. (pdf)

A crise financeira global e a subsequente Grande Recessão levantaram preocupações sobre a fadiga do ajuste, a deflação, as guerras cambiais e a estagnação secular que apresentavam uma sensação de déjà vu: preocupações semelhantes surgiram na época da Grande Depressão e no final da Segunda Guerra Mundial . Tal como aconteceu com as crises anteriores, essas preocupações suscitaram apelos por uma maior cooperação política internacional - tanto para alcançar uma recuperação sustentável da crise como para prevenir crises futuras. Este volume compila documentos de um simpósio de 2015 de acadêmicos eminentes convocado pelo FMI para discutir como a história pode informar os debates atuais sobre o funcionamento e os desafios do sistema monetário internacional. Um capítulo introdutório prepara o terreno para os outros capítulos do volume, dando uma ampla visão geral do desempenho do sistema monetário internacional no século passado, destacando os principais eventos e desafios que o moldaram. As seções subsequentes examinam os antecedentes históricos dos desafios de hoje, descrevem como o sistema monetário internacional moderno foi - e continua a ser - moldado por meio da diplomacia financeira internacional, fornecem uma perspectiva atual e examinam a análise da coordenação da política internacional.



From Great Depression to Great Recession: The Elusive Quest for International Policy Cooperation by Atish R. Ghosh and Mahvash S. Qureshi (editors) published by International Monetary Fund (2017). (pdf)

The global financial crisis and the ensuing Great Recession raised concerns about adjustment fatigue, deflation, currency wars, and secular stagnation that presented a sense of déjà vu: similar concerns had arisen at the time of the Great Depression and at the end of World War II. As with earlier crises, these concerns prompted calls for greater international policy cooperation—both to achieve a sustainable recovery from the crisis and to prevent future crises. This volume compiles papers from a 2015 symposium of eminent scholars convened by the IMF to discuss how history can inform current debates about the functioning and challenges of the international monetary system. An introductory chapter sets the stage for the other chapters in the volume by giving a broad overview of the performance of the international monetary system over the past century, highlighting the key events and challenges that shaped it. Subsequent sections look at historical antecedents of today’s challenges, describe how the modern international monetary system has been—and continues to be—shaped through international financial diplomacy, provide a present-day perspective, and examine the analytics of international policy coordination.


Read the book.














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01 agosto 2021

HISTÓRIA DE QUEM FEZ HISTÓRIA

Memória do movimento estudantil de história, dos anos 1980 até hoje.






Debate organizado pela Federação do Movimento Estudantil de História.









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Voto impresso? Como assim?







Um fantasma ronda as eleições de 2022: o fantasma da urna eletrônica.
Uma onda de desinformação tem acompanhado a questão.
Vamos ajudar a esclarecer o assunto e a entender por que querem colocar o bode do "voto impresso" no meio da sala da democracia brasileira.










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29 julho 2021

METODOLOGIA DA PESQUISA: Historia Serial e Micro História

Antonio Lassance, do IPEA, fala sobre o assunto em entrevista ao professor Carlos Domínguez, no programa Crítica Republicana (26/7/2021).






O livro a que fiz referência, sobre a resistência dos negros e os assassinatos seletivos perpetrados por supremacistas brancos contra as lideranças emergentes do período pós escravidão, é: 
EGERTON, Douglas R. The Wars of Reconstruction: The Brief, Violent History of America’s Most Progressive Era. Bloomsbury Press, 2014
 
Além disso, são citados: 
LASSANCE, Antonio. O Plano Marshall: uma abordagem atual à formulação, ao desenho e à coordenação de políticas públicas e programas governamentais. Brasília: Ipea, 2021. (Texto para Discussão, n. 2661). Disponível em <https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2661substituicao2_o%20plano%20marshall.pdf>
JEL: H11; D4; B15.
DOI: http://dx.doi.org/10.38116/td2661 
 
LASSANCE, Antonio. Revolução nas políticas públicas: a institucionalização das mudanças na economia, de 1930 a 1945. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,  v. 33, n. 71, p. 511-538, jul. 2020. ISSN 2178-1494. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/eh/v33n71/2178-1494-eh-33-71-511.pdf>; <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/download/81468/78255>. Acesso em: 05 Set. 2020.

 
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18 junho 2021

O que o maior plano de recuperação econômica mundial tem de atual e útil?


O Plano Marshall foi uma experiência de grande envergadura que ainda traz à luz problemas típicos cruciais com os quais pessoas encarregadas de desenvolver políticas públicas e programas governamentais (policy makers) se defrontam rotineiramente, entre eles:

• Como definir e persistir em uma estratégia de longo prazo diante de questões urgentes de curto prazo, em contextos de crise e pressão política? 
• Como é possível aprovar planos ambiciosos em situações de minoria congressual? 
• Como pensar objetivos estratégicos comuns para realidades socioeconômicas e político-institucionais tão assimétricas (como é comum entre países ou até dentro de um mesmo país, entre regiões bastante diversas)? 
• Como atender à fiscalização congressual e de órgãos de controle e ao mesmo tempo garantir agilidade na implementação? 
• De que forma uma política pública e os programas a ela associados se complementam e não se fragmentam nem se contradizem? 
• Como combinar governança hierarquizada com autonomia gerencial?



Leia o texto (arquivo pdf).

LASSANCE, Antonio. O Plano Marshall: uma abordagem atual à formulação, ao desenho e à coordenação de políticas públicas e programas governamentais. Brasília: Ipea, 2021. (Texto para Discussão, n. 2661). Disponível em https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2661.pdf


LASSANCE, Antonio. The Marshall Plan: a current approach to the formulation, design and coordination of public policies and government programs.
This working paper investigates the Marshall Plan from an unprecedented angle: that of strategy formulation, policy design, and the coordination of policy implementation. Through an in-depth case study, the Marshall Plan proves to be a far-reaching experience that still brings to light chronic and crucial problems for those interested in ex ante policy analysis. The conclusion is that the plan can be reinterpreted as an approach to complex and multi-causal problems (wicked problems) in search of building integrated solutions and government action as coordinated as possible. The approach consists of striving for strategic definitions centered on the correct choice of priority problems and the identification of their causal chain. Around these definitions, the policy design seeks to balance short-term responses with attention to long-term causes. Such assumptions precede issues such as, for example, the efficient budget allocation and the optimization of administrative and regulatory resources – concerns which are more focused on consequences than on root causes. With these preliminaries guaranteed, the policy design establishes a policy governance with due command and central control over the strategy, but with managerial autonomy over the programs. It leaves an open part of the process of formulating alternatives so that they adjust to a decentralized and capillarized implementation, with a technical cooperation network that remains close to the street-level bureaucracy.

https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2661.pdf





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10 junho 2021

O sucesso individual consegue contornar uma injustiça coletiva?



Hattie McDaniel nasceu em 10 de junho 1893, em Wichita, Kansas (Estados Unidos). 

Ela começou a carreira como cantora e, segundo se tem registro, foi a primeira afro-americana a cantar em uma estação de rádio e ter sua voz transmitida por aquela novidade tecnológica de então. 

Passou a atuar no cinema nas décadas de 1930 e 40 e tornou-se a primeira atriz preta a ganhar um Oscar.  

Sua performance premiada foi no  papel da empregada doméstica escravizada, Mammy, no clássico "E o Vento Levou", filme de 1939

Na chamada "Meca do Cinema" (Hollywood), o código de autocensura, feito pelas grandes produtoras de cinema - chamado de Código Hays, em homenagem a seu criador, Will H. Hays – proibia cenas de romances interraciais e era recomendado que negros não fossem escalados para papéis violentos  – pelo menos, não aqueles em que batessem, ao invés de apanhar. 

Salvo raras exceções, os papéis "para negros" eram bastante específicos.

Mesmo com a fama, Hattie McDaniel foi impedida de estar com os demais atores durante a cerimônia de estreia de "E o Vento levou", em 15 de dezembro de 1939, no Loew's Grand Theatre, na cidade de Atlanta, Geórgia (cidade que é a retratada no filme). A lei de segregação racista impedia negros e brancos de frequentarem os mesmos espaços. O Grande Teatro de Atlanta era espaço exclusivo para brancos . 

Conta-se que o astro do filme, Clark Gable, ao saber da proibição, anunciou que não compareceria à estreia, mas acabou convencido do contrário pela pela própria Hattie McDaniell. 

O troco viria no ano seguinte, quando McDaniell ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme que ela estrelou.


Discurso proferido por Hattie McDaniel na cerimônia de entrega do Oscar:
“Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, membros da indústria cinematográfica e convidados de honra: este é um dos momentos mais felizes de minha vida, e quero agradecer cada um de vocês que me selecionaram a um dos seus prêmios por sua gentileza. Isso me fez sentir muito, muito humilde; e sempre o erguerei como um farol para qualquer coisa que eu possa fazer no futuro. Espero sinceramente ser sempre motivo de orgulho para a minha raça e para a indústria cinematográfica. Meu coração está pleno demais para lhes dizer como me sinto, e posso dizer obrigada e que Deus os abençoe.”

Apesar do papel estereotipado, Mammy dava ordens, ralhava e exercia alguma autoridade sobre seus patrões. Esta não seria uma maneira bastante sutil e, de certa forma, até perversa de se dizer uma grande mentira? 

Por exemplo, a mentira de que, não importa o que aconteça lá fora, no mundo que nos rodeia, entre quatro paredes você pode ser o que bem quiser e pode obter respeito até estando escravizado. A dúvida é: em regimes de exploração e injustiça institucionalizada, o respeito e a autoridade conquistados por alguns poucos não seriam uma exceção que confirma a regra?

O sucesso de Hattie no papel de Mammy levou a que a personagem de "E o Vento Levou" se tornasse a inspiração de outra figura popular: Mammy "Two Shoes" ("Dois Sapatos"). 

Mammy Two Shoes era a empregada doméstica que, vez ou outra, aparecia em episódios do desenho animado "Tom e Jerry".

A referência aos "Dois Sapatos" vinha do fato de que a personagem sempre aparecia da cintura para baixo, com destaque apenas para seus sapatos ou pantufas e meias. 

O recurso, aparentemente para dar destaque ao plano inferior onde perambulavam os personagens principais (o gato e o rato), é o mesmo utilizado em "cartoons" posteriores, como "A Vaca e o Frango", em que os pais da vaca e do frango sempre aparecem "sem cabeça".

No vídeo abaixo, Whoopi Goldberg apresenta o relançamento da coleção "Tom e Jerry - The MGM Hanna-Barbera Classics" e explica o contexto de fanatismo racista da época e o quanto isso se refletia em muitos estereótipos dos desenhos. A atriz faz uma justa homenagem à dubladora Lillian Randolph



Hattie McDaniel pode ser vista em todo o seu glamour e cantando com sua voz potente no filme "Thank Your Lucky Stars", de 1943, com Willie Best. A canção é "Ice Cold Katie".



Ao final de seus dias, diagnosticada com câncer, a atriz deu instruções para ser enterrada no cemitério "Hollywood Forever". Seu desejo não foi atendido. O cemitério também seguia a proibição racista de não aceitar negros, o que demonstra o quanto o racismo é uma instituição eternizada nas mais inimagináveis 
maneiras

Hattie McDaniel morreu em 1952 e seu corpo acabou sendo enterrado no campo de Angelus-Rosedalena cidade de Los Angeles, Califórnia, EUA. 

As agruras da atriz e o último episódio que experimentou, mesmo morta, recolocam a pergunta: o sucesso individual consegue realmente contornar uma injustiça coletiva?  


Fontes:
https://en.wikipedia.org/wiki/Hattie_McDaniel
https://www.youtube.com/watch?v=k_oEOdIBOpU
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/12/13/cultura/1576235728_595044.html
https://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-71723/biografia/
https://en.wikipedia.org/wiki/Lillian_Randolph










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24 maio 2021

Como uma viagem de ácido pela Califórnia tornou Michel Foucault um neoliberal



O tratamento dado ao neoliberalismo por Foucault (além de sua reportagem estranhamente entusiástica sobre a Revolução Iraniana) "revela a pobreza em alguns temas-chave" de seu legado.
Ele falhou em prever como uma filosofia da "autonomia" pôde criar uma cultura do privilégio disfarçada de meritocracia. 

O livro que conta essa história é "The Last Man Takes LSD: Foucault and the End of Revolution
("O Último Homem Toma LSD: Foucault e o Fim da Revolução"), de Mitchell Dean e Daniel Zamora
Editora Verso, 256 páginas, US$ 27

Jonathan Russell Clark para o Los Angeles Times.
24 de maio de 2021.

Em 1978 e 1979, o filósofo francês Michel Foucault deu uma série de palestras sobre o neoliberalismo, o conjunto de doutrinas econômicas voltadas para o livre mercado, pró-empresarial, redução do tamanho do Estado e autonomia individual. Foucault não estava interessado nos detalhes do governo real. "Não estudei e não quero estudar", anunciou na primeira palestra, "o desenvolvimento de uma prática governamental real". Em vez disso, ele estava interessado na "arte do governo".

Um livro baseado nessas palestras, "The Birth of Biopolitics", não seria publicado em inglês até 2008, bem no meio de uma crise financeira histórica claramente causada pelo neoliberalismo. Foi, para seu legado, um momento infeliz. O flerte de Foucault com a ideologia dominante desafiou sua reputação acadêmica incólume, e vários artigos tentaram defendê-lo contra sua própria transformação tardia. Mas as consequências foram claras, independentemente do pequeno papel que desempenhou: não muito depois de suas palestras, Thatcher e Reagan deram a largada no neoliberalismo pelo mundo, e estamos revirando escombros até hoje.

Tudo remonta, estranhamente, a uma visita que o pensador francês fez à esquerdista Califórnia - e a uma viagem que fez assim que chegou lá. 

O novo livro de Mitchell Dean e Daniel Zamora, "The Last Man Takes LSD", enfoca a década final de Foucault, de 1975, quando ele tomou o alucinógeno na Califórnia pela primeira vez, até sua morte, em 1984, por complicações da AIDS. 

Durante este período, Foucault mudou de lado na política, da esquerda, desde os anos 60, para uma posição mais centrista, uma tendência dificilmente rara para sua geração durante a Guerra Fria. Como Dean e Zamora colocaram, "Foucault e muitos outros intelectuais pós-68 participaram do processo de pensar sobre uma esquerda que não era socialista; uma esquerda que eliminaria o legado do socialismo pós-guerra."

Nessa visão, um governo com muito poder sobre seus cidadãos invariavelmente levaria ao totalitarismo. O socialismo era visto como "cripto-totalitário". Para Foucault, tais regimes não apenas controlavam sua população, eles os definiam. 

Assim como ele defendeu, perante Roland Barthes, que a interpretação dos textos é a "morte do autor", Foucault queria destituir o Estado de seu poder de determinar o significado de seus cidadãos. Era necessária uma nova concepção radical da individualidade, que substituísse as ideias anteriores de resistência política. Inventar a si próprio foi, para Foucault, a nova forma de revolução.

Ironicamente, foi a experiência de Foucault com LSD em Zabriskie Point no Vale da Morte, um local bem conhecido por suas associações com a  contracultura (principalmente, pelo filme de Michelangelo Antonioni de 1970, "Zabriskie Point") que o encaminhou para a direita. 

A Califórnia nos anos 1960 e 1970 foi um viveiro de ativismo esquerdista - dos protestos de Berkeley aos Merry Pranksters e os Panteras Negras. Foucault, por outro lado, descobriu um tipo diferente de radicalismo. Sua viagem de LSD reforçou sua oposição à "hermenêutica de si", ou seja, interpretar a si como se houvesse alguma verdade fundamental e fixa de sua identidade.

Em vez disso, Foucault acreditou na noção de “prova” - provação -, uma técnica que criaria a verdade interior, em vez de desnudá-la. A identidade de uma pessoa, segundo Foucault, deve ser construída por meio de julgamentos pessoais não contaminados por interferências externas, incluindo - e  principalmente - a de um Estado. 

Foucault mergulhou fundo no coração do individualismo americano e do anti-establishment, mas suas realizações subsequentes mostraram o quão tênue é a linha entre a autossuficiência e o egoísmo.

O neoliberalismo rapidamente se transformou de um conjunto de práticas econômicas que promoveriam a liberdade individual no que o escritor George Monbiot descreveu como “um tipo de extorção self-service”, enriquecendo os ricos e institucionalizando a desigualdade sistêmica. 

Já na década de 70, escrevem Dean e Zamora, o neoliberalismo "foi revelado não apenas como totalmente compatível com regimes autoritários e ditatoriais, em vários países, mas, em muitos casos, como um de seus requisitos". 

O que começou como uma reação ao socialismo “cripto-totalitário” se transformou exatamente no tipo de ideologia restritiva que afirmava combater. Friedrich Hayek, o autor do discurso proto-neoliberal "The Road to Serfdom" ("O Caminho da Servidão"), afirmou certa vez em uma entrevista que preferia um "ditador liberal" a uma "democracia sem liberalismo".

Para os autores, o tratamento dado ao neoliberalismo por Foucault (além de sua reportagem estranhamente entusiástica sobre a Revolução Iraniana) “revela a pobreza em alguns temas-chave” de seu legado. 

Em primeiro lugar, "a abordagem de Foucault parece ter comprometido sua capacidade de abordar a questão da desigualdade." Em segundo lugar, ele falhou em prever como uma filosofia da “autonomia” pôde criar uma cultura do privilégio disfarçada de meritocracia. 

A competição econômica sugere que vencedores e perdedores merecem estar nos lugares onde estão. Na retórica de Newt Gingrich e Bill Clinton nos anos 90, os cidadãos de baixa renda precisavam apenas assumir "responsabilidade pessoal", enquanto o governo se afastava de suas obrigações cívicas.

“The Last Man Takes LSD” não é tão narrativo quanto seu título e premissa podem sugerir - isso não é “Medo e aversão na pós-modernidade”*. Mas Dean, um professor de política, e Zamora, co-autor de “Foucault e o Neoliberalismo”, fazem um excelente trabalho contextualizando as pesquisas e ideias de Foucault em seus anos finais. 

Eles traçam metodicamente as nuances do clima político espinhoso da Era, criando um retrato da promoção simpático de Foucault em uma virada filosófica prejudicial a um pensador que explorou com sucesso o poder e a exploração - uma virada filosófica autodestrutiva. 

Os autores não são tímidos, entretanto, em condenar suas deficiências intelectuais durante esse período. As práticas que ele exaltou em suas palestras, concluem Dean e Zamora, “contribuíram para aumentar a desigualdade, as políticas ditas de austeridade e de controle da dívida pública, mas que aceleraram a corrosão dos serviços públicos, a destruição de empregos públicos e minaram a confiança no Estado, a tal ponto que reduziu a capacidade das democracias reais existentes de resolver problemas da economia, da saúde, segurança e meio ambiente que os confrontam. ”

Mesmo que a viagem de LSD de Foucault não tenha sido a única causa de suas tendências neoliberalistas, ela serve como um simbolismo útil. Os psicodélicos podem promover revelações que expandem a mente, mas implementar novas políticas governamentais requer muito mais do que considerações abstratas. 

Foucault era conhecido por seu envolvimento com o ativismo político (descrito por Colin Gordon como um “homem de ação em um mundo de pensamento”), mas sua miopia tardia reside em sua falta de vontade de explorar suas consequências práticas. Uma ideia que nutre a mente ainda pode destruir o corpo ou corromper a alma. O problema com a ideia de neoliberalismo é que ela soava muito bem em teoria.



* A expressão "fear and loathing" ("medo e aversão") se refere a um estilo editorial de livros muito vendidos que começam justamente com essas palavras e a elas se acrescenta o tema que será tratado no livro.

A foto que estampa esta postagem retrata Michel Foucault e o pianista Michael Stoneman justamente no Vale da Morte, Califórnia, em junho de 1975. Tirada pelo fotógrafo David Wade.

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02 maio 2021

"O mundo é o que se vê de onde se está"

O geógrafo Milton Santos dizia que "descolonizar é olhar o mundo com os próprios olhos." 

Por isso, para ele, "o mundo é o que se vê de onde se está". 





Ele foi um dos primeiros a entender a globalização como um fenômeno histórico que tinha suas origens desde as grandes navegações que levaram, em 1492, à chegada definitiva dos europeus ao território que se tornaria conhecido como América. 

"O olhar sobre a primeira globalização vem das viagens de descobrimento e conquista". 









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25 março 2021

O Que é uma Política e o Que é um Programa? Uma pergunta simples e até hoje sem resposta clara

 

"A dificuldade de se definir claramente o que é uma política pública e o que é um programa governamental é um problema tão comum e crônico que praticamente passou a ser considerado parte da paisagem das políticas públicas. 

É uma espécie de defeito de fábrica à espera de um recall."

O que fazer para superar esse problema básico de inconsistência para o desenho de políticas e programas?

Leia:

LASSANCE, Antonio. O Que é uma Política e o Que é um Programa: uma pergunta simples e até hoje sem resposta clara. In: BARBOSA, Sheila C. T. e COUTO,  Leandro F. Boletim de Análise Político-Institucional, nº 27. Brasília: Ipea, março de 2021. pp. 59-67. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/boletim_analise_politico/210322_bapi_27_artigo_07.pdf> . DOI: http://dx.doi.org/10.38116/bapi27art7 















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08 março 2021

Los motivos del Lobo

Célebre poema de Rubén Darío.
 

El varón que tiene corazón de lis,
alma de querube, lengua celestial,
el mínimo y dulce Francisco de Asís,
está con un rudo y torvo animal,
bestia temerosa, de sangre y de robo,
las fauces de furia, los ojos de mal:
¡el lobo de Gubbio, el terrible lobo!
Rabioso, ha asolado los alrededores;
cruel, ha deshecho todos los rebaños;
devoró corderos, devoró pastores,
y son incontables sus muertos y daños.

Fuertes cazadores armados de hierros
fueron destrozados. Los duros colmillos
dieron cuenta de los más bravos perros,
como de cabritos y de corderillos.

Francisco salió:
al lobo buscó
en su madriguera.
Cerca de la cueva encontró a la fiera
enorme, que al verle se lanzó feroz
contra él. Francisco, con su dulce voz,
alzando la mano,
al lobo furioso dijo: "¡Paz, hermano
lobo!" El animal
contempló al varón de tosco sayal;
dejó su aire arisco,
cerró las abiertas fauces agresivas,
y dijo: "!Está bien, hermano Francisco!"

"¡Cómo! exclamó el santo. ¿Es ley que tú vivas
de horror y de muerte?
¿La sangre que vierte
tu hocico diabólico, el duelo y espanto
que esparces, el llanto
de los campesinos, el grito, el dolor
de tanta criatura de Nuestro Señor,
no han de contener tu encono infernal?
¿Vienes del infierno?
¿Te ha infundido acaso su rencor eterno
Luzbel o Belial?"
 

Y el gran lobo, humilde: "¡Es duro el invierno,
y es horrible el hambre! En el bosque helado
no hallé qué comer; y busqué el ganado,
y en veces comí ganado y pastor.
¿La sangre? Yo vi más de un cazador
sobre su caballo, llevando el azor
al puño; o correr tras el jabalí,
el oso o el ciervo; y a más de uno vi
mancharse de sangre, herir, torturar,
de las roncas trompas al sordo clamor,
a los animales de Nuestro Señor.
¡Y no era por hambre, que iban a cazar!"

Francisco responde: "En el hombre existe
mala levadura.
Cuando nace, viene con pecado. Es triste.
Mas el alma simple de la bestia es pura.
Tú vas a tener
desde hoy qué comer.
Dejarás en paz
rebaños y gente en este país.
¡Que Dios melifique tu ser montaraz!"

"Esta bien, hermano Francisco de Asís."
"Ante el Señor, que toda ata y desata,
en fe de promesa tiéndeme la pata."
El lobo tendió la pata al hermano
de Asís, que a su vez le alargó la mano.

Fueron a la aldea. La gente veía
y lo que miraba casi no creía.
Tras el religioso iba el lobo fiero,
y, bajo la testa, quieto le seguía
como un can de casa, o como un cordero.

Francisco llamó la gente a la plaza
y allí predicó.
Y dijo: "He aquí una amable caza.
El hermano lobo se viene conmigo;
me juró no ser ya vuestro enemigo,
y no repetir su ataque sangriento.
Vosotros, en cambio, daréis su alimento
a la pobre bestia de Dios." "¡Así sea!",
Contestó la gente toda de la aldea.
Y luego, en señal
de contentamiento,
movió la testa y cola el buen animal,
y entró con Francisco de Asís al convento.

Algún tiempo estuvo el lobo tranquilo
en el santo asilo.
Sus bastas orejas los salmos oían
y los claros ojos se le humedecían.
Aprendió mil gracias y hacía mil juegos
cuando a la cocina iba con los legos.
Y cuando Francisco su oración hacía,
el lobo las pobres sandalias lamía.

Salía a la calle,
iba por el monte, descendía al valle,
entraba a las casas y le daban algo
de comer. Mirábanle como a un manso galgo.

Un día, Francisco se ausentó. Y el lobo
dulce, el lobo manso y bueno, el lobo probo,
desapareció, tornó a la montaña,
y recomenzaron su aullido y su saña.

Otra vez sintióse el temor, la alarma,
entre los vecinos y entre los pastores;
colmaba el espanto en los alrededores,
de nada servían el valor y el arma,
pues la bestia fiera
no dio treguas a su furor jamás,
como si estuviera
fuegos de Moloch y de Satanás.

Cuando volvió al pueblo el divino santo,
todos los buscaron con quejas y llanto,
y con mil querellas dieron testimonio
de lo que sufrían y perdían tanto
por aquel infame lobo del demonio.

Francisco de Asís se puso severo.
Se fue a la montaña
a buscar al falso lobo carnicero.
Y junto a su cueva halló a la alimaña.

"En nombre del Padre del sacro universo,
conjúrote dijo, ¡oh lobo perverso!,
a que me respondas: ¿Por qué has vuelto al mal?
Contesta. Te escucho."

Como en sorda lucha, habló el animal,
la boca espumosa y el ojo fatal:

"Hermano Francisco, no te acerques mucho...
Yo estaba tranquilo allá en el convento;
al pueblo salía,
y si algo me daban estaba contento
y manso comía.
Mas empecé a ver que en todas las casas
estaban la Envidia, la Saña, la Ira,
y en todos los rostros ardían las brasas
de odio, de lujuria, de infamia y mentira.
Hermanos a hermanos hacían la guerra,
perdían los débiles, ganaban los malos,
hembra y macho eran como perro y perra,
y un buen día todos me dieron de palos.

Me vieron humilde, lamía las manos
y los pies. Seguía tus sagradas leyes,
todas las criaturas eran mis hermanos:
los hermanos hombres, los hermanos bueyes,
hermanas estrellas y hermanos gusanos.
Y así, me apalearon y me echaron fuera.
Y su risa fue como un agua hirviente,
y entre mis entrañas revivió la fiera,
y me sentí lobo malo de repente;
mas siempre mejor que esa mala gente.
Y recomencé a luchar aquí,
a me defender y a me alimentar.
Como el oso hace, como el jabalí,
que para vivir tienen que matar.
Déjame en el monte, déjame en el risco,
déjame existir en mi libertad,
vete a tu convento, hermano Francisco,
sigue tu camino y tu santidad."

El santo de Asís no le dijo nada.
Le miró con una profunda mirada,
y partió con lágrimas y con desconsuelos,
y habló al Dios eterno con su corazón.
El viento del bosque llevó su oración,
que era: "Padre nuestro, que estás en los cielos..."

_________________________
Rubén Darío. 
Poema publicado em Paris, 1913.
Félix Rubén García Sarmiento (Rubén Darío) era nicaragüense nacido em Metapa (1867). Morreu em León (1916).
É o mais famoso escritor nicaraguense de todos os tempos e considerado um dos mais influentes na língua espanhola.












27 fevereiro 2021

Democracia Digital no Brasil: métodos, instrumentos e abordagens.


Os estudos se concentram em temas como participação política; deliberação on-line; campanhas on-line e partidos políticos; parlamento digital; mobilização política e internet; transparência digital; governo aberto e dados abertos; governos inteligentes (smart government); mídias sociais e populismo; entre outros.

Dossiê temático publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea.



Sumário:
Características e Tendências da Pesquisa Empírica em Democracia Digital no Brasil. Métodos, instrumentos e abordagens
Sivaldo Pereira da Silva

Democracia Digital no Brasil: mapeamento e análises de artigos publicados em periódicos entre 1999-2018
Rafael Cardoso Sampaio
Christiana Soares Freitas
Nilton Cesar Monastier Kleina
Djiovanni Jonas França Marioto
Bruno Washington Nichols
Tiago Philippini Ferreira Borges da Silva
Murilo Brum Alison
Gabriel Alexandre Bozza
Victor Hausen

Dados Abertos Governamentais: usuários e apropriações sociais no Brasil
Maria Dominguez Costa Pinho

Políticas Públicas de Democracia Digital no Governo Federal: individualização da cidadania?
Daniel Pitangueira de Avelino
Igor Ferraz da Fonseca
João Cláudio Basso Pompeu

O Uso de Tecnologia da Informação para o Enfrentamento da Pandemia da Covid-19
João Cláudio Basso Pompeu
Sivaldo Pereira da Silva
Daniel Pitangueira de Avelino
Igor Ferraz da Fonseca

Notas de Pesquisa

Eleições Municipais e a Pandemia da Covid-19: alternativas de ação e possíveis impactos
Acir Almeida

Os Impactos da Pandemia de Covid-19 nas Organizações da Sociedade Civil: conjuntura, desafios e perspectivas
Camila Escudero

O Abastecimento de Água nas Favelas em Meio à Pandemia da Covid-19
Rute Imanishi Rodrigues

Medidas Emergenciais para a População em Situação de Rua: enfrentamento da pandemia e seus efeitos
Tatiana Dias Silva
Marco Natalino
Marina Brito Pinheiro

Acesso à Justiça Durante a Pandemia da Covid-19: o caso do estado do Paraná
Juliane Milani
Alexandre dos Santos Cunha

A Elaboração dos Indicadores de Monitoramento da Convenção da Organização dos Estados Americanos para as Pessoas com Deficiência
Igor Ferraz da Fonseca
Francine de Souza Dias


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