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27 setembro 2013

Manifestantes: jovens, trabalhadores e descrentes da ascensão social



É o que diz a pesquisa sobre as manifestações populares de junho, coordenada pelo professor Marcelo Ridenti, da Universidade de Campinas (Unicamp), apresentada em mesa do encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs).
Segundo Ridenti, os manifestantes souberam se expressar nos moldes da sociedade do espetáculo e sua cultura da celebridade, disse fazendo referência a Guy Debord (1931-1994) e sua obra, "A Sociedade do Espetáculo".
O professor do IFCH da Unicamp destaca a diferença essencial dos protestos ocorridos no Brasil em relação aos da Primavera Árabe, na Europa e mesmo nos Estados Unidos. Por aqui, são jovens com emprego. A maioria trabalha, são recém-formados e nem sempre encontram, no trabalho, a possibilidade de manter o mesmo padrão de vida familiar ao qual estavam acostumados em suas famílias de classe média. Desconfiam de suas próprias possibilidades de ascensão social pelo estudo.
Uma pesquisa anterior, feita pelo Ibope, trouxe dados similares ao do perfil encontrado pelos pesquisadores da Unicamp. Cerca de 63% dos manifestantes tinham entre 14 a 29 anos, enquanto 18% tinham entre 30 a 29 anos. Cerca de 93% tinham o ensino fundamental completo e nível superior incompleto ou já completo.   Em torno de 76% trabalham. A maioria ganha entre 2 a 5 salários mínimos, sendo que 26% estão na faixa de remuneração de 5 a 10 salários mínimos.
É uma contradição da própria melhoria das condições sociais do país na última década. Hoje, conforme lembra Ridenti, existem quase 7 milhões de universitários, o dobro do que era, uma década atrás. 
As chances de ascensão, nesse sentido, exigem mais dos jovens de classe média, hoje, do que no passado. Seu futuro é incerto. A única coisa segura é que eles vieram para ficar.


 
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"Não há contra Dirceu a prova material"


"Sei que há depoimentos, mas a prova testemunhal é a pior das provas. Não há contra Dirceu a prova material." (Ives Gandra Martins, jurista constitucionalista). Gandra critica a teoria do domínio do fato. Fonte: Folha de S. Paulo, 27/9.
 
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Eleições 2014: para os partidos, é a Câmara que importa


Obter a maior votação possível na eleição para deputado vira o maior atrativo para as legendas: quanto mais voto, maiores são a fatia do fundo partidário e o tempo no rádio e na TV a que têm direito

Artigo de Antônio Augusto de Queiroz
Fonte: Congresso em Foco, 25/09/2013

Os partidos políticos iniciaram uma corrida pelo recrutamento de quadros para concorrer à Câmara dos Deputados nas eleições de 2014. São três os motivos principais: o princípio da anualidade da filiação, os recursos do fundo partidário e o espaço na propaganda partidária e eleitoral.

O primeiro motivo é da natureza temporal. É que para concorrer às eleições gerais de 2014, o cidadão deve estar filiado a um partido político pelo menos um ano antes do pleito. Como as eleições de 2014 serão realizadas (primeiro turno) em 5 de outubro do próximo ano, o potencial candidato precisa se filiar até 5 de outubro de 2013.

O segundo motivo é de ordem financeira. É que a quase totalidade dos recursos do fundo partidário, de acordo com a legislação em vigor (art. 41-A da Lei 9.096/1995), é distribuída proporcionalmente ao número de votos obtidos pelas legendas para a Câmara dos Deputados.

Para ser preciso, 5% do total dos recursos do fundo partidário (recursos orçamentários e de multas) são distribuídos igualitariamente entre todos os partidos que tenham registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e 95% são distribuídos proporcionalmente aos votos obtidos por esses partidos na última eleição para a Câmara dos Deputados.

O montante do fundo partidário para 2015 está estimado em aproximadamente R$ 500 milhões. Esse valor será distribuído entre os partidos ao longo do ano, sob a forma de duodécimo, ou seja, um doze avos por mês.

Os recursos do fundo partidário são a principal fonte de receita dos partidos brasileiros. Para que se tenha uma idéia da dimensão dessa importância, veja, abaixo, a tabela com a distribuição entre os partidos dos recursos do fundo partidário de janeiro a junho de 2013.

Clique aqui para ver a distribuição do fundo partidário de janeiro a junho de 2013
O terceiro motivo é o direito de acesso ao horário eleitoral gratuito. É que a maior parte do tempo da propaganda eleitoral e partidária é distribuída proporcionalmente ao número de cadeiras alcançadas pelo partido na Câmara dos Deputados.

A propaganda partidária é diferente da propaganda eleitoral, embora o direito a elas tenha por base o número de deputados eleitos no pleito anterior. A primeira se refere aos programas semestrais ou anuais, destinados a difundir o programa, a doutrina do partido, divulgar as atividades e posições partidárias frente aos temas da conjuntura, enquanto a segunda é permitida somente em período eleitoral, e destina-se à captação de votos por partidos, coligações e candidatos.

A propaganda partidária é um direito de todos os partidos com registro no TSE. O fato de ser semestral ou anual depende do desempenho do partido nas eleições para a Câmara dos Deputados.

Os partidos que elegeram deputados em duas eleições consecutivas e tenham representantes em, no mínimo, cinco estados, além de comprovar ter obtido, no mínimo, 1% dos votos apurados no país (excluídos os brancos e nulos), terão direito a dez minutos por semestre em cadeia nacional de rádio e TV, além de 20 minutos por semestre em inserções de 30 segundos ou um minuto.

Aos partidos que elegeram e mantiveram filiados, no mínimo, três representantes em diferentes estados, é assegurada a realização anual de um programa, em cadeia nacional, com duração de dez minutos. Já os partidos que tenham menos de três deputados ou não tenham representação na Câmara dos Deputados, terão direito a um programa semestral, em cadeia nacional de rádio e televisão, com duração de cinco minutos.

A propaganda eleitoral, aquela utilizada pelos partidos e candidatos por ocasião das campanhas eleitorais (entre julho e novembro em ano de eleição), por sua vez, é distribuída entre os partidos e coligações da seguinte forma: 2/3 proporcionalmente à bancada de cada partido na Câmara dos Deputados e 1/3 terço distribuído igualitariamente entre os partidos e coligações que têm candidatos, ainda que não tenham representação na Câmara.

No caso de coligações, somam-se os horários a que têm direito os partidos. Nos períodos de eleições gerais, as rádios e TVs reservarão, além de 100 minutos por dia (divididos em dois tempos de 50 minutos cada), destinados à propaganda eleitoral gratuita das campanhas majoritárias e proporcionais, mais 30 minutos diários ao longo da programação para inserções de até 60 segundos (divididos em partes iguais) para a utilização, exclusivamente, nas campanhas dos candidatos às eleições majoritárias (presidente governador e senador) e proporcionais (deputados federais e estaduais).

Quando algum partido perde um deputado federal por ingresso deste como fundador de nova legenda, segundo entendimento do TSE, o novo partido tem direito à portabilidade dos recursos do fundo partidário, proporcional aos votos obtidos por aquele parlamentar, além de levar o tempo de rádio e TV correspondente.

O desempenho na eleição para a Câmara dos Deputados é o ponto determinante para a definição do tamanho do horário eleitoral gratuito e da propaganda partidária, bem como do fundo partidário. Eis, sinteticamente, por que os partidos priorizam a eleição de deputados federais.

 
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23 setembro 2013

Eleições 2014 têm uma semana decisiva

É nesta semana o desenlace da decisão do PSB de abandonar o governo Dilma e a base de apoio congressual da presidenta. No Ri de Janeiro, o PT se prepara para definir sua situação em relação ao Governo do Rio. E o TSE, que adiou a decisão sobre a criação dos partidos Rede (de Marina Silva) e Solidariedade (de Paulinho, da Força Sindical), deve bater o martelo sobre o nascimento ou não das duas siglas. 

Leia o artigo na Carta Maior.
 
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19 setembro 2013

Seminário internacional sobre o presidencialismo de coalizão, no Senado Federal

O evento reúne pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e estudiosos brasileiros, que se dedicam ao tema do presidencialismo de coalizão em perspectiva comparada.


Coalitional Presidentialism Project 

Os resultados dos estudos fazem parte do projeto “presidencialismo de coalizão (“Coalitional Presidentialism Project”), coordenado pelo professor Timothy Power, do Departmento de Política e Relações Internacionais da Universidade de Oxford.

O objetivo do seminário internacional é avaliar o modelo político em que partidos díspares se aliam para garantir a governabilidade – praticado no Brasil e outros países da América Latina, da África e da Europa Oriental. O foco dos estudos é o de identificar as ferramentas utilizadas pelos presidentes para governar, com apoio de parlamentos multipartidários, e avaliar até que ponto esse modelo facilita ou dificulta a transparência e a prestação de contas à população.


O evento é promovido pelo Interlegis, uma secretaria do Senado Federal responsável pela execução do Programa Interlegis, que tem por missão modernizar e fortalecer o Poder Legislativo Brasileiro nos níveis Municipal, Estadual e Federal através da capacitação de servidores e parlamentares, disponibilizando equipamentos, produtos e serviços nas áreas de: Infra-Estrutura Tecnológica; Sistemas de Informação para as áreas Legislativa, Administrativa, Informação e Comunicação e na melhoria de processos organizacionais, formando assim a Comunidade Virtual do Legislativo. Também apoiam o evento o Instituto Legislativo Brasileiro (ILB) e a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado (CE).

Mais informações pelo telefone: (61) 3303-1861.




 
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17 setembro 2013

Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil

Estudos comparam a situação brasileira com a dos demais países do Cone Sul, em temas como o mercado consumidor de bens simbólicos e produtos culturais, a formação e cognição, regulação e controle, cooperação e intercâmbio, mercado de trabalho, sistemas de produção e circulação dos bens simbólicos e conteúdos culturais e comunicação pública. 
Os dois primeiros volumes abordam temas como mercado consumidor de bens simbólicos e produtos culturais, formação e cognição, regulação e controle, cooperação e intercâmbio, mercado de trabalho, sistemas de produção e circulação dos bens simbólicos e conteúdos culturais e comunicação pública.
O volume 3 retrata a atuação da sociedade científica do campo comunicacional junto a instituições nacionais e estrangeiras.
O último volume resgata a memória dos estudos de comunicação no país.
O projeto Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil, que soma três edições, com onze volumes publicados, reunindo mais de 180 textos com análises e propostas de iniciativas e políticas públicas para o setor, rendeu ao Ipea o Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação 2012 (promovido pela Intercom e Globo Universidade) na categoria Instituição Paradigmática.
Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil - 2012/2013 - Indicadores e Tendências I - Volume 1
Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil - 2012/2013 - Indicadores e Tendências II - Volume 2
Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil - 2012/2013 - Flagrantes - Volume 3
Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil - 2012/2013 - Memória - Volume 4


O Panorama foi organizada pelo professor José Marques de Melo – ex-diretor da Escola de Comunicação e Artes da USP, primeiro doutor em jornalismo do Brasil e presidente do Conselho Deliberativo da Socicom – e por João Cláudio Garcia, assessor-chefe de Imprensa e Comunicação do Ipea.
A obra foi lançada na segunda (16/9/2013) no Escritório da Presidência da República em São Paulo, com a presença de pesquisadores que participaram do projeto. 

 
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16 setembro 2013

O samurai Luiz Gushiken



Em 2002, Lula foi ao hospital tirá-lo da cama, em uma das inúmeras vezes em que o “chininha”, como gostava de chamá-lo, seria derrubado, mas não vencido, por um câncer agressivo. Havia perdido  muitos de seus quilos e parte razoável de seu intestino. A ocasião talvez não fosse apropriada, mas o convite não podia esperar. Lula o queria na coordenação da campanha; depois, o faria coordenador-adjunto da transição de governo e, em seguida, ministro.

Antonio Lassance*




"Luiz Gushiken partiu como viveu: com coragem". (Dilma Rousseff, presidente da República).


"Nunca esqueceremos a contribuição generosa de Gushiken para a construção desse Brasil que sonhamos juntos e que sem ele não seria possível" (Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República).



“Quem é esse cara que foi preso por minha causa e eu nem conheço?”


Foi-se embora Luiz Gushiken, petista, sindicalista, ex-deputado federal e ex-ministro do primeiro governo Lula (2003 a 2006).
Lula teve a primeira notícia sobre Gushiken quando este havia sido preso, em plena ditadura militar, organizando um fundo de greve de solidariedade dos bancários para os metalúrgicos. “Quem é esse cara que foi preso por minha causa e eu nem conheço?”
Gushiken foi presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, fundador da CUT, em 1983, e um dos idealizadores do Departamento Nacional dos Bancários da CUT, que deu origem à Confederação Nacional dos Bancários (CNB-CUT).
Fundador do PT, em 1980, foi membro de seu Diretório Nacional e Presidente do Partido (de 1988 a 1990) durante a heroica campanha de 1989, a do Lula-lá.
No PT, foi  também Secretário Sindical Nacional e Vice-Presidente Nacional. Deputado constituinte e reeleito por mais dois mandatos, em 1998 abriu mão de disputar eleições.


O estrategista que gostava de Muhhammad Ali


Em 2002, Lula foi ao hospital tirá-lo da cama, em uma das inúmeras vezes em que o “chininha”, como gostava de chamá-lo, seria derrubado, mas não vencido, por um câncer agressivo. Havia perdido  muitos de seus quilos e parte razoável de seu intestino. Lula o queria na coordenação da campanha; depois, o faria coordenador-adjunto da transição de governo e, em seguida, ministro.
Gushiken gostava de tudo que dissesse respeito, direta ou indiretamente, a conhecimento estratégico. Era aficionado por estudar métodos e técnicas de planejamento; lia sobre a arte da guerra e grandes batalhas. Gostava de lutas de boxe e nelas via também estratégia. A luta entre Muhammad Ali e George Foreman, em 1974, a “jungle fight” montada no Zaire de Mobuto e transmitida para o mundo, era por ele considerada a luta do século. Muito frequentemente, lhe servia como analogia.
A luta mostrava como alguém em desvantagem podia vencer um oponente mais forte, se usasse a estratégia correta. Foreman era, naquele momento, um oponente superior a Muhammad Ali. A estratégia de Ali parecia estranha e perigosa: apanhar, segurar o tranco até o último round e cansar o adversário. Assim fez, esperando o momento exato até que seu rival, exausto, estivesse no ponto para ser derrotado. Muhammad Ali reconquistou seu cinturão quando a maioria o julgava acabado.


O samurai na comunicação de governo


Mais que uma analogia, Gushiken fez uso dessa estratégia inúmeras vezes. Por exemplo, quando precisou dar um “chega pra lá” em Duda Mendonça, marqueteiro da campanha de 2002 e um dos publicitários oficiais do governo, a partir de 2003. Gostemos ou não de Duda Mendonça, ninguém discute que ele é um dos melhores naquilo que faz: marketing político. Por sua vez, o conhecimento da área de comunicação não era um dos pontos fortes de Gushiken.
Duda circulava pela Esplanada e conversava diretamente com ministros e com o próprio presidente sobre publicidade, campanhas e marketing. Eminência parda da área, agia como um ministro sem pasta. Percebendo a investida, Gushiken tomou uma atitude defensiva. Deu uma entrevista na qual dizia que Duda seria transformado em uma espécie de consultor para cuidar da imagem do governo e seus programas. Todos à volta de Gushiken imaginavam que ele estava entregando os pontos.
No dia seguinte, as manchetes dos jornais apelidavam Duda de “o ministro da propaganda” de Lula. Exposto, Duda acusou o golpe e disse que gostava de fazer publicidade, e não de ter que ficar dando explicações à imprensa todo dia. Procurou Gushiken e disse: “o ministro é você, e mais ninguém”. O publicitário nunca mais discutiu nada sobre a publicidade sem antes passar pela Secom. Promovendo a figura de Duda, Gushiken obrigou-o, diante do estigma de ministro da propaganda e do holofote negativo, a jogar a toalha.
Na verdade, Gushiken nunca quis ser ministro da Secretaria de Comunicação. Queria uma Secretaria de Assuntos Estratégicos, que já não mais existia - havia acabado durante o segundo mandato de  FHC. Mas Lula insistia na ideia da comunicação. Precisava de um ministro de sua absoluta confiança para cuidar da estratégia de centralização da comunicação de governo, como forma de imprimir suas marcas. A solução salomônica foi juntar as duas coisas: o que Lula queria e o que Gushiken pedia. Assim nasceu a Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência da República.



Reviravoltas na comunicação


A comunicação de governo sofreu uma reviravolta sob o comando do “chininha”, do “Gushi”, do “samurai” - para citar alguns dos vários apelidos pelos quais Gushiken era referido.
Antes do governo Lula, havia ministérios, como o da Educação, de Paulo Renato Souza; o da Saúde, de José Serra; e o  do Desenvolvimento Agrário, de Raul Jungmann, que suplantavam em muito a estrutura de comunicação da própria Presidência da República. A partir de Gushiken, os ministérios passaram a fazer exclusivamente a dita publicidade de utilidade pública. A publicidade institucional de governo estaria a cargo só da Presidência.
O Governo Federal passou a ter um negociador único (a Secom) da verba publicitária, e a relação com os veículos de comunicação inverteu-se. Alguns veículos eram privilegiados na distribuição de verbas publicitárias sem qualquer relação com a audiência ou com o público-alvo das campanhas.
Uma dessas campanhas, para o Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf),  gerou outra reviravolta. Quando veio o plano de mídia, com a lista dos veículos, o cronograma de veiculação das peças publicitárias e os valores a serem gastos, não havia veículos do interior. Ou seja, a publicidade de um programa destinado a agricultores seria feita, em sua maior parte, nas capitais, e não em áreas rurais.
O ministro devolveu a planilha, pediu mais rádio e mais jornais do interior. As agências voltaram em polvorosa. Como fazer propaganda em veículos do interior? Ninguém sabe quem eles são e que audiência têm. A resposta de Gushiken foi uma espécie de “se virem e descubram”.
A teimosia do dirigente acabou gerando o primeiro processo de regionalização da verba publicitária. A própria equipe da Secom começou a cadastrar e a incentivar o processo de formação ou fortalecimento das associações de veículos do interior, que se organizaram para contratar mecanismos para a aferição de audiência para que pudessem ser remunerados conforme sua capacidade de difusão da informação.
Pela primeira vez se discutiu claramente que a publicidade deveria considerar a audiência (o que não ocorria antes), mas não se resumir a ela. A escolha de veículos também deveria ser adequada aos segmentos de público específicos aos quais a mensagem das campanhas se destinasse. É algo que hoje mereceria ser feito em relação à internet e ainda não o foi.



Cartas críticas e puxões de orelha nos ministros


Gushiken também levou para a Secom, a pedido de Lula, o jornalista Bernardo Kucinski, que desde a campanha eleitoral produzia uma análise das notícias publicadas pela imprensa. Kucinski passou a produzir as Cartas Críticas durante as madrugadas, e o documento seguia bem cedo para o Palácio da Alvorada. As cartas eram críticas em relação ao governo e também quanto à distorção de informações de parte da imprensa. 
Lula sistematicamente usava a Carta Crítica como um roteiro para seus puxões de orelha em ministros. Durante suas caminhadas matinais, o presidente lia o documento e disparava ligações para cobrar providências de seus auxiliares. Um deles reclamou com o ministro da Secom: “O Bernardo tem que parar com isso. Todo dia o presidente me liga pra reclamar”. Gushiken respondeu: “mas é exatamente pra isso que chamamos o Bernardo”.
Outra novidade foi a criação de um boletim chamado Em Questão, uma espécie de Voz do Brasil, só que impresso. O Em Questão era o principal instrumento do governo para divulgar suas notícias  de forma rápida. Embora tivesse versão impressa, sua maior circulação se dava por email. A imprensa o apelidou de Pravda (em russo, “a verdade”), nome do famoso jornal da antiga União Soviética. A fama disseminada acabou ajudando a divulgar sua existência e a chamar a atenção para suas notícias. Ao final de 2006, o Em Questão chegava impresso ou por email a meio milhão de pessoas.
Ainda em 2003, foi criado o Café com o presidente, que trazia de volta ao rádio o recado semanal do presidente da República. O programa existe até hoje - agora, Café com a presidenta.



Contra o complexo de vira-latas, "o melhor do Brasil é o brasileiro"


Em 2004, Gushiken convidou as principais agências de publicidade do setor privado para uma ação conjunta, em parceria com as agências que serviam ao governo. Os publicitários foram incentivados a pensar peças de uma grande campanha para reforçar a autoestima dos brasileiros. Era a época do combate sem tréguas ao “complexo de vira-latas”, expressão de Nélson Rodrigues que Lula pegou emprestado para criticar os que não confiavam no Brasil e falavam mal do país no exterior.
O esforço em parceria deu origem à campanha “O melhor do Brasil é o Brasileiro”, feita toda sobre exemplos de superação e valores como a honestidade. O slogan "sou brasileiro e não desisto nunca" virou um bordão.
As campanhas de autoestima, a regionalização dos gastos de publicidade, a criação do Fórum de Assessores de Comunicação, do Em Questão e do Café com o presidente, o fortalecimento da Radiobrás, da TV e das rádios educativas foram alguns dos legados de Gushiken no comando da Secom. Muitos desses legados foram abandonados por uma comunicação de governo que aos poucos foi perdendo peso político e hoje é destituída de qualquer sentido estratégico.


O inferno abre suas portas


Em 2005, o escândalo desencadeado pelas acusações de Roberto Jefferson, presidente do PTB, levantou suspeitas sobre a comunicação do governo. O pivô das acusações era o empresário Marcos Valério, um dos sócios da agência DNA Propaganda. Valério ainda hoje é chamado de publicitário, sem ser. Embora fosse sócio de uma agência publicitária, seu verdadeiro negócio não era esse, e sim o sistema financeiro. Como disse a própria presidente do Banco Rural, em depoimento à CPI e à Justiça, Valério atuava como lobista em favor de bancos. O dinheiro do que acabou conhecido como “mensalão”, carimbo criado por Jefferson, era pago por bancos médios (como o Rural) ao lobista com a expectativa de terem acesso a serviços que, até então, eram restritos aos grandes bancos.
Gushiken sabia que as acusações contra ele tinham como objetivo atingir o presidente Lula e quebrar as pernas da comunicação de governo. Mas suspeitava também que muitas das ilações eram patrocinadas, de alguma forma, por seu arqui-inimigo, Daniel Dantas.
Dantas foi o mago das finanças do processo de privatização durante o governo FHC. Canalizou o interesse de grandes fundos de investimento estrangeiros e tinha peso sobre a decisão de vários fundos de pensão de trabalhadores do setor público, que tiveram recursos utilizados justamente para financiar a privatização de empresas estatais.
Em 2004, eis que a Polícia Federal, na Operação Satiagraha, que investigava o escândalo da falência da Parmalat, descobriu que Dantas contratara a Kroll, maior empresa de espionagem do mundo, para espionar, entre outros, Luiz Gushiken. Na esteira da investigação, foi também desvendada uma teia de relações de Dantas com o meio jornalístico, com “profissionais” contratados para falar mal do ministro de Lula.
A PF concluiu que Dantas havia montado uma verdadeira organização criminosa, que acabou acusada dos crimes de quadrilha, corrupção ativa, quebra de sigilo constitucional, exploração de prestígio e obtenção ilegal de documentos confidenciais. O desfecho de tudo é conhecido: Dantas foi preso e quase imediatamente solto pelo STF, e o único que passou por dificuldades com o processo foi o delegado da Polícia Federal que comandou a Satiagraha, Protógenes Queiroz, hoje deputado federal (PCdoB-SP).


Acusado injustamente, finalmente inocentado


Gushiken, desde o início, manteve-se convicto de que não havia dinheiro da comunicação no dito mensalão. Dizia que a única maneira de algum valor substancial da área ir parar nas mãos dos partidos seria se os veículos estivessem remetendo os recursos de publicidade para campanhas eleitorais. A quase totalidade do dinheiro da publicidade é gasto justamente na veiculação de comerciais. Não fazia sentido.
Com essa certeza em mãos, Gushiken foi para uma das comissões parlamentares de inquérito montadas no Congresso e enfrentou gente como Eduardo Paes e Gustavo Fruet. Ambos eram estrelas do  PSDB no espetáculo midiático do mensalão e diziam estar enfrentando o governo mais corrupto de toda a história do Brasil. Paes e Fruet, hoje no PDMB e no PDT, respectivamente, iriam depois se desculpar pessoalmente com Lula e pedir de joelhos o apoio às suas campanhas às prefeituras do Rio de Janeiro e de Curitiba, em 2012.
Acusado injustamente, Gushiken foi inocentado na peça elaborada pelo procurador-geral da República, no relatório de Joaquim Barbosa e pelo voto de todos os ministros do Supremo Tribunal Federal. As manchetes do dia seguinte de forma alguma lhe fizeram justiça. Dizem, ainda hoje, após sua morte, que ele foi inocentado por “falta de provas”, como se fosse possível haver provas de algo que não existiu.
Nenhum dos detratores pediu desculpas a Gushiken. 


De volta à estratégia


Enquanto vários ministros caíram, ao longo de 2005 e 2006, Gushiken ficou. Assim que o escândalo do mensalão se instalou, percebeu que o duro golpe que sofrera lhe abria uma oportunidade: a de convencer Lula de seu projeto original. O presidente finalmente concordou em deixá-lo cuidar só de assuntos estratégicos. Surgiu assim o Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), separado da Secom. Gushiken pediu para não ter status de ministro e nem sala reservada no Palácio do Planalto.
De 2003 a 2006, em torno do projeto Brasil 3 Tempos (2007, 2015, 2022), foram feitos estudos sobre biocombustíveis, mudanças climáticas, nanotecnologia, macroeconomia para o desenvolvimento, educação em tempo integral, tecnologias sociais, reforma política, desenvolvimento regional e cenários de longo prazo, entre outros.


Último round


Lula reelegeu-se em 2006 e Gushiken foi convidado a continuar no governo. Declinou. Queria um pouco de paz e achava que não ajudaria mais o governo. Ao contrário, seria uma fonte permanente de insinuações e ilações. Antevia o circo que seria montado em torno da AP 470, que ainda estava longe de concluir por sua inocência.
Uma de suas últimas batalhas foi travada contra a revista Veja. O semanário havia publicado informações mentirosas a seu respeito. Indignado, consultou um advogado, que o desestimulou a ingressar com a ação, pois, mesmo ele estando com a razão e podendo provar que Veja havia mentido, o processo seria demorado e o resultado era incerto. A indenização, se viesse a ser concedida, seria menor que os honorários advocatícios e pouco valeria para reparar o dano.
Gushiken preferiu discordar do prognóstico e insistiu em entrar com a ação. O samurai ainda teve tempo de ver a Justiça lhe dar ganho de causa. A revista foi obrigada a indenizá-lo por danos morais. Espancado pela Veja ao longo de todo o governo Lula, saiu-se vitorioso no último de seus rounds.
Poucas semanas depois de ter completado seus 63 anos, reuniu a família, fez um balanço de sua vida, falou dos desafios do governo Dilma e do PT, despediu-se. Já não tomava a medicação, pois ela não mais produzia efeito, a não ser os negativos. Estava com 35 quilos.
O 13 que o acompanhou por toda a sua vida política selou seu derradeiro fim. Gushiken morreu na noite do dia 13 de setembro de 2013.

_____________________________________________
* Antonio Lassance, doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília, foi coordenador administrativo da transição de governo, em 2002; chefe de gabinete de Luiz Gushiken, de 2003 a 2005; e Secretário-Geral do Núcleo de Assuntos Estratégicos, em 2006. É Técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente opiniões do instituto.


15 setembro 2013

De que lado ficará Celso de Mello?


Mais do que decidir uma tese sobre os embargos infringentes, o ministro tem a responsabilidade de dar um basta a uma divisão que pode se aprofundar no STF entre os que argumentam e os que esbravejam, com a jugular saltada; entre os que defendem ou rejeitam teses e os que atacam pessoas (inclusive seus próprios pares); entre os que julgam réus e os que castigam inimigos.

Seu voto dirá se ele está entre aqueles preocupados com a correção dos julgamentos ou entre os que jogam “às favas todos os escrúpulos de consciência".


Leia o artigo publicado na Carta Maior.


 
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11 setembro 2013

Coleman Hawkins and the Fletcher Henderson Orchestra

"Hocus Pocus"March 6th 1934.



Fletcher Henderson, Hocus Pocus (Will Hudson) 3-6-1934 New York, New York Bluebird B-10247-B Bluebird 5682 81787-1.

In 1934, the Fletcher Henderson Orchestra used to be (*):
Alto Saxophone, Clarinet – Hilton Jefferson, Russell Procope
Clarinet – Buster Bailey
Double Bass – Elmer James
Drums – Walter Johnson
Guitar – Lawrence Lucie
Piano – Fletcher Henderson
Tenor Saxophone – Ben Webster
Trombone – Claude Jones, Keg Johnson

Trumpet – Henry "Red" Allen, Irving Randolph, Russell Smith.


(*) Source: http://www.discogs.com/Fletcher-Henderson-And-His-Orchestra-Tidal-Wave-Down-South-Camp-Meetin/release/4196286







Classic Big Band #Jazz




#Jazz Radio Big Band Land






Hit Parades from the 30s and 40s.

Big bands, crooners and divas from one of the most exciting musical periods ever.

Link: http://tunein.com/radio/GotRadio-Big-Band-Land-s49669/
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10 setembro 2013

FHC


Toma posse hoje, na Academia Brasileira de Letras, aquele que se imortalizou com a frase “esqueçam o que escrevi”. 

FHC na ABL, segundo o visionário Millor Fernandes

FhC (superlativo de PhD), "espécie de Sarney barroco-rococó", "deita a fala do trono, com a convicção de que, mais do que nunca, foi ele, the king of the black sweetmeat made of coconuts (o rei da cocada preta)".

Dependência e Desenvolvimento na América Latina, de FhC

LIÇÃO PRIMEIRA
De uma coisa ninguém podia me acusar — de ter perdido meu tempo lendo FhC (superlativo de PhD). Achava meu tempo melhor aproveitado lendo o Almanaque da Saúde da Mulher. Mas quando o homem se tornou vosso Presidente, achei que devia ler o Mein Kampf (Minha Luta, em tradução literal) dele, quando lutava bravamente, no Chile, em sua Mercedes (“A mais linda Mercedes azul que vi na minha vida”, segundo o companheiro Weffort, na tevê, quando ainda não sabia que ia ser Ministro), e nós ficávamos aqui, numa boa, papeando descontraidamente com a amável rapaziada do Dops-DOI-CODI.

Quando, afinal, arranjei o tal Opus Magno — Dependência e Desenvolvimento na América Latina — tive que dar a mão à palmatória. O livro é muito melhor do que eu esperava. De deixar o imortal Sir Ney morrer de inveja. Sem qualquerpartipri, e sem poder supervalorizar a obra, transcrevo um trecho, apanhado no mais absoluto acaso, para que os leitores babem por si:

“É evidente que a explicação técnica das estruturas de dominação, no caso dos países latino-americanos, implica estabelecer conexões que se dão entre os determinantes internos e externos, mas essas vinculações, em que qualquer hipótese, não devem ser entendidas em termos de uma relação “casual-analítica”, nem muito menos em termos de uma determinação mecânica e imediata do interno pelo externo. Precisamente o conceito de dependência, que mais adiante será examinado, pretende outorgar significado a uma série de fatos e situações que aparecem conjuntamente em um momento dado e busca-se estabelecer, por seu intermédio, as relações que tornam inteligíveis as situações empíricas em função do modo de conexão entre os componentes estruturais internos e externos. Mas o externo, nessa perspectiva, expressa-se também como um modo particular de relação entre grupos e classes sociais de âmbito das nações subdesenvolvidas. É precisamente por isso que tem validez centrar a análise de dependência em sua manifestação interna, posto que o conceito de dependência utiliza-se como um tipo específico de “causal-significante’ — implicações determinadas por um modo de relação historicamente dado e não como conceito meramente “mecânico-causal”, que enfatiza a determinação externa, anterior, que posteriormente produziria ‘conseqüências internas’.”

Concurso – E-mail:
Qualquer leitor que conseguir sintetizar, em duas ou três linhas (210 toques), o que o ociólogo preferido por 9 entre 10 estrelas da ociologia da Sorbonne quis dizer com isso, ganhará um exemplar do outro clássico, já comentado na primeira parte desta obra: Brejal dos Guajas — de José Sarney.
LIÇÃO SEGUNDA
 Como sei que todos os leitores ficaram flabbergasted (não sabem o que quer dizer? Dumbfounded, pô!) com a Lição primeira sobre Dependência e Desenvolvimento da América Latina, boto aqui outro trecho — também escolhidoabsolutamente ao acaso — do Opus Magno de gênio da “profilática hermenêutica consubstancial da infra-estrutura casuística”, perdão, pegou-me o estilo. Se não acreditam que o trecho foi escolhido ao acaso, leiam o livro todo. Vão ver o que é bom!

Estrutura e Processo: Determinações Recíprocas
 “Para a análise global do desenvolvimento não é suficiente, entretanto, agregar ao conhecimento das condicionantes estruturais a compreensão dos ‘fatores sociais’, entendidos estes como novas variáveis de tipo estrutural. Para adquirir significação, tal análise requer um duplo esforço de redefinição de perspectivas: por um lado, considerar em sua totalidade as ‘condições históricas particulares’ — econômicas e sociais — subjacentes aos processos de desenvolvimento no plano nacional e no plano externo; por outro, compreender, nas situações estruturais dadas, os objetivos e interesses que dão sentido, orientam ou animam o conflito entre os grupos e classes e os movimentos sociais que ‘põem em marcha’ nas sociedades em desenvolvimento. Requer-se, portanto, e isso é fundamental, uma perspectiva que, ao realçar as mencionadas condições concretas — que são de caráter estrutural — e ao destacar os móveis dos movimentos sociais — objetivos, valores, ideologias —, analise aquelas e estes em suas relações e determinações recíprocas. (…) Isso supõe que a análise ultrapasse a abordagem que se pode chamar de enfoque estrutural, reintegrando-a em uma interpretação feita em termos de ‘processo histórico’ (1). Tal interpretação não significa aceitar o ponto de vista ingênuo, que assinala a importância da seqüência temporal para a explicação científica — origem e desenvolvimento de cada situação social — mas que o devir histórico só se explica por categorias que atribuam significação aos fatos e que, em conseqüência, sejam historicamente referidas.
 (1)  Ver, especialmente, W. W. Rostow, The Stages of Economic Growth, A Non-Communist Manifest, Cambridge, Cambridge University Press, 1962; Wilbert Moore, Economy and Society, Nova York, Doubleday Co., 1955; Kerr, Dunlop e outros, Industrialism and Industrial Man, Londres, Heinemann, 1962.”

Comentário do Millôr, intimidado:
 A todo momento, conhecendo nossa precária capacitação para entender o objetivo e desenvolvimento do seu, de qualquer forma, inalcançável saber, o professor FhC faz uma nota de pata de página. Só uma objeçãozinha, professor. Comprei o seu livro para que o senhor me explicasse sociologia. Se não entendo o que diz, em português tão cristalino, como me remete a esses livros todos? Em inglês! Que o senhor não informa onde estão, como encontrar. E outra coisa, professor, paguei uma nota preta pelo seu tratado, sou um estudante pobre, não tenho mais dinheiro. Além  do que, confesso com vergonha, não sei inglês. Olha, não vá se ofender, me dá até a impressão, sem qualquer malícia, que o senhor imita um velho amigo meu, padre que servia na Paróquia de Vigário-Geral, no Rio. Sábio, ele achava inútil tentar explicar melhor os altos desígnios de Deus pra plebe ignara do pequeno burgo e ensinava usando parábolas, epístolas, salmos e encíclicas. E me dizia: “Millôr, meu filho, em Roma, eu como os romanos. Sendo vigário em Vigário-Geral, tenho que ensinar com vigarice”.

LIÇÃO TERCEIRA
 Há vezes, e não são poucas, em que FhC atinge níveis insuperáveis. Vejam, pra terminar esta pequena explanação, este pequeno trecho ainda escolhido ao acaso. Eu sei, eu sei — os defensores de FhC, a máfia de beca, dirão que o acaso está contra ele. Mas leiam:

“É oportuno assinalar aqui que a influência dos livros como o de Talcot Parsons, The Social System, Glencoe, The Free Press, 1951, ou o de Roberto K. Merton, Social Theory and Social Structure, Glencoe, The Free press, 1949, desempenharam um papel decisivo na formulação desse tipo de análise do desenvolvimento. Em outros autores enfatizaram-se mais os aspectos psicossociais da passagem do tradicionalismo para o modernismo, como em Everett Hagen, On the Theory of Social Change, Homewood, Dorsey Press, 1962, e David MacClelland, The  Achieving Society, Princeton, Van Nostrand, 1961. Por outro lado, Daniel Lemer, em The Passing of Traditional Society: Modernizing the Middle East, Glencoe, The Free Press, 1958, formulou em termos mais gerais, isto é, não especificamente orientados para o problema do desenvolvimento, o enfoque do tradicionalismo e do modernismo como análise dos processos de mudança social”.

Amigos, não é genial? Vou até repetir pra vocês gozarem (no bom sentido) melhor: “formulou (em termos mais gerais, isto é, não especificamente orientados para o problema do desenvolvimento) o enfoque (do tradicionalismo e do modernismo) como análise (dos processos de mudança social)”.

Formulou o enfoque como análise!
 É demais! É demais! E sei que o vosso sábio governando, nosso FhC, espécie de Sarney barroco-rococó, poderia ir ainda mais longe.
 Poderia analisar a fórmula como enfoque.
 Ou enfocar a análise como fórmula.
 É evidente que só não o fez em respeito à simplicidade de estilo.
 Tópico avulso sobre imodéstia e pequenos disparates do eremita preferido dos Mamonas Assassinas.
 Vaidade todos vocês têm, não é mesmo? Mas há vaidades doentias, como as das pessoas capazes de acordar às três da manhã para falar dois minutos num programa de tevê visto por exatamente mais ou menos ninguém. Há vaidades patológicas, como as de Madonas e Reis do Roque, só possíveis em sociedades que criaram multidões patológicas.

Mas há vaidades indescritíveis. Vaidade em estado puro, sem retoque nem disfarce, tão vaidade que o vaidoso nem percebe que tem, pois tudo que infla sua vaidade é para ele coisa absolutamente natural. Quem é supremamente vaidoso, se acha sempre supremamente modesto. Esse ser existe materializado em FhC (superlativo de PhD). Um umbigo delirante.
 O que me impressiona é que esse homem, que escreve mal — se aquilo é escrever bem o meu poodle é bicicleta — e fala pessimamente — seu falar é absolutamente vazio, as frases se contradizem entre si, quando uma frase não se contradiz nela mesma, é considerado o maior sociólogo brasileiro.

Nunca vi nada que ele fizesse (Dependência e Desenvolvimento na América Latina, livro que o elevou à glória, é apenas um Brejal dos Guajas, mais acadêmico) e dissesse que não fosse tolice primária. “Também tenho um pé na cozinha”, “(os brasileiros) são todos caipiras”, “(os aposentados) são uns vagabundos”, “(o Congresso) precisa de uma assepsia”, “Ser rico é muito chato”, “Todos os trabalhadores deviam fazer checape”, “Não vou transformar isso (a moratória de Itamar) num fato político”. “Isso (a violência, chamada de Poder Paralelo) é uma anomia”. E por aí vai. Pra não lembrar o vergonhoso passado, quando sentou na cadeira da prefeitura de São Paulo, antes de ser derrotado por Jânio Quadros, segundo ele “um fantasma que não mete mais medo a ninguém”.

Eleito prefeito, no dia seguinte Jânio Quadros desinfetou a cadeira com uma bomba de Flit.
 E, sempre que aproxima mais o país do abismo no qual, segundo a retórica política, o Brasil vive, esse FhC (superlativo de PhD) corre à televisão e deita a fala do trono, com a convicção de que, mais do que nunca, foi ele, the king of the black sweetmeat made of coconuts (o rei da cocada preta), quem conduziu o Brasil à salvação definitiva e à glória eterna. E que todos querem ouvi-lo mais uma vez no Hosana e na Aleluia. Haja!

Millôr Fernandes

Reproduzido a partir do VioMundo e Esquerdopata.

A charge de Ziraldo está reproduzida no blog do Rodrigo Vianna, O Escrivinhador.

07 setembro 2013

Hino Popular Brasileiro

Mais conhecido como Aquarela do Brasil.

Composto por Ary Barroso em 1939, cantado pela primeira vez por Francisco Alves, a música ganhou versões de Carmem Miranda, Elis Regina, João Gilberto e Gal Costa. No exterior, foi executado por Xavier Cougat, Frank Sinatra, Ray Conniff e no desenho animado da Disney, com o Zé Carioca.

Ouça "Aquarela do Brasil" (programa Curta Musical, da Rádio Senado).

A música é exemplo do chamado samba-exaltação, o que rendeu a Barroso acusações de fazer apologia não do Brasil, mas do presidente Getúlio Vargas, que governou o país ditatorialmente durante o regime apelidado de "Estado Novo". As críticas a Ary caíram por terra e foram enterradas pelo passado. Basta ver que a Aquarela de Ary Barroso tornou-se um verdadeiro hino popular do Brasil.

Versão original, com Francisco Alves (1939)



Letra:
Brasil
Meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingar
Ô Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim

Ah, abre a cortina do passado
Tira a Mãe Preta,do serrado
Bota o Rei Congo, no congado
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim

Deixa, cantar de novo o trovador
A merencória luz da lua
Toda canção do meu amor
Quero ver a Sa Dona, caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim

Brasil
Terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
Ô Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor

Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim
Oh, esse coqueiro que dá coco
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim

Ah, ouve essas fontes murmurantes
Aonde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Ah, este Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil, brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim

Fonte: Vagalume


Biografia de Ary Barroso (1903-1964)


Fonte: Livro 100 Brasileiros (2004) 
O compositor mais representativo da era do rádio e o maior nome do samba-exaltação teve um começo difícil. Filho de um advogado e cantor de modinhas, Ary Barroso ficou órfão aos 7 anos e foi criado pelas tias-avós, que queriam fazê-lo pianista de concerto, obrigando o menino a praticar três horas por dia. Aos 12, em 1915, já trabalhava no cinema de Ubá (MG), acompanhando ao piano os filmes mudos exibidos. Aos 18, ganhou uma pequena herança e partiu da cidadezinha mineira para estudar Direito no Rio de Janeiro. Levou nove anos para se formar e nunca exerceu a profissão. Para se sustentar, tocava piano em cinemas e cabarés, na época em que o teatro musical estava em ascensão. Acabou seduzido pela boemia carioca.

Em 1930, Ary ganhou o primeiro prêmio de concurso carnavalesco com a marcha Dá Nela. Nos anos seguintes, compôs Vamos deixar de intimidade, Faceira, Rancho Fundo (com letra de Lamartine Babo) e Camisa Amarela. Depois veio a fase em que recorreu ao pitoresco e ao sentimento patriótico, em composições de grande sucesso no exterior, como Na Baixa do Sapateiro e No Tabuleiro da Baiana.
Biblioteca Nacional Ary Barroso (1903-1964), foi um dos maiores compositores de MPB e escreveu músicas que se tornaram eternas Ampliar

    Ary Barroso (1903-1964), foi um dos maiores compositores de MPB e escreveu músicas que se tornaram eternas

Composto em 1939, em pouco tempo o samba-exaltação, Aquarela do Brasil passou a figurar como hino nacional alternativo. Foi gravado centenas de vezes em todo o mundo, a primeira delas, na voz de Francisco Alves, com arranjo de Radamés Gnattali.

Em 1933, Ary conseguiu emprego na Rádio Philips e descobriu sua vocação para comandar programas de sucesso, o que faria mais tarde também na televisão, com Calouros em Desfile e Encontro com Ary. Intransigente com quem tivesse gosto ou opinião musical diferentes dos seus, seus programas revelaram nomes que fariam história na música brasileira, como Lúcio Alves, Luiz Gonzaga, Elza Soares e Elizeth Cardoso.

Ary era temido pelos calouros, de quem exigia que só cantassem músicas nacionais, a única exceção foi Dolores Duran, que cantou em inglês na Hora do Calouro. Ainda na década de 30, Ary Barroso começou a trabalhar como locutor esportivo, profissão até então enfadonha e burocrática, que nunca mais foi a mesma depois que Ary deu um tom emocional à transmissão dos jogos, sem disfarçar sua torcida pelo Flamengo, cujos gols comemorava, no ar, com uma gaitinha de boca.

Em 1944, visitou os Estados Unidos, musicando o filme Você já foi à Bahia?, de Walt Disney, o que lhe valeu o diploma da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood. Como compositor, retornou, nos últimos anos, aos temas familiares e cotidianos de sua primeira fase, em sambas como, Folha Morta, Ocultei e Risque. Em 1955, junto com Heitor Villa-Lobos, recebeu a Ordem Nacional do Mérito. Ao todo, Ary Barroso compôs 264 canções.


 
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05 setembro 2013

Um presidente da Câmara para entrar para a História

Fosse Henrique Eduardo Alves um time de futebol, ele hoje estaria na zona de rebaixamento. A comparação foi feita por um deputado no dia seguinte à fatídica sessão de 28 de agosto, quando a cassação de Natan Donadon, tida como líquida e certa, simplesmente não aconteceu. Segundo o próprio presidente da Câmara, em seus 40 anos de parlamento, jamais viu algo parecido. Muitos parlamentares pensam da mesma forma. Não se lembram de uma presidência tão sofrível.

Leia o artigo na Carta Maior