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03 maio 2013

Eduardo Campos começa a perceber que ser candidato a presidente é um pouco mais difícil do que parece

Tem dificuldades para se viabilizar dentro de seu próprio partido, o PSB.
Dando tiro para tudo o que é lado, procurou de José Fortunati, cuja prefeitura (Porto Alegre-RS) foi recém envolvida em mais um escândalo, ao pastor Silas Malafaia.


Governador sofre reveses dentro e fora do PSB Cristian Klein * 

O governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), no plano de chegar à Presidência, tem se mexido para todos os lados em busca de uma brecha para se afirmar em meio a uma disputa há tempos polarizada entre o PT e o PSDB. Campos repete a presidente Dilma Rousseff, que já tinha anunciado o projeto de destinar 100% dos recursos dos royalties do petróleo para a educação. O governador seguiu na esteira e decidiu fazer o mesmo com as verbas de Pernambuco.
Eduardo Campos vasculha em cada canto oportunidades de se contrapor aos petistas, dos quais ainda é oficialmente um aliado mas, na prática, comporta-se como adversário. Na propaganda do PSB, dia 25, o governador deixou evidente que partirá para o confronto. A peça de marketing, no entanto, apenas reforça todos os sinais de separação já dados.
Na corrida municipal, no ano passado, o PSB rompeu com o PT em várias cidades e capitais importantes, como Recife e Fortaleza. Neste ano, no Congresso, lançou o deputado Júlio Delgado (MG) à presidência da Câmara e, no Senado, retirou o apoio ao eleito Renan Calheiros (PMDB-AL), da base governista. Nos projetos em tramitação, marca posição contrária mesmo quando um ministro do próprio partido está envolvido na aprovação da MP dos Portos. Na proposta que dificulta a criação de novos partidos, o PSB recorreu ao Supremo Tribunal Federal contra o governo e em defesa de potenciais parceiros em 2014, como o recém-fundido Mobilização Democrática (MD) e a ex-ministra Marina Silva, que está armando sua Rede.
Na arena governamental, Eduardo Campos ainda consegue amealhar alguns apoios. Mas, na arena eleitoral, a tarefa tem sido muito mais difícil. Se na disputa municipal, em 2012, havia milhares de alternativas e prefeituras em jogo, sua tentativa de montar palanques estaduais nas 27 unidades da Federação tem sido frustrada pela enorme falta de opções.
Com o PMDB mais fortemente aliado ao PT, e o chega-pra-lá do PSDB - que também terá candidato presidencial, o senador mineiro Aécio Neves - sobra pouca margem de manobra. Eduardo Campos tem peregrinado pelo país fazendo convites e até agora, ao que tudo indica, sem sucesso.
Já assediou nomes do PT, como o senador Lindbergh Farias, do Rio de Janeiro; do PSDB, a exemplo do prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgílio; e no PDT buscou o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, que teria recusado a ser seu vice na chapa presidencial. No PMDB do Rio, flerta com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. A dificuldade é tamanha que o PSB procura filiar gente fora da política e de perfis tão diferentes como a ex-corregedora do Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon, que também se esquivou de concorrer na Bahia, e o pastor midiático Silas Malafaia, no Rio. Nesta mesma estratégia, em julho de 2011, o PSB "contratou" o empresário José Batista Júnior, o Júnior Friboi, que seria o seu candidato ao governo de Goiás. Mas o partido acaba de perdê-lo para o PMDB. A transferência está marcada para o dia 15 e tem o dedo dos petistas, que exigiram a saída de Júnior da sigla de Eduardo Campos, já que o BNDES possui participação de 30% nas empresas do grupo JBS-Friboi.
Se o governador encontra problemas até em Estados menores, a situação é mais dramática nos grandes colégios eleitorais. Em São Paulo, a melhor perspectiva é de um palanque dividido, no qual o governador tucano Geraldo Alckmin o apoiaria, além de Aécio. Em Minas Gerais, onde o PSB tem o prefeito da capital Belo Horizonte, Marcio Lacerda já disse que não quer concorrer. No Rio, atira-se para todos os lados: Lindbergh, Beltrame, Malafaia. No Paraná, ou divide outro palanque com Aécio ou vai com o deputado federal Rubens Bueno, do MD - um azarão entre os dois principais pré-candidatos: o governador tucano Beto Richa e a ministra Gleisi Hoffmann, do PT.
O cenário mostra como a polarização da disputa nacional desce para os Estados e não tem facilitado o surgimento de uma candidatura de terceira via. Marina Silva, em 2010, conseguiu um bom desempenho, quase 20% dos votos, mas se viabilizou por fora, com um discurso de aura não política, que representou o protesto contra os partidos tradicionais. Eduardo Campos não tem esse perfil e vem de dentro do sistema. Disputa a mesma raia do PT e do PSDB, já consolidados.
Para piorar, o líder do PSB encontra resistência dentro do partido. São contrários à candidatura o governador do Ceará Cid Gomes e o prefeito Alexandre Cardoso, de Duque de Caxias (RJ), terceira maior cidade da sigla na região Sul/Sudeste. Ambos tendem a se desfiliar.
Diante de tantos desafios, destinar 100% dos recursos dos royalties de Pernambuco para a educação acaba sendo a parte mais fácil que Campos pode realizar.

* Matéria publicada no Valor, 03/05/2013.


 
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